O ponto fraco dos ditadores

Nas democracias, se um governo é impopular, políticos adversários conseguem ser eleitos com a promessa de livrar-se dele e dos seus malefícios.

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Está aberta a caixa de Pandora. Do seu interior saíram todos os males como guerras, doenças, mentira, ódio, entre outras catástrofes. Não será fácil fechá-la no Oriente Médio, onde o primeiro-ministro, Benjamin Netanyahu, precisa da guerra para se manter no poder. Ele sabe que, se perder o cargo, terá de responder à Justiça inúmeras acusações de corrupção e muito, provavelmente, será preso.

Diferente não é a situação da guerra da Rússia contra a Ucrânia, onde já morreram 70 mil soldados russos e igual número de ucranianos, além de milhares de feridos em ambos os lados. Vladimir Putin não aceita ser vencido, pois sabe que isso significará tamanha humilhação, que afetará sua imagem no mundo inteiro. Ele gostaria de encerrar o conflito, mas não sabe como fazê-lo sem ser obrigado a devolver as terras conquistadas da Ucrânia, o que faria parte de qualquer acordo para uma negociação de paz. Portanto, até agora nenhuma solução à vista.

Tanto na Ucrânia quanto no Oriente Médio, as populações estão submetidas a uma punição coletiva. Os números são aterradores. Oficialmente, sob ataques de Israel morreram na faixa de Gaza mais de 41.200 palestinos, milhares ficaram feridos e cerca de meio milhão de habitantes saiu do território, abandonando casas e haveres.

A revista médica Lancet estima que 186 mil ou mais mortes em Gaza podem ser atribuídas à guerra, pois ainda há muitos palestinos sob os escombros. Relatório não classificado da inteligência dos Estados Unidos calcula entre 100 mil e 300 mil os mortos nos atuais conflitos. Nessa conta não entram os civis libaneses nem os militares das forças armadas de Israel, Gaza, Líbano, Ucrânia e Rússia.

Sabemos que a violência é um ato de fraqueza. Diante da antiga ideia do que significa ser líder, o novo consiste em conseguir, à custa de muitos esforços e contra a fortaleza dos privilégios, que as lideranças aceitem a obrigação de baixar a cabeça e respeitar suas populações. É preciso fazê-las entender que o exibicionismo é pura vaidade. Temos que lhes mostrar que a dignidade consiste em se render e prestar contas dos seus atos malévolos.

Infelizmente, ditadores não podem ser removidos do poder pelo voto. Nas democracias, se um governo é impopular, políticos adversários conseguem ser eleitos com a promessa de livrar-se deles e dos seus malefícios. Muitas páginas já foram escritas sobre como morrem as democracias, mas raras ensinam como acabar com as ditaduras.

Estudo conduzido por uma pesquisadora norte-americana mostrou ser necessário 3,5% da população protestarem para conseguir mudar o regime do seu país. Já a cientista política de Harvard, Érica Chenoweth, que se dedica a estudar movimentos de resistência civil não violentos, sustenta que os opositores ao regime teriam duas vezes mais chances de sucesso se fossem pacíficos.

A violência reduz a base de apoio de um movimento, enquanto muito mais pessoas se unem ativamente nos protestos pacíficos, que oferecem menos risco, requerem menos capacidade física e nenhum treinamento.

A suposta invulnerabilidade das ditaduras remete ao mito do guerreiro Aquiles, que, segundo a lenda, não poderia ser ferido, atacado ou morto. Para torná-lo imortal, sua mãe, a ninfa Telís, o havia mergulhado nas águas mágicas do Rio Estige, um dos que banham o inferno. Antes de imergi-lo, a ninfa o segurou por um dos seus calcanhares, única parte do seu corpo a não receber a proteção da invulnerabilidade do rio, ficando, por isso, com esse ponto fraco.

O herói das Ilíadas de Homero sentia-se todo poderoso e enfrentava com destemor seus inimigos, que não conseguiam atingi-lo. Até que um dia, na Batalha de Tróia, informado sobre o ponto frágil de Aquiles, Paris, filho do rei da Etiópia, disparou uma fecha envenenada contra seu calcanhar e o matou. Quais serão os pontos fracos de Netanyahu e Putin?

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