Amigas (ou inimigas) invisíveis

Cuidar bem dos micro-organismos que moram dentro de nós é um excelente passo para ter mais saúde.

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Você já reparou que existem pessoas que parecem comer de tudo e estão sempre com o mesmo peso? Uma das respostas para esse aparente milagre pode estar nos seres que moram no intestino desses abençoados pela sorte. Vivemos em uma espécie de simbiose com trilhões de organismos microscópicos que habitam nosso corpo. Pode parecer alarmante, mas uma quantidade massiva de bactérias, fungos e vírus passeia por nossa pele e dentro de nós e influencia desde a digestão até o sono, os humores, a imunidade e mesmo — os cientistas estão descobrindo — padrões de comportamento como os do espectro autista.

O conjunto dessas amiguinhas — ou inimiguinhas, dependendo do contexto —, que vivem no intestino humano é chamado de microbiota. Tudo o que uma pessoa ingere, os remédios que toma, o estresse e a quantidade de exercícios físicos mexem com elas, que, em retorno, influenciam a nossa saúde. Segundo os pesquisadores, nosso intestino e o que há dentro dele são tão importantes que esse órgão pode ser chamado de “segundo cérebro”.

Não é por acaso que os médicos recomendam o parto normal e a amamentação. Nascemos sem microbiota e formamos esse conjunto de bactérias principalmente no começo da vida. As primeiras vêm da mãe durante o parto vaginal. As fibras presentes nos carboidratos compõem cerca de um terço do leite materno e alimentam as bactérias que colonizam o intestino do bebê.

Ao longo da vida vamos adquirindo outros micro-organismos. Esses pequenos invasores serão parcialmente responsáveis por “ensinar” o sistema imunológico a reconhecer o que deve ou não ser atacado. Sua composição e diversidade também vai influenciar as respostas metabólicas, o risco de uma pessoa ser obesa, ter doenças cardíacas e autoimunes, diabetes tipo 2, alergias e várias outras questões de saúde.

A composição da microbiota é única em cada ser humano, e os cientistas acreditam que, em geral, quanto maior sua diversidade melhor para a saúde. Mas existem bactérias boas e outras que causam doenças, e o que a gente faz muda o equilíbrio entre elas. Com uma boa alimentação, exercícios físicos, noites bem dormidas e controle do estresse podemos, até certo ponto, fazer com que elas atuem a nosso favor. Até certo ponto porque, por enquanto, ninguém sabe exatamente o que esses seres minúsculos fazem e como atuam.

Os cientistas já têm algumas certezas. Um grande estudo descobriu que a quantidade de bactérias boas cresce quanto mais fibras ingerimos. As fibras estão presentes nas plantas (frutas, verduras, cereais integrais, sementes, castanhas e leguminosas, como feijão e grão de bico) em diferentes quantidades. Acredita-se que alimentos fermentados não pasteurizados, como iogurte e kombucha, podem a melhorar a composição da microbiota. E os famosos ultraprocessados, cheios de gorduras trans, sal, açúcar, corantes e conservantes, fazem mal às bactérias boas da microbiota, e por consequência, ao metabolismo e à saúde em geral.

Quanto à questão das pessoas que parecem nunca engordar, uma pesquisa publicada na revista Nature em dezembro de 2021 mostrou que os tipos de bactérias comuns nos intestinos das pessoas obesas retiram as calorias dos alimentos com mais facilidade. Mas esse, claro, é apenas um dos fatores do ganho de peso. Como não temos um modo simples de mudar a composição da nossa microbiota, podemos tentar, pelo menos, cultivar, com bons hábitos e boa alimentação, as bactérias que nos ajudam a permanecer saudáveis. Mal não vai fazer.

Se esse assunto interessa, recomendo o documentário Os Segredos da Alimentação, disponível no Netflix, que aborda o tema de maneira divertida e didática.

Segue uma receita com alimentos cheios de proteína e fibras que vão ajudar a deixar felizes as bactérias boas do seu intestino.

Salada mexicana de feijões

- 500 gr de feijões vermelhos cozidos

- 1 xícara de milho verde cozido

- 1/2 xícara de pimentão vermelho picado

- ½ cebola roxa picada

- Suco de 1 limão

- 1 punhado de salsinha picada

- Sal, pimenta do reino, cominho em pó a gosto

Misture a cebola e o limão e deixe descansar por dez minutos (o limão suaviza o gosto da cebola crua). Despeje os feijões em uma peneira e lave bem. Depois, é só juntar os outros ingredientes. Coma com folhas verdes ou tortilhas de milho.

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