Alone anuncia o primeiro álbum dos Cure em 16 anos, Songs of a Lost World
O single antecipa o 14.º álbum de estúdio da banda, a editar a 1 de Novembro. Inspirada em Dregs, poema de Ernest Dowson, canta a juventude perdida e a inevitabilidade da morte.
Em Dezembro de 1978, os The Cure anunciaram-se com um single inspirado no niilismo existencialista de Camus. Killing an arab era o seu título, O Estrangeiro a inspiração. Quatro décadas e meia depois, reencontramo-los após uma longa espera. Alone é o novo single e a inspiração veio de uma obra tardia do poeta decadentista inglês Ernest Dowson. A juventude perdida sem remissão, a inevitabilidade da morte. Where did it go?, desespera Robert Smith. É a primeira apresentação de Songs of a Lost World, álbum que, dia 1 de Novembro, porá fim a um hiato discográfico de 16 anos.
Ao longo de 46 anos, é certo que a banda nunca se separou. Ainda assim, longa tem sido a espera desde que, em 2008, os The Cure editaram 4:13 Dream, o 13.º álbum de originais da sua carreira. Tão longa que, na verdade, ultrapassa em duração o período clássico da banda, aquele que, avançando pelos anos 1980 e até 1992, ano de Wish e do single Friday, I’m in love, os firmou como marco estético e sonoro daquele tempo, rock gótico planante onde conviviam tanto uma consciência pop aguda (pintada a negro, naturalmente) como peças longas e envolventes – é o período dos maiores clássicos da sua discografia, como Pornography (1982), The Head on the Door (1985) ou o álbum duplo Kiss Me, Kiss Me, Kiss Me (1987).
Com edição prevista inicialmente para 2019, Songs of a Lost World foi vendo a sua edição adiada, chegando mesmo a baptizar uma digressão bem antes do seu lançamento. Entre Maio e Dezembro do ano passado, a banda apresentou na América do Norte e do Sul os seus Shows of a Lost World. Com a chegada de Alone, canção de abertura dos concertos desta última digressão, abre-se então caminho para o novo álbum, gravado nos Rockfield Studios, no País de Gales, pela formação actual dos Cure, onde, além de Robert Smith, encontramos Simon Gallup, o baixista histórico, Roger O’Donnell, que acompanha a banda desde 1987, Perry Bamonte (guitarrista, teclista), Jason Cooper (baterista) e Reeves Gabriels (guitarra).
No texto em que apresenta Alone, Robert Smith diz que a canção de sete minutos "desbloqueou" o álbum. “Assim que acabámos de a gravar, lembrei-me do poema Dregs, do poeta inglês Ernest Dowson. Foi nesse momento que percebi que a canção – e o álbum – eram reais”, explica a voz de Boys don’t cry.
Robert Smith, actualmente com 65 anos, perdeu os pais e o irmão mais velho durante o longo período de criação de Songs of a Lost World e já referiu que essas perdas moldaram o tom do álbum. Alone confirma-o. A sua voz surge quando o ambiente da canção, etéreo e gélido, já nos envolve há vários minutos. Primeiros versos: “This is the end of every song that we sing / the fire burned out to ash/ and stars grown dim with tears/ cold and afraid the ghosts/ of all that we’ve been”.