Autarca diz que Sé de Braga como Património Mundial não impedirá continuidade de festas
Confusão causada pelas festas da cidade junto à Sé motivou a freguesia a iniciar o processo de candidatura do monumento à UNESCO, mas Ricardo Rio avisa que “valorização patrimonial não inibe” festas.
O desassossego a que os moradores da envolvente da Sé de Braga têm sido expostos em altura de eventos de maior escala na cidade motivou a união de freguesias de Maximinos, Sé e Cividade a deliberar, com o apoio da Arquidiocese de Braga, o avanço de uma candidatura do monumento a património mundial da UNESCO. Apesar de apoiar a intenção, o presidente da Câmara de Braga, Ricardo Rio, avisa que a classificação “em nada impede que se realizem actividades de diversa natureza” na envolvente da sé catedral. “Bem pelo contrário”, refere.
Ao PÚBLICO, o autarca sublinha que a Sé de Braga, construída no final do século XI, é a “mais antiga catedral do país e um edifício absolutamente icónico” e que o município dará “toda a colaboração necessária” à união de freguesias e à Arquidiocese de Braga – a quem compete a candidatura – no processo de classificação. Assinala, porém, que a motivação da candidatura não deve ser ancorada nas queixas dos moradores da envolvente da sé, acrescentando que a classificação não impedirá a realização de eventos de grande escala.
“Parece haver aqui alguma confusão. Uma coisa não tem nada que ver com a outra: a valorização patrimonial do edifício não inibe a realização de actividades na sua envolvente”, diz, dando exemplos do que se passa noutras cidades: “Basta ver o que são as realidades de outras grandes praças a nível mundial para perceber que esses são espaços naturais de fruição popular. Nós vamos a Bruxelas ou a Madrid, que têm edifícios classificados, e existem actividades como as que decorrem na sé”.
A afluência à envolvente da catedral tem-se intensificado ao longo dos últimos anos, com o aumento do número de estabelecimentos nocturnos na zona. Em 2022, a Associação de Moradores Poder Viver na Sé (APVS) endereçou uma carta ao município, queixando-se da vida nocturna na zona de bares e lamentando o ruído e o lixo excessivos e o alargamento indevido de esplanadas.
Além do regular movimento nocturno, a zona também tem sido utilizada para prolongar os programas de diversão nocturna das festas da cidade. A gota de água aconteceu no início deste mês, no âmbito da Noite Branca, com a colocação de dois palcos de DJ, que amplificaram o volume do som madrugada dentro.
Os dois palcos levaram a União de Freguesias de Maximinos, Sé e Cividade a interpor uma providência cautelar no Tribunal Administrativo contra a licença especial de ruído emitida pelo município para as duas noites da Noite Branca.
Ao PÚBLICO, o presidente da união de freguesias, Luís Pedroso, justificou a providência cautelar, que viria a ser rejeitada, com o grau de saturação dos moradores, assinalando que a zona tem sido “fustigada ao longo dos anos” e que os moradores estão “pura e simplesmente saturados de tanta barulheira”, acrescentando que é necessário “salvaguardar quem mora no centro histórico, porque das duas, uma: ou queremos um centro histórico vazio de moradores, ou então queremos e temos de preservar a saúde deles".
A propósito desses esclarecimentos, Luís Pedroso adiantara ainda que “se a sé catedral fosse património mundial da Humanidade não podia ocorrer metade das coisas que lá se passa”. “Havia mais regras e se calhar esse vai ser o nosso próximo passo”, acrescentara. No passado dia 7 de Setembro, a união de freguesias corporizou a ideia e, em declarações ao jornal O Minho, Luís Pedroso afirmou que a intenção de classificar o histórico monumento já tem o aval da Arquidiocese de Braga.
O desejo de candidatar a Sé Catedral de Braga, classificada como monumento nacional desde 1910, a património mundial da UNESCO foi manifestada pelo próprio Ricardo Rio já em 2009, era ainda membro da oposição no executivo municipal. Referira, na altura, que havia “muito a fazer” pela catedral e alertara para o "perigo de desertificação" do centro histórico da cidade, sublinhando o "triste definhar dos bairros históricos", que continua "sem solução à vista".
Em Braga, já existe, desde 2019, um monumento considerado património cultural mundial: o Santuário do Bom Jesus do Monte, constituído pela Basílica do Bom Jesus, três escadórios, com 573 degraus no total, capelas, funicular e 26 hectares de mata. Na comemoração do primeiro aniversário do Bom Jesus como património mundial, o então arcebispo de Braga, D. Jorge Ortiga, realçara que o santuário poderia tornar-se um lugar para “manifestações culturais”, como concertos e exposições.