O meu cão tem tosse do canil. O que é? É transmissível para humanos?
Esta doença respiratória é comum em Portugal, especialmente nos meses de Verão e em cães que frequentam parques, creches e hotéis caninos. Existem três tipos de vacinas para controlar o vírus.
Chama-se traqueobronquite infecciosa canina, mas é mais conhecida como tosse do canil, e faz parte do leque de doenças respiratórias comuns em Portugal que afecta os cães. A boa notícia é que não é grave, não é transmissível entre estes animais e humanos ou para outras espécies e tem cura.
Na grande maioria dos casos, explica ao P3 o médico veterinário Tomás Magalhães, os sintomas são leves. Mas já lá vamos.
Quais são os sintomas da tosse do canil?
Para simplificar a questão, a tosse do canil pode ser equiparada à gripe. É uma doença contagiosa causada por vários agentes, como o vírus do parainfluenza canino e bactérias, como a bordetella bronchiseptica.
O sintoma mais comum, adianta o médico veterinário, “é uma tosse seca e excessiva ao ponto de parecer que o animal está engasgado”. Pode ainda evoluir para espirros e corrimento nasal e dos olhos.
Os sintomas menos comuns incluem inchaço e despigmentação do nariz, salivação excessiva, aumento dos gânglios linfáticos (ou seja, da zona do pescoço) e mau hálito.
“Os cachorros, que ainda não têm a imunidade totalmente estabelecida e os animais que tenham algum tipo de doença podem ter complicações associadas à tosse do canil e, no limite, haver desenvolvimento de broncopneumonia”, acrescenta Tomás Magalhães.
Como se transmite?
Como o nome indica, é uma doença que pode ser contraída nos canis, em hotéis para cães, parques e creches caninas e outros locais frequentados por estes animais, especialmente nos meses de Verão. Os comedouros, bebedouros e brinquedos também são veículos de transmissão, pelo que é recomendável que os cães não partilhem estes objectos. Se tal acontecer, é importante serem limpos depois de utilizados.
Além disto, esclarece o médico veterinário, é facilmente transmissível em zonas pouco ventiladas ou afecta cães que apresentam sinais de stress, por exemplo, por estarem num espaço que desconhecem ou em contacto com outros da mesma espécie.
Em que consiste o tratamento?
Esta pergunta é outra das boas notícias para cães e tutores. Na maior parte das vezes, os sintomas são tão leves e passageiros que pode não ser necessário administrar medicação.
No entanto, é essencial levar imediatamente o animal com sintomas ao médico veterinário para ser diagnosticado. Mas antes disso, reforça Tomás Magalhães, os tutores devem sempre ligar para a clínica a avisar que o cão está com uma doença contagiosa e assim evitar o contacto com outros animais que lá estejam.
Se o cão tiver uma tosse que é repetitiva e o impede, por exemplo, de dormir, o veterinário vai receitar um anti-inflamatório, muita água, boa alimentação e descanso. “Nos casos mais severos podemos recorrer, no limite, a antitússicos se a tosse for muito intensa, mas raramente é indicado porque é mecanismo de defesa do organismo que não queremos que os animais percam”, acrescenta.
Quanto tempo demora a desaparecer?
Varia de caso para caso e da saúde do cão. Segundo o veterinário, os animais que tiverem sintomas leves estão livres da doença ao fim de uma ou duas semanas, e os casos mais graves depois de um período de quatro semanas.
Durante este tempo os animais devem estar isolados de outros cães, mas podem passear com os tutores, desde que o façam em locais onde não circulem outros da mesma espécie.
“Nesta fase em que estão a recuperar devem usar colocar peitoral em vez de coleira para não existir pressão na zona da traqueia que vai desencadear tosse”, explica o veterinário.
Existe vacina?
Sim. Na verdade, a tosse do canil é tão comum que existem três tipos de vacinas que podem ser administradas aos cães.
Segundo Tomás Magalhães, existe a vacina intranasal, ou seja, é administrada pelo nariz através de um aplicador próprio. Tem dose única e confere imunidade ao animal nas primeiras 72 horas para a bordetella bronchiseptica, e ao final de três semanas para o vírus do parainfluenza canino. Contudo, deve ser repetida todos os anos.
Existe ainda a possibilidade de o cão receber a vacina através da boca ou com uma picada na zona do pescoço. Esta última pode ser uma opção para cães braquiocefálicos (de focinho achatado), que têm as narinas pequenas demais para inserir o aplicador nasal. Deve ser reforçada ao fim de duas ou três semanas e repetida anualmente.
Um cão vacinado pode contrair a doença?
Sim. A vacina contra a tosse do canil é como a da gripe: vai proteger o cão da doença e limitar o foco de transmissão e de contágio, mas não o torna imune.
“Não existem vacinas 100% eficazes. Esta vacina permite a formação de anticorpos que vão proteger o animal no segundo contacto com o agente transmissor da tosse. E como pode ter vários vírus e bactérias na sua origem é normal existirem cães que voltam a ter a doença”, reforça o veterinário.