Precisamos mesmo de nos unir
Uma celebração da empatia, conexão e diversidade humana. Pessoas de todo o mundo, uni-vos!
Depois de Todos Contam, Kristin Roskifte volta a pôr-nos a pensar nas diferenças e similitudes entre as pessoas, independentemente da sua origem geográfica, social ou religiosa. Que isso não nos afaste ou provoque conflitos dramáticos, como aqueles a que hoje assistimos. Precisamos mesmo de nos unir, local e globalmente.
Neste livro, Todos Viajam, mantém-se a lógica do anterior, a que também podemos chamar “fórmula”. Funciona assim: começa com uma paisagem sem humanos, em que se lê apenas “ninguém”; na página seguinte, uma criança sozinha no seu quarto (o mesmo miúdo, o mesmo pijama, mas menos brinquedos pelo chão): “Uma pessoa faz girar o seu globo e sonha visitar todos os sítios onde pousa o dedo. Pergunta-se como será viver num lugar completamente diferente” (vê-se o mesmo globo do livro anterior, mas agora mais de perto); vira-se a página e acrescenta-se uma pessoa: “Duas pessoas lêem um livro juntas. Entram num mundo novo. Uma delas pensa: ‘Não há na vida nada melhor do que isto!’”; a seguir, mais um elemento: “Três pessoas sobem a uma árvore. Em breve, uma delas visitará familiares num país muito longínquo. Outra receia alguma coisa. E outra quer colher flores para dar à bisavó.”
Vão-se acumulando pessoas sem nome (só se sabe que o menino do quarto se chama Tomás) que o leitor tentará identificar nas páginas seguintes, num jogo de observação que também convida à descoberta de pormenores e elementos que transitam de uma página para a outra.
Sabemos ainda que há um barco à vela em todas as imagens e corações escondidos aqui e ali. Na ilustração da grande cidade, quando já se alcança o número 700, escondem-se letras do alfabeto em vários edifícios. Não são fáceis de encontrar. Tentem.
De novo, a autora norueguesa alia o raciocínio matemático à literacia. Não há aqui propriamente uma narrativa, mas um desenrolar de cenários e ideias com a viagem como denominador comum. Concretizada, ansiada ou apenas vivida na imaginação. O certo é que inclui toda a gente, mais uma vez.
Viagens felizes, sem-abrigo, deficiências e solidão
Número 38: “Trinta e oito pessoas numa floresta. Uma vai mostrar aos bisnetos as ruínas da casa da sua infância. Outra procura a chave do carro. Outra está a doar dinheiro a uma organização de ajuda humanitária.” Sem mais nada dizer, muito fica dito sobre os nossos tempos.
Número 68: “Sessenta e oito pessoas num avião. Em breve, estarão espalhadas por todo o mundo. Uma vai visitar a avó. Outra é médica. Outra vai dar uma palestra. Duas vão participar numa competição de bigodes. Outras duas estão a andar de avião pela primeira vez. Catorze estão a andar de avião pela última vez.” Nesta fase do livro, já se consegue descodificar quem é quem, mas continua a ser difícil. Tentem.
Se no geral aqui se remete para viagens felizes e se mantém o sentido de humor, também se fala de sem-abrigo, se mostram pessoas com deficiência e se invoca a tristeza de viver distante de quem se ama.
Número redondo, 10.000: “Dez mil pessoas reunidas numa celebração pública. Estão a festejar um feito importante que traz consigo a esperança de um futuro melhor para a humanidade e para toda a vida na Terra.” Quem dera.