O bar Snob foi vendido ao grupo São Bento, mas “vai permanecer exactamente igual”

Inaugurado em 1964, o Snob, bar-restaurante clássico do Bairro Alto, Lisboa, foi vendido ao grupo São Bento. Mas a missão, após “uma actualização”, é “permanecer exactamente igual”, garantem.

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Aos 77 anos, meio século ao balcão do Snob, Albino Oliveira sentiu que era tempo de parar. “Já estou com idade de ir para casa. Também tive uns problemazinhos de saúde aqui há uns meses, e quero poupar-me agora um bocadinho”, conta ao telefone. Um cliente habitual do icónico bar-restaurante do Bairro Alto, inaugurado em 1964, foi o elo de ligação para o negócio com o grupo São Bento, proprietário do Café de São Bento, outro clássico de Lisboa, e dos restaurantes Boungain e Corleone, ambos em Cascais.

“Já havia, obviamente, um interesse no passado. Eu tenho familiares que são clientes do Snob e do senhor Albino há mais de 40 anos, e surgiu aqui uma ponte”, afirma Miguel Garcia, responsável do grupo. Os valores da aquisição não foram revelados. Mas a promessa de que o Snob se “ia manter tal e qual”, com “poucas alterações”, terá sido decisiva. “Isso para mim já foi confortável”, recorda Albino, depois de ter recusado outras propostas ao longo dos anos. “Fiquei contente porque o Snob vai ter a mesma cara que tinha no meu tempo.”

“Essa é a minha missão e o meu objectivo”, garante Miguel Garcia. “Que o Snob permaneça exactamente igual, que consiga atrair ainda mais pessoas, e que seja realmente ali um ponto de Lisboa muito forte que, no fundo, enaltece a história.” Para o empresário, é esse legado de quase 60 anos, celebrados a 16 de Novembro, que “vai ser o actor principal” do novo velho Snob, à semelhança do trabalho feito no Café de São Bento, um dos restaurantes mais emblemáticos de Lisboa, adquirido pelo grupo em 2022.

“Eu adoro clássicos. Aquilo que me faz mais pena, ainda hoje soube da notícia do Lounge, que está a fechar e não vai ter continuidade, é que se fechem as portas e acabou-se uma história. Eu quero, no fundo, assim como foi no Café de São Bento, é que estes espaços icónicos que fazem parte da história da cidade de Lisboa não desapareçam.”

A mesma decoração, ementa, horário

A porta verde do número 178 da Rua do Século vai, por isso, continuar a abrir-se apenas ao toque da campainha. E, no interior, vai manter-se a meia-luz intimista dos candeeiros de mesa, os armários de portas de vidro recheados de garrafas e livros, os cadeirões e as mesas de madeira.

No entanto, “vai haver uma actualização do espaço”, assume Miguel Garcia. “Todos os materiais que existem no Snob vão permanecer, mas vou, no fundo, renovar os estofados, as mesas, as cadeiras... Ter as madeiras todas muito bem tratadas.” Um lavar de cara, sem “uma mudança na configuração”, para que “haja uma continuidade, honrando o passado”.

Para que esses trabalhos possam começar, o Snob vai estar encerrado a partir da próxima semana, “durante dois meses”. A previsão é “reabrir na primeira ou segunda semana de Dezembro”, o que significa que estará fechado no dia de aniversário. Mas a festa dos 60 anos do Snob está já prometida para 16 de Dezembro, um mês após a data.

Apesar de reabrir “com uma nova equipa”, a carta vai manter-se, com os croquetes com molho de mostarda e, claro, o bife com molho à Snob, entre outros clássicos. O segredo da receita, garante Albino, “fica para quem vem”. E as alterações ao menu, “caso existam”, serão “todas coordenadas com o senhor Albino”, que “deixa um grande legado”, sublinha Miguel. Já os horários “vão permanecer exactamente iguais”, com a cozinha a fechar apenas à 1h, e as portas às 2h, uma das imagens de marca do espaço. “É uma daquelas coisas que não poderão ser alteradas porque aí o Snob deixava de ser o que era.”

Um legado de décadas

O Snob foi inaugurado em 1964, no espaço de uma antiga latoaria, pela mão de Paulo Guilherme d'Eça Leal, então desenhador do jornal O Século, que se situava quase em frente ao novo bar-restaurante do Bairro Alto. Três anos depois, foi adquirido por Adriano Oliveira. O irmão Albino, 20 anos mais novo, veio “para o pé dele” há 50 anos, e desde “1990 ou 1991” que está à frente do espaço.

“Quando cheguei ao Snob, em Janeiro de 1975, os jornais eram todos aí juntos no Bairro Alto.” Não havia outro bar na cidade com tantos jornalistas “num metro quadrado”. Por muitos anos, era assim que o descreviam: o bar dos jornalistas. “Hoje em dia, já não é assim. Aparece um ou outro mas não é a mesma coisa.”

Há muitos clientes habituais entre artistas e políticos. “O António Costa, antes de ser primeiro-ministro, também vinha muito. O Marcelo Rebelo de Sousa deu lá uma entrevista quando foi tomar banho ao rio”, recorda. Com a proibição de se fumar no interior, em Janeiro do ano passado, muitos “já não aparecem tanto”. “Agora é mais a juventude.”

“Foi uma vida que estive aqui.” Sábado será “o último dia”. “Não sei se depois terei coragem de entrar no Snob mais. Mas, com certeza, irei lá, pelo menos, uma vez ou duas, para ver se, de facto, ficou tudo como o Miguel disse.” Mas vai custar regressar. “É um bocadinho assim, porque são muitos anos, não é? Cinquenta anos não é brincadeira.” As saudades ficam, sobretudo, pelos clientes. “O Snob é uma família.”

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