O penálti mais escandaloso desde Gilgamesh

Nunca ninguém esquece o dia em que aprende o que é uma hipérbole: é o melhor dia de escola, o mais vívido, o mais memorável de sempre! Todas as crianças entendem de imediato as consequências.

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Uma das características distintivas de Homero — o melhor, o GOAT, greatest of all time, o maior GOAT em toda a história do Ocidente — é a relativa modéstia das suas hipérboles. Heróis e peripécias são impressionantes, mas impressionam dentro de limites razoáveis, o que raramente acontece em textos congéneres. No épico sânscrito Ramayana, o herói quebra um arco que cinco mil patéticos figurantes não tinham conseguido; e quando a sua amada Sita é raptada, o contingente enviado para a resgatar consiste em vários triliões de macacos. Na Ilíada, Aquiles limita-se a içar sozinho um tronco que três gregos em conjunto mal conseguiram mover; e quando Helena é raptada, só mil e tal barcos vão socorrê-la. Até o gigante Polifemo parece um prodígio de moderação: o tamanho permite-lhe esmigalhar dois homens ao mesmo tempo, uma proeza certamente meritória — mas Humbaba, o seu equivalente na epopeia de Gilgamesh, conseguia arrasar montanhas inteiras apenas com o som da sua voz. A diferença destas escolhas já apontava para o futuro, e para o realismo. Outros épicos e mitos evocavam coisas que não existiam nem podiam existir; Homero só queria que imaginássemos Arnold Schwarzenegger ou Viktor Gyökeres.

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