Islândia, gélida e maravilhosa

Ir a banhos numa destas lagoas, ou numa das muitas piscinas ou praias aquecidas, por fontes termais (hot springs), é um ritual que qualquer turista não abdica.

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Circuito pela Península Snaefellsnes, praia Ytri Tunga, habitat natural de focas Mário Menezes
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Iceland, a ilha localizada próximo do tecto do mundo, fazia jus a isso. Vista do ar estava coberta de um manto branco, de neve e gelo. A natureza é a principal oferta, a Tundra Árctica. Vulcões, glaciares, montanhas, cascatas, fiordes, parques nacionais, praias escuras com formações rochosas, simpáticos cavalos, uma raça protegida, a mais pequena de todas, papagaios-do-mar, raposas do Árctico, focas, andorinhas do Árctico, ovelhas e claro, as baleias, fazem parte de uma lista interminável.

Cheguei à Lagoa Azul, poucas horas após ter aterrado, aproveitando a sua proximidade com o aeroporto internacional. Das cinco existentes no país, spas termais naturais, água que emerge do subsolo, esta é a mais famosa. Localizada perto da cidade de Grindavík, a tal que foi evacuada, quiçá para sempre, devido às recentes erupções vulcânicas. Mais de seis milhões de litros de água a 40ºc em cinco mil metros quadrados de área. Além do efeito relaxante, a concentração de algas e sais minerais dessas águas, que lhe conferem a cor azul, é benéfica no combate ao envelhecimento e no tratamento de doenças da pele. Ir a banhos numa destas lagoas, ou numa das muitas piscinas ou praias aquecidas, por fontes termais (hot springs), é um ritual que qualquer turista não abdica, mesmo pagando as exorbitâncias pedidas na entrada. Mais económico é visitar spas de piscinas públicas, aquecidas com energia geotérmica, locais predilectos onde os locais socializam. Dizem eles, “na Islândia o álcool é caro, logo para conhecer pessoas é mais barato ir a uma piscina que a um bar”. Constatei isso, o álcool é caro e, quanto à alimentação, uma refeição de supermercado custa mais que num restaurante em Portugal!

Seguiu-se um voo doméstico para Akureyri, a capital do Norte. Situada na montanha Súlur, banhada pelo fiorde Eyjafjörður, é tida como a cidade mais bonita do país, dado o casario colorido do seu centro histórico, onde, em 1778, começou a sua formação. Encontra-se ligado ao centro da cidade, a zona comercial, pela Hafnarstraeti, uma rua com cerca de 1,5km, passando pela Ráðhústorg, a praça central onde encontramos a estátua de madeira do Gato do Natal. A Igreja Akureyrarkirkja, obra de Gudjon Samuelsson, o mesmo arquitecto que projectou a Hallgrímskirkja de Reiquejavique, é o símbolo da cidade. O Jardim Botânico, apesar de coberto de neve, é local de visita obrigatório, pois contém algumas das 470 espécies de plantas nativas.

Nos três dias passados a norte visitei Húsavík. Os cerca de 80km que a separam de Akureyri, percorrem-se em pouco mais de uma hora. O caminho mete respeito, pois atravessa paisagens planas cobertas de neve, as chamadas Terras Altas Islandesas, que compreendem os planaltos e montanhas do centro do país, com uma altitude superior a 500 metros, sendo consideradas como regiões desérticas e desabitadas, com um solo rochoso, sobretudo basáltico, dada a origem vulcânica da ilha. Bonita “micro” cidade na Baía de Skjálfandi, onde a Igreja Húsavíkurkirkja se destaca. Construída no início do século XIX, em madeira, inspirada nos chalés suíços. Húsavik é a capital de observação de baleias, possuindo um museu dedicado ao tema. Está imortalizada pelo filme Eurovision Song Contest: The Story of Fire Saga, e pela sua lindíssima banda sonora, Húsavík (My hometown), cujo refrão - “Where the mountains sing through the screams of seagulls. Where the whales can live 'cause they're gentle people” - tão bem a descreve.

Fixei-me os restantes seis dias na capital e em tours organizados, fiz vários circuitos. É uma pequena cidade, dois dias, a pé, é suficiente. Reiquejavique traduz-se por “baía fumegante”. Muito antes dos turistas, os vikings descobriram por aqueles lados várias nascentes de água quente. A visita começou na colina Öskjuhlíð, pelo Perlan, um moderno edifício, contendo um planetário, um museu de história natural e uma caverna de gelo. Lá do alto podemos avistar ao longe toda a envolvente urbana banhada pela baía Faxaflói. A Laugavegur é a principal rua comercial e a Skólavörðustígur, a tal Rua Arco íris, leva-nos até à Igreja Hallgrímskirkja, o ex-libris. Subindo à torre, podemos observar bonitas vistas sobre o centro histórico. O lago Tjornin que se encontrava gelado, localizado nas imediações do Parlamento e da Câmara Municipal, com a estátua do “Burocrata Anónimo” na sua entrada. Lá como cá, os serviços públicos são satirizados pelos mesmos motivos. A sala de concertos Harpa, que sobressai pela sua arquitectura, junto da Sæbraut, a estrada marginal, onde encontramos a escultura de um barco viking, o Sólfar e um farol de cor amarela. O Laugardalsvöllur foi mais um estádio que entrou no meu palmarés. Ali, Cristiano Ronaldo marcou pela nossa selecção, o golo da vitória validado pelo VAR, na qualificação para o Euro 2024.

O Circuito Dourado, o mais importante da ilha, leva-nos à Kerid, uma cratera pitoresca, às cascatas de Gullfoss, as mais importantes do país, ao Strokkur, o Geysir, nascente termal que entra em erupção periodicamente, lançando para o ar uma coluna de água quente e vapor de água. E ao Thingvellir, o Parque Nacional onde a Europa encontra a América, pois ali as respectivas placas tectónicas se juntam, daí, o explorador Leif Eriksson, estátua junto da Igreja Hallgrímskirkja, foi primeiro Europeu a pisar a América Continental.

O circuito pela Península Snaefellsnes leva-nos ao longo da baía Faxaflói até Grundarfjörður junto da montanha Kirkjufell, a mais fotografada do país e que se assemelha a uma igreja, enquadrada com a cascata Kirkjufellsfoss, à praia Djúpalónssandur, uma das famosas onde a cor preta predomina, e à praia Ytri Tunga, habitat natural de focas. Inclui a passagem pela Igreja Búðakirkja, a tal igreja preta, construída em madeira pintada de preto, no meio de um campo de lava, e por Arnarstapi, uma pequena vila pesqueira famosa pelos seus penhascos, sendo Gatklettur um deles. Desde aqui podemos avistar o glaciar Snaefellsjökull, cujas paisagens e sua intensa atividade vulcânica, levaram Júlio Verne à sua Viagem ao Centro da Terra.

O circuito pela Costa Sul leva-nos à cascata de Seljalandsfoss, que permite passar por detrás da sua cortina de água, e de Skógafoss, que forma um arco-íris em dias de sol; à praia Reynisfjara conhecida pelas suas colunas de basalto, pela areia preta e pelas perigosas ondas, as “sneaker waves”, que têm colhido muitos visitantes no areal, e aoo glaciar Sólheimajökull que tem vindo a derreter-se e a formar uma lagoa, de momento gelada. Localiza-se junto do vulcão Eyjafjallajökull, o pior pesadelo dos viajantes, pois em 2010 levou o nome da Islândia a todo o mundo, quando a sua erupção fez parar o tráfego aéreo na Europa e na América do Norte.

A viagem ficou completa com as auroras boreais, as “Northern Lights”. Mesmo tímidas, e brancas, elas apareceram, mas só se apresentavam verdes nas fotos e nos ecrãs de smartphones topo de gama! Para as avistar é necessário sair para longe das cidades devido à poluição luminosa. Um tour nocturno para “caçar gambozinos” ao frio no mato que valeu o sofrimento!

Mário Menezes

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