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A fotografia de rua de Gil Ribeiro é feita de felizes coincidências
Gil Ribeiro dispara sobretudo em Lisboa e expõe, em Alcântara, o melhor da street photography que produziu entre 2018 e 2024. A Series of Fortunate Events pode ser vista até 18 de Outubro.
Para Gil Ribeiro, primeiro veio o cinema — mais concretamente, a cinematografia, que se tornou na sua profissão — e só depois a fotografia. Foi durante uma viagem que fez ao Sri Lanka, em 2017, quando tinha já 36 anos e vivia na Alemanha, onde estudou, que o director de fotografia fez “realmente” os primeiros disparos, aqueles que lhe despertaram o interesse pela fotografia de rua. “Nessa altura, nem o termo ‘fotografia de rua’ me dizia alguma coisa”, confessa, em entrevista ao P3, a partir de Lisboa, onde reside. Quando mergulhou nas obras dos grandes mestres da arte do “momento decisivo”, os clássicos Henri Cartier-Bresson ou Harry Gruyaert, como refere a título e exemplo, deu início a uma “viagem pela fotografia” que se estende até ao presente.
Ao contrário do que acontece num set de cinema ou televisão, onde Gil habitualmente trabalha e onde é impossível escapar ao trabalho em equipa, o acto de fotografar é solitário, individual. “O fotógrafo é o seu próprio mestre”, sublinha, e isso é algo que agrada a Gil Ribeiro, que inaugurou, a 19 de Setembro, na Biblioteca de Alcântara, em Lisboa, a sua primeira exposição individual, com curadoria de Constanza Solórzano, que chamou de A Series of Fortunate Events (“Uma série de acontecimentos afortunados”, em tradução livre).
As 52 fotografias carregadas de cor e movimento que expõe em Alcântara — realizadas em Portugal, em Lisboa a maioria, e em vários países por onde passou entre 2018 e 2024, entre os quais Cabo Verde, Marrocos, Espanha, Itália, Alemanha — contêm felizes coincidências visuais que tornam a observação do quotidiano desses lugares num exercício de prazer visual.
O que são “acontecimentos afortunados”? “São vários elementos combinados”, responde. “A minha presença naquele local àquela hora, as pessoas ou animais que estão em meu redor, a luz que incide, ou a sombra… é a combinação de tudo isso, aliada à minha escolha de um ponto de vista, que forma a imagem final.” Chamam a atenção de Gil Ribeiro “a luz que bate num prédio” ou “a forma como uma pessoa está vestida”, “a combinação de cores” do que se apresenta diante de si. “É uma coisa muito instintiva”, conclui.
Em que momentos sentiu ter sido bafejado pela sorte? “Na fotografia em que aparece o logótipo da Auchan, por exemplo”, refere. “A caixa de correio e o logo fundiam-se na perfeição, daquela perspectiva.” Não considerando suficiente a coincidência de dois elementos estáticos, Gil esperou. “Não tive de esperar mais de dez minutos até aparecer uma mulher cuja roupa marcava na perfeição as manchas cromáticas no enquadramento. Foi sorte.” Mas nem tudo é sorte. “Na fotografia, é importante antecipar.” Gil fá-lo pacientemente até que todos os elementos se alinhem para o disparo perfeito.
As fotografias de rua do catalão Pau Buscató ou do fotógrafo da Magnum Photos Alex Webb, ou mesmo de Martin Parr, interessam especialmente ao fotógrafo português. Aprecia o trabalho de Buscató pelo humor que infunde às imagens, o de Webb pelo jogo entre camadas e elementos que enchem o enquadramento. Em todas as fotografias que Gil expõe até 18 de Outubro se sente a importância dessa inspiração – e de muita transpiração. “A sorte é dos audazes”, remata.