Como lidar com a ansiedade que os incêndios me fazem sentir?
Moderar a exposição a notícias, falar com alguém ou participar em acções de solidariedade pode ajudar a controlar a ansiedade que os incêndios nos fazem sentir.
Nos últimos dias temos visto o país a arder. As imagens dos 92 fogos activos são trágicas e assustadoras, e a incerteza do fim das chamas (agora mais próxima, já que a Protecção Civil espera dominar os incêndios até amanhã) cria um sentimento colectivo de tristeza e desorientação.
Se tens sentido ansiedade, não estranhes: é “típico que, em situações de crise, como é o caso dos incêndios, existam alguns sintomas de ansiedade”, começa por tranquilizar a psicóloga Marta Rodrigues. A ansiedade é “uma resposta natural do nosso corpo a um perigo ou incerteza”, e esta situação tem muito dos dois: não é possível prever o seu desenvolvimento ou gravidade.
A ansiedade pode estar relacionada com “o medo ou a falta de controlo”, por exemplo, mas também com “a impotência” que muitos sentimos ao ver as chamas que consomem o país.
Contudo, é importante prestar atenção à sua dimensão, já que ela se pode tornar “contraproducente”. Quando se torna “desproporcional ou até disfuncional”, impedindo-nos de “ajudar, de nos protegermos, de manter a atenção, quando não conseguimos trabalhar, dormir ou manter um nível de bem-estar”, é preciso procurar “falar com alguém” em quem confiamos ou, no caso de se prolongar no tempo, “procurar ajuda profissional”.
Mas, afinal, o que podemos fazer para lidar com esta ansiedade?
Modera o tempo de exposição a notícias
“É importante, até para mantermos a nossa segurança, que estejamos informados”, começa por referir a psicóloga. Mas, muitas vezes, o que acontece é que para colmatar uma ideia de “falta de controlo”, acabamos por “nos agarrar a um controlo ilusório que é consumir notícias sem critério”.
Passar o dia a ver notícias pode contribuir para um aumento da preocupação, até porque “a cobertura mediática mostra a gravidade das situações catastróficas – e nós temos sensibilidade”. “Ver desenfreadamente notícias pode fazer com que nos sintamos ainda mais sem controlo e com mais necessidade de controlar, criando um ciclo vicioso.”
Assim sendo, é importante “regular o tempo que nos expomos a notícias” e “procurar fontes credíveis”, para evitar confusão e, consequentemente, mais ansiedade.
Faz exercícios de descentração
Se não consegues parar de pensar numa determinada imagem ou acontecimento, procura outra coisa em que focar os teus sentidos.
Segurar gelo nas mãos, cheirar uma flor, focar nos sons dos pássaros ou ouvir música são alguns dos exercícios que a psicóloga recomenda para “alterar o foco da nossa atenção”.
Fala com as pessoas mais próximas
Procurar apoio junto dos que nos são mais próximos ajuda sempre a regular as emoções. Lembra-te que não precisas de lidar com tudo sozinho.
Põe mãos à obra
Envolvermo-nos em acções de voluntariado ou de apoio à comunidade pode “devolver uma sensação de maior controlo e diminuir o sentimento de impotência”.
Ajudar os bombeiros, como temos visto acontecer, seja com donativos de mantimentos nos quartéis ou com donativos monetários (o PÚBLICO lançou um guia sobre como ajudar) pode ser uma forma de te sentires útil e mais tranquilo.
“Pensar: o que é que eu controlo e o que é que não controlo?” pode ajudar a encontrar alguma clareza.
Procura ajuda profissional
Se a ansiedade que sentes “ultrapassar a ansiedade mais normativa e passar para algo desadaptado”, pode ser necessário procurar ajuda profissional, seja com um psicólogo, seja através de linhas de apoio.
É importante ter em conta que estes acontecimentos podem desencadear sintomas de ansiedade, mesmo quando o factor que as provocou deixa de existir.
Para os que vivem esta situação na primeira pessoa, as consequências podem ser mais danosas e pode ser preciso mais tempo para identificar alguns sintomas, já que a prioridade, neste momento, é a sobrevivência. Importa, no entanto, salientar que “não é [motivo de] vergonha” ligar para as linhas de apoio psicológico ou procurar assistência. “Nos hospitais, há psicólogos formados em intervenção em crise que estão disponíveis exactamente para estas questões.”