Parlamento da Venezuela quer romper “todas as relações” com Espanha
No dia seguinte ao qual a Câmara dos Deputados espanhola recomendou ao Governo que reconheça González como Presidente eleito, Sánchez explicou ao opositor de Maduro por que não o faz.
Nem diplomacia, nem economia: o presidente do Parlamento venezuelano, Jorge Rodríguez, anunciou que vai levar a votos uma proposta de resolução que recomenda ao Governo de Nicolás Maduro o corte de “todas as relações diplomáticas, consulares, económicas e comerciais” com Espanha. Foi a reacção imediata do regime chavista à aprovação, horas antes, pela câmara baixa das Cortes espanholas, de uma recomendação ao Governo de Pedro Sánchez para que reconheça Edmundo González Urrutia como Presidente eleito daquele país sul-americano. Um acto considerado “o ultraje mais brutal” da Espanha contra a Venezuela “desde os tempos” em que o país das Caraíbas lutou pela sua independência.
“Que saiam daqui todos os representantes do Governo do Reino de Espanha e todos os consulados e todos os cônsules e de lá tiraremos os nossos, que fiquem com os seus assassinos, com os seus golpistas, com os seus fascistas, com a sua violência", expressou Rodríguez, citado pelo Noticiero Digital. Na sua opinião, Espanha “tem vindo a tornar-se” um “refúgio para assassinos, fascistas, golpistas” e “violentos”, uma referência aos políticos antichavistas exilados em Espanha, como Leopoldo López, que nomeou.
Já esta quinta-feira de manhã, a primeira-vice-presidente e ministra das Finanças espanhola, María Jesús Montero, afirmou que “os interesses comerciais de Espanha e o interesse das nossas empresas [na Venezuela] estão seguros”, apesar do “choque” diplomático provocado pela aprovação da recomendação do reconhecimento de González pela câmara dos deputados.
Em declarações aos jornalistas num pequeno-almoço informativo em Madrid, Montero afirmou que o Governo está “consciente” da situação na Venezuela e assegurou que o "canal diplomático" com o Governo venezuelano será mantido, mas pediu aos partidos políticos espanhóis “responsabilidade” para não agravarem ainda mais a questão, e que "não se desviem do roteiro da UE".
“Todos temos que estar de um lado”, disse ela, porque “a Espanha sozinha não pode fazer nada” sobre a política na Venezuela, mas “isso pode tornar-se evidente diante de questões que não estão totalmente alinhadas com o que é proposto na Convenção Internacional”, afirmou, citada pelo El País.
Para o Partido Popular, que apresentou a recomendação à Câmara dos Deputados, a ameaça do regime chavista de corte de relações com Espanha não muda em nada a necessidade de reconhecer González como Presidente eleito. “Estes são os estertores de um regime que está a morrer”, disse.
Espanha é um dos grandes compradores de petróleo da Venezuela e nos primeiros sete meses deste ano triplicou as importações de crude daquele país, como revelou o Cores, um departamento do Ministério da Energia e do Ambiente, na semana passada. A Venezuela, membro da OPEP, registou um aumento das exportações de petróleo no primeiro semestre do ano, ajudada pelas licenças e autorizações concedidas pelos EUA à empresa petrolífera estatal PDVSA, após alívio do embargo norte-americano acordado com o regime de Maduro para a realização das eleições presidenciais.
“Continuar a lutar”
Esta manhã, depois de regressar da visita à China, o presidente do Governo de Espanha, Pedro Sánchez, reuniu-se com Edmundo González Urrutia no Palácio da Moncloa (sede do Governo), a quem prometeu continuar a trabalhar “a favor do diálogo, da democracia e dos direitos fundamentais do povo irmão da Venezuela”.
“Dou as boas-vindas calorosas ao nosso país a Edmundo González, a quem acolhemos mostrando o compromisso humanitário e a solidariedade de Espanha com os venezuelanos”, escrever Sánchez na rede social X.
Segundo o Noticiero Digital, Sánchez explicou que a Espanha não reconhecerá “por enquanto” uma vitória de González na Venezuela, mas trabalhará pela unidade na UE que permita uma margem de mediação até ao final do ano e encontrará uma solução que reconheça a vontade democrática expressa nas urnas pelo povo venezuelano.
Também González publicou um comunicado após o encontro na Moncloa, onde agradece a Espanha o acolhimento e garante que "a luta para fazer cumprir a vontade soberana do povo venezuelano vai continuar".
“Manifestei o nosso reconhecimento pelo seu interesse em trabalhar pela recuperação da democracia e do respeito pelos direitos humanos no nosso país. Da mesma forma, ratifiquei a minha determinação de continuar a luta para fazer cumprir a vontade soberana do povo venezuelano expressa em 28 de Julho por mais de 8 milhões de eleitores”, lê-se na nota.