BE e PCP criticam falta de clareza do PS e falam em eleições antecipadas
BE desafiou o secretário-geral do PS a ser mais claro sobre a posição dos socialistas e a parar de “alimentar a ambiguidade sobre este Orçamento”. PCP fala numa “gritaria” superior à realidade.
PCP e BE querem que o PS clarifique a sua posição acerca do Orçamento do Estado para 2025 e argumentam que se as eleições antecipadas no caso do chumbo da proposta orçamental foram a solução escolhida pelo Presidente da República há três anos então, agora, devem ser a opção em cima da mesa no caso de novo chumbo.
Na manifestação em Lisboa pela habitação, organizada pela plataforma Casa para Viver, os dois líderes partidários deixaram recados ao antigo parceiro da "geringonça" e insistiram que um mau orçamento é uma má opção para o país.
Enquanto a coordenadora do BE pede clareza ao PS na rejeição do Orçamento do Estado, defendendo que é "o Governo minoritário de direita" que tem de encontrar condições para o viabilizar, sem excluir a realização de eleições antecipadas, o secretário-geral do PCP afirmou que "a vida real das pessoas ficou de fora" das negociações entre PS e Governo sobre Orçamento do Estado e que "o nível de gritaria [entre o PS e o Governo] é muito superior à realidade concreta".
Sobre o encontro de sexta-feira entre o primeiro-ministro e o líder do PS para discutir o Orçamento do Estado para 2025, Mariana Mortágua considerou que "Pedro Nuno Santos alimentou a ambiguidade sobre este orçamento e continua a alimentar a ambiguidade sobre este orçamento", pedindo "clareza neste momento" e "uma alternativa ao Governo da direita".
Chumbo é igual a eleições? PCP e BE dizem que sim
Questionada sobre se essa clarificação se faz com recurso a eleições antecipadas, a coordenadora do BE começou por responder que a ideia de que o "chumbo" de um orçamento de um governo minoritário implica eleições foi "inaugurada pelo Presidente da República", considerando que este foi talvez "o pior contributo que Marcelo Rebelo de Sousa deu à democracia nos últimos anos".
"Clareza implica nós percebermos que o orçamento e a governação é má e dizermos claramente que não deve haver orçamento. Um mau orçamento é mau para o país", afirmou.
Perante a insistência dos jornalistas em perceber como se faz essa clarificação, admitiu que as eleições "são uma das consequências possíveis de um chumbo de orçamento". "E se elas vierem a acontecer, nós cá estaremos para as eleições. E esse é obviamente o momento também de clarificação política, de opções que as pessoas vão ter de fazer", afirmou.
Para Mariana Mortágua, o que não pode acontecer é o Governo "pedir que seja um partido à esquerda a viabilizar um orçamento de direita". "Quem viabiliza um orçamento do Governo de direita não é uma alternativa a um governo de direita, não faz oposição ao Governo de direita porque o vai sustentar durante este ano e durante o próximo, como sabemos", alertou, reiterando o pedido de clareza ao PS.
Também Paulo Raimundo reiterou a posição que tem exprimido nos últimos dias. "Fomos confrontados com essa situação há dois anos. E há dois anos aquilo que nós dissemos foi que, independentemente do Governo, do orçamento ter sido chumbado, a única solução não era a solução imediata de eleições. O Presidente da República, na altura, entendeu que o único caminho era esse", disse. Por isso, "perante factos iguais, muito semelhantes e com estruturas muito semelhantes", o líder do PCP considerou que Marcelo Rebelo de Sousa "dificilmente encontrará razões para que não faça aquilo que fez há três anos", ou seja, convocar legislativas antecipadas.
Questionado sobre se há divergências artificiais entre o Governo e o PS, respondeu: "O que eu acho é que o nível de gritaria e de adjectivação é muito superior à realidade concreta. É isso é que me parece". "A vida das pessoas ficou mais uma vez de fora", lamentou.
Contraproposta na próxima semana
O primeiro-ministro, Luís Montenegro, e o secretário-geral do PS, Pedro Nuno Santos, reuniram-se pela primeira vez na sexta-feira para negociar o Orçamento do Estado para 2025, um encontro que se realizou na residência oficial do primeiro-ministro, em São Bento, e durou cerca de hora e meia, terminando com um aperto de mão público entre os dois.
Depois do encontro, o secretário-geral do PS afirmou que recusa um Orçamento do Estado com as alterações ao IRS Jovem e IRC pretendidas pelo Governo ou qualquer modelação dessas medidas.
Pouco depois, numa intervenção na VII Cimeira do Turismo em Mafra, Luís Montenegro classificou de "radical e inflexível" a proposta de Pedro Nuno Santos, mas prometeu que, na próxima semana, irá apresentar uma contraproposta aos socialistas numa "tentativa de aproximar posições".