John Amos (1939-2024), um pai lendário na televisão e no cinema
O actor de Good Times, Raízes e Um Príncipe em Nova Iorque, entre muitos outros papéis, tinha 84 anos. Morreu em Agosto, mas a sua morte só agora foi anunciada.
Nos anos 1970, a cara, o porte e a presença de John Amos conseguiram impôr-se numa televisão maioritariamente branca. O actor, que antes tinha jogado futebol americano e sido também argumentista de comédia, morreu de causas naturais a 21 de Agosto, notícia que apenas esta terça-feira, mais de um mês depois, foi divulgada pela família. Tinha 84 anos. "Muitos fãs consideram-no o seu pai televisivo. Ele viveu uma boa vida. O seu legado vai continuar a viver nos seus extraordinários trabalhos na televisão e no cinema como actor", pode ler-se num comunicado do filho, K.C. Amos, citado pela Hollywood Reporter. Aliás, America's Dad é o nome de um vindouro documentário, produzido pelo próprio e pela família, acerca da sua história.
Amos nasceu no fim de 1939, em Newark, Nova Jérsia, filho de um motorista de um tractor-reboque e de uma empregada doméstica que depois se tornou nutricionista. O actor, capaz, em igual medida, do ar sério mais austero e do sorriso mais caloroso, algo que o tornava ideal para fazer de pai, fez-se notar primeiro nas sitcoms. Tudo começou com The Mary Tyler Moore Show, em 1970, série co-criada por James L. Brooks. Fazia de meteorologista televisivo. Só tinha um crédito antes, como membro do elenco do programa de variedades cómicas The Tim Conway Comedy Hour.
Seguiu-se, já como protagonista, Good Times, produção de Norman Lear onde era o patriarca de uma família negra, algo raro na altura. No fim da década, no campo do drama, foi nomeado para um Emmy pelo fenómeno Raízes, minissérie de Alex Haley na qual fazia da versão mais velha do protagonista, o escravo Kunta Kinte. Já entre os anos 1990 e 2000, apareceu em Os Homens do Presidente, de Aaron Sorkin, e The District. Mais recentemente, gravou uma participação a fazer dele próprio no spin-off de Defesa à Medida, Suits: L.A., série ainda por se estrear.
Good Times, criada por Eric Monte e Mike Evans como spin-off de Maude, que já de si era um spin-off de Uma Família às Direitas, não foi uma produção pacífica, apesar do seu sucesso e de ter quebrado tabus e trazido temas complexos para a comédia televisiva, como várias séries de Lear. Era, afinal, a primeira sitcom a centrar-se numa família nuclear afro-americana. Mas muitos se queixaram dos estereótipos que a série propagava: os Pantera Negra chegaram a ir aos escritórios de Lear protestar contra a forma como retratava a pobreza negra. O próprio Amos queixava-se dos estereótipos nas histórias e da falta de representatividade entre a equipa de argumentistas, composta apenas por pessoas brancas. Acabou por ser despedido da série e a sua personagem foi morta num acidente de viação anunciado no primeiro episódio da quarta temporada. Chegou à sexta, já sem ele.
Amos foi ainda pai em Um Príncipe em Nova Iorque, de John Landis, um papel marcante numa das comédias mais amadas dos anos 1980, em que Eddie Murphy fazia de um príncipe de um país africano ficcional que ia para Nova Iorque procurar noiva, fingindo não ter dinheiro. Apareceu também na sequela de 2021, O Príncipe Volta a Nova Iorque, de Craig Brewer. Cleo McDowell, a sua personagem, era o patrão da personagem de Murphy num restaurante de fast food muito parecido com o McDonald's – a começar pelo nome: McDowell's. Era, também, pai do interesse amoroso da personagem de Murphy. Mais de uma década antes, tinha aparecido num famoso anúncio do McDonald's.
Pôde ser visto ainda em Stallone - Prisioneiro, de John Flynn, e Assalto ao Aeroporto, de Renny Harlin. Ao longo de uma carreira de actor que continuou a trabalhar até ao fim e englobou vários géneros, trabalhou em filmes de realizadores como Melvin Van Peebles, John Badham, Sidney Poitier, Dario Argento, Russell Mulcahy, Cheryl Dunye ou Tyler Perry. Apareceu ainda nas estreias na realização de John Turturro e Ice Cube, em Diamante Bruto, dos irmãos Josh e Benny Safdie. Além dos ecrãs e do futebol americano, estudou Sociologia para ser assistente social e passou também pelo boxe e os palcos da Broadway.