Lei de Murphy da Maternidade
A lei que dita que tudo o que pode correr mal, vai mesmo correr mal, aplica-se na perfeição ao dia a dia dos pais — e também dos avós.
Querida Mãe,
Venho apresentar-lhe a Lei de Murphy da Maternidade! A lei que dita que tudo o que pode correr mal, vai mesmo correr mal, aplica-se na perfeição ao dia a dia dos pais. Deixo-lhe dez leis, para que possa fazer a prova dos nove e verificar se tenho ou não razão.
1. Se estiveres ao telefone, os vossos filhos vão chamar-vos.
2. Os irmãos hão de discutir todo o santo dia, até cinco minutos antes de os mandar para a cama quando, por milagre, vão estar a brincar, juntos e bem!
3. Numa longa viagem os filhos irão pegar-se o caminho todo, até que a 100 metros de casa adormecem (para acordarem rabugentos, quando os ia meter na cama e, finalmente, descansar).
4. Um bebé fará um cocó até ao pescoço no dia que a mãe não tiver uma muda de roupa com ela.
5. O pai chegará a casa com presentes, exatamente no segundo em que os tínhamos conseguido deitar sossegados.
6. Os filhos deixarão de gostar dos cereais X, quando chegarmos a casa com 100 pacotes, comprados para aproveitar uma promoção.
7. Assim que um casal consiga, por milagre, acertar no mood certo e se preparar para a intimidade, uma criança vai acordar.
8. Mal um filho começar a gatinhar há de ir diretamente às fichas elétricas.
9. O irmão mais novo soprará a vela de aniversário do mais velho, antes que alguém tenha tempo de o parar, iniciando a III Guerra Mundial.
10. Sempre que estivermos no carro e dissermos: "Tomás, olha ali o carro dos bombeiros com todas as luzes acesas", o Tomás vai olhar tarde demais, e gritará os 300km que faltam que não viu o carro dos bombeiros com todas as luzes acesas.
Mãe, diga-me, como é a Lei de Murphy dos avós?
Querida Ana,
Se o teu objetivo era alegrar-me por já não ter filhos pequenos, missão cumprida. Fico cansada só de me lembrar de todas as ocasiões em que sofri na pele as consequências desses imperativos. Mas, tendo sobrevivido à vossa infância, não escapo à Lei de Murphy dos avós — aqui ficam oito situações em que ela não falha.
1. Se te passar pela cabeça uma crítica à parentalidade dos teus filhos/genros/noras, mesmo que não digas uma palavra, vão conseguir ler-te os pensamentos.
2. Se sugerires que o bebé gostava de um banho/de arrotar/de mudar a fralda, serás recebida pela informação de que “Mãe, isso era no seu tempo!”.
3. Se insistires que um neto coma tudo o que tem no prato, julgando agradar assim aos pais, vais descobrir que, afinal, a política da casa mudou e que agora cada um só come o que lhe apetece.
4. Se insistires que não é preciso que comam tudo o que têm no prato, julgando assim agradar aos pais, vais descobrir que, afinal, a política da casa mudou de novo, e agora é preciso deixar o prato limpo.
5. Se disseres que o teu neto se portou lindamente até aos pais chegarem, sendo que é perfeitamente verdade, serás acusada de estar a contribuir para a culpabilidade dos progenitores, e a concorrer com eles.
6. Se tiveres planos para um fim de semana divertido com os teus netos, é seguro que vão apanhar covid, e terás de cancelar tudo.
7. Se tiveres planos para um fim de semana divertido sem filhos e netos, receberás um telefonema dez minutos antes da partida com um pedido urgente de babysitting.
8. Se estiveres ao telefone com os teus filhos, a conversa será interrompida por uma birra interminável dos teus netos.
Ufa, não consigo continuar. O melhor é não sofrer por antecipação e aceitar que o que será, será.
O Birras de Mãe, uma avó/mãe (e também sogra) e uma mãe/filha, logo de quatro filhos, separadas pela quarentena, começaram a escrever-se diariamente, para falar dos medos, irritações, perplexidade, raivas, mal-entendidos, mas também da sensação de perfeita comunhão que — ocasionalmente! — as invade. E, passado o confinamento, perceberam que não queriam perder este canal de comunicação, na esperança de que quem as leia, mãe ou avó, sinta que é de si que falam. As autoras escrevem segundo o Acordo Ortográfico de 1990.