Sem-abrigo retirados da zona da Igreja dos Anjos e hospedados em hostels por “tempo indeterminado”

Mais de 50 pessoas de várias nacionalidades foram realojadas “por tempo indeterminado”. Custos ficam a cargo da Câmara de Lisboa. Moedas diz que país não pode ter políticas de “portas escancaradas”.

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Tendas das pessoas em situação de sem-abrigo que pernoitavam na zona da Igreja dos Anjos, em Arroios, Lisboa Rui Gaudêncio
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As pessoas em situação de sem-abrigo que estavam a viver em tendas junto à Igreja dos Anjos, na freguesia lisboeta de Arroios, foram retiradas na noite desta sexta-feira, 4 de Outubro, e hospedadas em vários tipos de alojamentos, como pensões e hostels, nas redondezas. A informação foi avançada este sábado, 5 de Outubro, pelo próprio presidente da Câmara Municipal de Lisboa (CML), Carlos Moedas, durante o discurso de abertura das comemorações do 114º aniversário da Implantação da República, na Praça do Município, em Lisboa.

Moedas anunciou ter conseguido "resolver uma das situações mais graves" dos três anos que já leva à frente da câmara da capital. A retirada destas pessoas que viviam no Jardim António Feijó foi uma acção conjunta entre a Câmara Municipal de Lisboa, a Junta de Freguesia de Arroios, a Polícia Municipal e vários serviços sociais e locais.

"Ontem conseguimos arranjar um tecto para todas as pessoas que estavam na Igreja dos Anjos, em Arroios, graças ao trabalho de tantos, tantos trabalhadores. Conseguimos, a cada pessoa, tratá-la humanamente, dar-lhe esse espaço, essa dignidade e um tecto", referiu o presidente da autarquia.

Na operação ocorrida na noite de sexta-feira, foram realojadas 56 pessoas, avançou fonte da CML. Fonte da Junta de Freguesia de Arroios confirmou ao PÚBLICO que cerca de 100 pessoas já foram colocadas em alojamentos "diversos e tendo em conta as suas características", sendo esta uma estimativa que junta os números da operação de sexta-feira e uma anterior semelhante.

A solução será aplicada "por tempo indeterminado" e os custos ficarão a cargo da Câmara de Lisboa, explicou a mesma fonte da Junta sem avançar mais detalhes. Os realojados continuarão a ser acompanhados pelas autoridades locais, garantiu a fonte.

Como dava conta uma reportagem do PÚBLICO em Abril, pernoitavam no jardim da Igreja dos Anjos dezenas de pessoas de várias nacionalidades, principalmente do Senegal e da Gâmbia. O grupo tinha pessoas dos 18 aos 45 anos, mas a maior parte era jovem. Todas estavam a dormir em tendas no largo da igreja ou num passeio ali próximo. Quando chegaram a Portugal ficaram neste local porque, em frente, está uma loja da Agência para a Integração, Migrações e Asilo (AIMA), que esperavam poder regularizar a sua situação.

A segurança foi um dos temas abordados neste sábado por Carlos Moedas, que aproveitou a presença do primeiro-ministro, Luís Montenegro, para reiterar a necessidade de reforço da Polícia Municipal de Lisboa. "Lisboa e Portugal têm na segurança o seu maior activo e não o podemos perder. Por isso é que pedi ao anterior Governo, e volto a fazê-lo agora, mais 200 agentes para a Polícia Municipal de Lisboa. Mais competência para as polícias municipais é mais segurança para as cidades", afirmou.

Moedas referiu que Portugal assiste, neste momento, a "manifestações de drama humanitário que nos envergonham a todos como país" e que o país precisa de imigração controlada e não de políticas de "portas escancaradas".

"Precisamos de imigração, precisamos de imigrantes, mas não podemos aceitar uma política de portas escancaradas que conduz à desordem, que dá espaço a redes criminosas, que multiplica casos de escravatura moderna. E se hoje temos esse claro problema de pessoas em situação de sem-abrigo no país, deve-se também a essa irresponsabilidade de lidar com a imigração", referiu o responsável.

E continuou: "Esta irresponsabilidade aumenta a desconfiança na nossa sociedade e alimenta os extremismos de um lado e do outro. Precisamos de uma política de imigração que valorize, que traga dignidade a quem chega ao nosso país e que assegura que quem chega valoriza o país que o acolhe. Queremos acolher, mas também esperamos que quem vem se queira integrar na nossa cultura aberta, de cidade aberta, nos nossos valores europeus tão profundos".

Entretanto, a Junta de Freguesia de Arroios já tinha anunciado que o Jardim António Feijó iria ser alvo de obras de requalificação. Será construída uma vedação que permitirá fechar o jardim à noite, "recuperando uma característica antiga e reforçando a segurança", segundo se lê na página da junta na Internet.

Notícia alterada às 17h04 com clarificação sobre o número de realojados.

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