Palcos da semana: a “bumbar” com Ney, sacrifício, terror e Homens Hediondos
Os próximos dias são para entrar no 18.º Motelx, rir à Sombra de Mariana Cabral, reencontrar Ney Matogrosso, ver Nuno Cardoso a solo e estrear Cordeiros de Deus ou Soldados da Esperança.
Ney (outra vez) de Bloco na Rua
Há muito conquistou carinho e admiração, ao dar voz a êxitos como Viajante, Tanto amar ou Rosa de Hiroshima. Mas o sucesso de Ney de Souza Pereira, nascido em 1941 no Mato Grosso do Sul (daí o nome artístico), é também indissociável das performances ao vivo, onde é camaleão a mover-se por terrenos extravagantes, sempre com a liberdade criativa a comandar o processo. Está de volta a Portugal para pôr novamente o seu Bloco na Rua.
Já esteve por cá com este espectáculo em 2019 e no Rock In Rio Lisboa 2022. Mas vem de alinhamento refrescado. E é sempre uma dádiva assistir à expressão do espírito e corpo irrequieto de quem, aos 83 anos, não pára nem quer parar de deixar rendido quem o vê actuar.
Assim tem acontecido com esta digressão, que é extensa (tal como a anterior, em que andou Atento aos Sinais ao longo de cinco imparáveis anos), que combina canções suas e alheias, e na qual veste o figurino – tão essencial como a sua música – assinado por Lino Villaventura.
Um actor, múltiplos Homens Hediondos
Nuno Cardoso, director artístico do Teatro Nacional São João, está de volta à representação. O regresso tem a forma de um monólogo baseado em histórias (ou melhor, entrevistas ficcionais e mordazes) do escritor David Foster Wallace. Um solo que não tem uma só voz, mas muitas, todas masculinas: “o deprimido, o grande amante, o porco, o que sabe tudo, o ressabiado, o misógino, o injustiçado, a eterna vítima ou o brutamontes”, elenca a folha de sala. Homens Hediondos, resume o título.
A peça está agora pronta a ser estreada, depois de ter sofrido um adiamento da data original, em Junho. A encenação é entregue a Patrícia Portela que, “mais do que julgar em palco situações de sexismo, machismo, racismo ou misoginia (...) pretende confrontar o público com aqueles momentos em que é apanhado a tolerar certos comportamentos e relações de poder”.
Liberdade ao terror
A inteligência artificial aplicada por Edgar Pêra a Cartas Telepáticas. Sasquatch Sunset, dos irmãos Zellner, no lote de estreias nacionais. A projecção d’A Culpa de António Victorino D'Almeida. O cinema indiano a marcar presença, por exemplo, com Kill, de Nikhil Nagesh Bhat, “o filme mais sangrento desta edição”.
Cinco filmes que a censura proibiu (que o Estado Novo não era grande adepto do terror). Uma sessão-surpresa a propósito do cinquentenário do 25 de Abril. E Nicolas Cage no encerramento, a protagonizar The Surfer. Eis alguns dos moldes em que o Motelx - Festival Internacional de Cinema de Terror de Lisboa faz check-in na edição em que atinge a maioridade.
Com a Bumba à Sombra
Coimbra é a primeira cidade a pôr-se à Sombra de Mariana Cabral, mais conhecida como Bumba na Fofinha nas lides humorísticas. Pronta a reinvestir no stand-up, depois do sucesso que foi Suar do Bigode, e novamente grávida, com possibilidade de arrotos e enjoos súbitos, lança-se à façanha de dar 18 espectáculos em nove salas país fora. Mais datas houvesse (e têm sido acrescentadas algumas), mais lotações esgotavam.
O seu “confessionário de ruindades sobre o nosso lado mais sombrio, mesquinhozinho e egomaníaco” segue para Figueira da Foz (18 de Setembro), Albufeira (21), Braga (23 e 24), Lisboa (28 e 29; 1 e 3 de Outubro), Guimarães (8 e 9), Porto (12, 13 e 15), Aveiro (20) e Leiria (29 e 30).
Sacrifício em distopia
Apoiado no relatório do Holocausto feito pelo herói de guerra polaco Witold Pilecki e noutros relatos históricos, Elmano Sancho convoca personalidades reais ou imaginárias para procurar o significado de sacrifício na actualidade. Deus não escapa à conversa.
Na peça, intitulada Cordeiros de Deus ou Soldados da Esperança e apresentada como “uma ficção distópica e (pós) apocalíptica”, o acto sacrificial é “entendido como sinal de libertação”, esclarece o encenador e autor do texto, que também integra o elenco, ao lado de Custódia Gallego, Duarte Melo, Lucília Raimundo e Rafael Carvalho.
“O vaivém entre o íntimo e o universal, a seriedade e o humor, a esperança e o desespero, a dúvida e o conhecimento, o desconforto e a incerteza, pauta a história que, aqui e agora, se procura contar: a da defesa incessante da democracia e da liberdade, ontem, hoje e amanhã”, acrescenta.
Depois da estreia em Lisboa, o espectáculo sai em digressão nacional. Em Outubro, vai a Ponte de Lima (dia 4), Viseu (11), Torres Novas (18), Vila Nova de Famalicão (25) e Coimbra (31); em Novembro, a Aveiro (dia 2) e Portalegre (9).