As noites em Serralves estão diferentes — ganharam uma nova luz
Sob o tema Sonhos e Ilusões, Serralves em Luz lança um holofote sobre o parque, colocando em evidência o que à luz do dia não a tem.
Até 3 de Novembro, de terça-feira a domingo, vais poder visitar a exposição nocturna Serralves em Luz, que te propõe uma caminhada reflexiva sob o tema Sonhos e Ilusões — o escolhido para esta terceira edição. Diz quem a visita que "enaltece a natureza" e até "podia ser maior". O P3 foi visitá-la.
São 25 instalações de luz, 13 das quais interactivas e duas comemorativas — uma dos 35 anos da Fundação de Serralves e outra dos 50 anos do 25 de Abril — com a direcção artística de Nuno Maya e espalhadas por uma agradável (enquanto a meteorologia o permitir) caminhada de 2,5 quilómetros pelo parque de Serralves.
Não há margem para dúvidas sobre o carácter familiar da exposição. Na visita guiada que acompanhámos, num sábado no início de Setembro, as crianças do grupo aglomeravam-se sobretudo em redor de uma das instalações interactivas, a Tree Faces — que também é a primeira do nosso percurso. Aqui, os rostos do público são projectados numa magnólia — trocado por miúdos, temos a nossa cara numa árvore — para que reflictamos sobre a fusão entre o ser humano e a natureza.
Márcia Miranda, 45 anos, é uma das 25 pessoas da visita guiada e veio com os filhos: "Passámos cá o dia todo e até pensámos que os mais novos pudessem estar cansados para fazer isto. Mas estão animadíssimos e até perguntaram se não havia mais", disse entre risos. Elogiou "a distância e a distribuição das instalações" e acredita que "por ser visita guiada se ganha mais, não se perde tanto a interpretação das coisas". Há instalações que precisam dessa interpretação — é o caso da que se segue.
Avançando pelo Bosque das Faias, é difícil ignorar Chirp & Drift, de Kathy Hinde. Esta instalação, talvez mais sonora que luminosa, é constituída por uma espécie de pequenos acordeões, colocados nos ramos de uma faia, que vibram com mensagens em código Morse — todas as palavras são nomes de pássaros. É provável que muito poucas pessoas sejam capazes de descodificar rapidamente o código intermitente, mas, nesta visita, ninguém deixou de contemplar a árvore com interesse. É a instalação perfeita para mergulhar no espírito onírico que acompanha os restantes quilómetros — e para nos relembrar que olhamos pouco para cima.
O parque parece "mais condensado, íntimo, pessoal"
Há algo para todos. Light Walk no Treetop, uma instalação de 240 barras LED e sistema de som multicanal que cria um ambiente imersivo e vertiginoso no caminho da ponte entre as copas das árvores, foi criada a pensar nos visitantes mais aventureiros. É tão imersiva que só mesmo os aviões do vizinho Aeroporto Francisco Sá Carneiro podem perturbar a experiência.
No Lago Leque de Água, Solid Fluids apela aos mais meditativos. A projecção de vídeo sobre um véu de água que simboliza os seus três estados — sólido, líquido e gasoso — cativa, acalma e cria ilusões poéticas sobre metamorfoses da natureza. Contrapõe, definitivamente, o que se sente no Parterre Lateral, entre as instalações dinâmicas 360º do Towards The Sky que nos dá a conhecer um jardim tecnológico electrificante.
É lá perto que encontramos Gonçalo Vasconcelos e João Maria, que visitam livremente os jardins. Gonçalo já tinha vindo a outras edições do Serralves em Luz, mas considera esta "mais espaçada e imersiva, o que resulta num passeio muito agradável". João, por sua vez, é novato e assume que a visita se "aproveita bem sem guia, mesmo que às vezes se perca um pouco a motivação por trás das instalações". Contudo, "a flexibilidade horária e o ritmo de caminhada" fizeram-nos optar pelo regime livre.
A visita prossegue e o Vertically, que segundo a guia é "a instalação mais desafiante pela altura dos eucaliptos", realça a volumetria dos troncos num tom avermelhado. O objectivo é reflectir sobre esta espécie de árvore, tantas vezes demonizada pelo seu papel nos incêndios.
As peças comemorativas, a dos 35 anos da Fundação de Serralves, na fachada do museu, e a dos 50 anos do 25 de Abril, no campo de ténis, foram as que abriram mais margem para a deambulação. Curiosamente, as crianças presentes na visita saíram disparadas para correr sobre a segunda obra, como se soubessem que foi construída com a ajuda de 50 alunos da Escola Básica das Condominhas, quer nos desenhos dos cravos quer nos seus depoimentos sobre o que é a liberdade.
A caminhada acaba na Pérgola, com Flower Mandalas, uma peça de luz interactiva em túnel, na qual o público cria e manipula as flores com os movimentos das mãos. É aí que o P3 fala com Victor, francês de 22 anos, e Sara, de 26 e natural da Póvoa de Varzim. "É uma forma muito diferente de olhar para Serralves. [O Serralves em Luz] Enaltece certas partes que nos passam despercebidas sem as instalações. Coloca em evidência zonas que, agora, começamos a ver de forma completamente diferente", contou Sara. "O parque parece diferente, mais condensado, íntimo e pessoal", acrescentou Victor.
"Podia continuar o resto da noite, apesar de já ser tarde e estarmos um pouco cansados", continuou Sara. "A exposição vale a pena. A luz é a protagonista, mas ajuda a que a natureza também se torne protagonista. Ajuda a mostrar detalhes do parque, já lindíssimo de dia, de uma forma diferente", concluiu a jovem, depois de palmilhar os 2,5 quilómetros do percurso.
A exposição arrancou a 28 de Julho e, até ao início de Novembro, tens visitas livres de terça-feira a domingo, a partir das 20h30 até 29 de Setembro e das 20h depois de 1 de Outubro. As visitas orientadas são às sextas e sábados, sujeitas a marcação e lotação máxima. O bilhete inteiro são 14 euros e a visita guiada acresce 2,5 euros ao preço. Há descontos e gratuitidade para certos casos, que podes consultar no site de Serralves.