O passado da pessoa com quem namoro incomoda-me. O que posso fazer?

Ter curiosidade sobre o passado da pessoa com quem estamos a dividir a nossa intimidade não é nenhum crime nem algo fora do normal. Mas quando é que essa curiosidade se torna demais?

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A comparação e a baixa auto-estima tendem a ser maiores por causa das redes sociais Unsplash/ Freestocks
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Quando nos relacionamos pela primeira vez com outra pessoa, deparamo-nos com situações e sentimentos inéditos, com os quais não sabemos lidar, grandes fontes de medo e confusões. E, quando o nosso parceiro já tem mais experiência do que nós em determinados assuntos, a situação torna-se ainda mais difícil.

Muitas vezes, acabamos a comparar-nos a ele ou ela. E esse sentimento desencadeia uma série de inseguranças e questiones que se multiplicam fora do nosso controlo, além de crises de ciúmes e paranóias.

O psicólogo Luiz Felipe Almeida, que trabalha em São Paulo, afirma que na adolescência essa preocupação e esses pensamentos excessivos sobre o passado tendem a ganhar uma dimensão muito maior do que em relacionamentos entre adultos, porque nessa época da vida ainda estamos a tentar entender quem somos.

"O que está em jogo é uma investigação do desejo desse outro, o que no fundo constitui uma investigação sobre o que nós mesmos somos", diz.

Afirma ainda que a comparação e a baixa auto-estima tendem a ser maiores por causa das redes sociais. E assim, as inseguranças manifestam-se não apenas como perguntas, acusações e pensamentos repetitivos, mas também noutros comportamentos, como ficar a ver os gostos, seguidores e estar sempre a ver o perfil da outra pessoa, o que pode intensificar esses sentimentos negativos.

"É escravizante querer ter a certeza do nosso valor exclusivamente pelo outro, ainda mais no caso do passado", diz o psicólogo. "Olhar demais para isso é esquecer as descobertas do presente e as promessas do futuro."

Talvez a forma mais simples de começar encarar esse problema seja pensar em ti mesmo e em tudo o que já viveste. Quando olhamos para trás podemos perceber que não é o nosso passado que nos define, mas o que aprendemos e decidimos levar para a vida e futuras decisões. O mesmo acontece com nosso namorado ou namorada.

É claro que ter curiosidade sobre o passado daquele com quem estamos a dividir a nossa intimidade não é nenhum crime nem algo fora do normal. A única coisa que devemos ter em atenção é sobre o que estamos a querer saber, o quanto causa incómodo e se os pensamentos sobre o assunto aparecem de forma recorrente. Com isso, podemos desenvolver uma forma de saber sobre o que não devemos ir atrás e como lidar melhor com algumas revelações.

Para o psicólogo as únicas informações do passado que devem ser levadas em conta são as que indicam se a pessoa com quem estamos é de confiança, se os seus comportamentos nos agradam e se se alinham com o que pensamos, com os nossos valores e intenções em comum para o futuro.

"Comparações com o passado do namorado ou namorada são um investimento sempre fadado ao fracasso, pois não apenas se baseiam em algo já acabado, mas porque buscam uma certeza que não existe.", diz Almeida.


Exclusivo PÚBLICO/ Folha de S. Paulo

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