Israel expande operações no Líbano e pondera atacar instalações petrolíferas do Irão
Exército libanês responde pela primeira vez a fogo das forças israelitas, depois da morte de dois dos seus soldados. Irão diz que “fase de autocontenção unilateral terminou”.
Com um aviso de evacuação para mais de 20 localidades no Sul do Líbano, incluindo uma capital de província, Israel preparava-se nesta quinta-feira para expandir a área geográfica da operação terrestre contra o Hezbollah, iniciada na segunda-feira. O Exército israelita ordenou à população que abandonasse Nabatieh e outras comunidades a norte do rio Litani, o limite da zona fronteiriça estabelecida por uma resolução do Conselho de Segurança da ONU após a guerra de 2006.
No que se está rapidamente a transformar numa invasão, ainda que não declarada, e que já causou a deslocação de mais de 1,2 milhões de pessoas, o Exército libanês respondeu pela primeira vez, também nesta quinta-feira, ao fogo das forças israelitas, depois de dois dos seus soldados terem morrido em incidentes separados no sul do país. As Forças Armadas libanesas informaram que um dos seus soldados foi morto num ataque “do inimigo israelita” a uma instalação militar em Bint Jbeil. “Os membros do centro (militar) responderam às fontes do tiroteio”, disseram as autoridades militares libanesas numa publicação na rede social X.
Horas antes, o Exército libanês, que até agora se mantivera à margem dos combates, reagrupando em posições defensivas mais afastadas da fronteira, já havia informado que outro dos seus soldados morreu e outro ficou ferido num ataque israelita “enquanto realizava uma missão de evacuação e resgate” com a participação da Cruz Vermelha libanesa na cidade de Marjayun.
A capital libanesa continuou também a ser alvo dos ataques israelitas. No subúrbio sul de Beirute, conhecido como Dahiye, um bairro denso onde o Hezbollah tem forte presença, foram ouvidas várias explosões nesta quinta-feira. Antes, durante a noite, Israel bombardeou o centro da cidade num ataque que, segundo o Ministério da Saúde libanês, matou nove pessoas.
Testemunhas ouvidas pela Reuters relataram ter ouvido uma enorme explosão, que teve como alvo um edifício no bairro de Bachoura, a algumas centenas de metros do Parlamento, o mais próximo que um ataque israelita chegou do centro da capital do Líbano. Ainda segundo a Reuters, um grupo de defesa civil ligado ao Hezbollah disse que sete dos seus funcionários, incluindo dois médicos, tinham sido mortos no ataque.
Nesta quinta-feira, o ministro libanês da Saúde, Firass Abiad, informou que já morreram cerca de duas mil pessoas, incluindo 127 crianças, e 9384 ficaram feridas desde o início dos ataques israelitas ao Líbano no último ano.
Resposta ao Irão
Ao mesmo tempo que Israel alarga as operações militares no Sul do Líbano, o Governo liderado por Benjamin Netanyahu continua a ponderar as suas opções para responder ao ataque do Irão. A República Islâmica lançou na terça-feira o seu maior ataque de sempre contra Israel, no qual terá utilizado perto de 200 mísseis, no que disse ser a retaliação pelo assassínio de altos dirigentes do Hamas e do Hezbollah e pelas suas operações em Gaza e no Líbano.
Na terça-feira à noite, logo a seguir ao ataque, o primeiro-ministro israelita disse que o Irão iria “pagar” pelo seu “grande erro”, ao mesmo tempo que altas patentes das Forças de Defesa de Israel (IDF) garantiam estar prontas para atacar em qualquer local do Médio Oriente.
Começaram também as especulações sobre os alvos e a escala da resposta israelita, incluindo instalações nucleares iranianas ou da indústria petrolífera. Nesta quinta-feira, o Presidente dos EUA, Joe Biden, afirmou que estava em conversações com Israel sobre um eventual ataque a instalações petrolíferas, uma declaração que fez imediatamente disparar o preço do barril de petróleo nos mercados internacionais.
Ainda assim, o líder norte-americano garantiu que o possível ataque de Israel não estaria para breve. “Não vai acontecer nada hoje. Falaremos sobre isso mais tarde”, acrescentou Biden.
Do lado do Irão, uma fonte iraniana disse à Al Jazeera que Teerão enviou uma mensagem aos EUA, através do Qatar, dizendo que “a fase de autocontenção unilateral terminou”. Sublinhando que “o Irão não quer uma guerra regional”, a mesma fonte advertiu que qualquer ataque israelita seria alvo de uma “resposta não convencional”, que poderia mesmo atingir as infra-estruturas de Israel.
Oficialmente, o Presidente iraniano, Masoud Pezeshkian, afirmou, num discurso proferido durante um evento do Conselho de Cooperação do Golfo, em Doha, que o Irão está pronto a responder e alertou contra o “silêncio” face ao “belicismo” de Israel.
“Qualquer tipo de ataque militar, acto terrorista ou ultrapassagem das nossas linhas vermelhas será objecto de uma resposta decisiva das nossas forças armadas”, garantiu Pezeshkian.
Por sua vez, o emir do Qatar, Tamim bin Hamad Al-Thani, apelou a esforços sérios de cessar-fogo para travar a “agressão” de Israel no Líbano. O que está a acontecer no Médio Oriente é um “genocídio colectivo”, afirmou, acrescentando que o seu país sempre alertou para a “impunidade” de Israel.