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Fotógrafo iraniano traz o retrato da morte lenta do Mar Cáspio
A melancolia e a ansiedade climática marcam o tom do livro Caspian: A Southern Reflection, que resulta de nove anos de trabalho do fotógrafo Khashayar Javanmardi em torno de um Mar Cáspio em crise.
Khashayar Javanmardi é, nas suas próprias palavras, “um filho do Cáspio”. O fotógrafo de 33 anos cresceu no norte do Irão, numa zona banhada pelo sul do lago a que todos chamam mar, “num local onde os lares eram conhecidos pela sua simpatia e generosidade”, escreve nas páginas do livro Caspian: A Southern Reflection, que será lançado em Outubro pela Loose Joints e que resulta de nove anos de trabalho do fotógrafo sobre o tema da degradação ambiental da região.
“Desde que me lembro que esta encantadora região atrai visitantes e amantes da natureza”, continua Javanmardi. Recorda com carinho os Verões que passou naquelas praias, dos sonhos que alimentou enquanto se banhava nas águas frias e cristalinas do Cáspio. “A minha primeira viagem solitária e o meu primeiro amor desenrolaram-se na orla daquele mar”, reforça.
Mas as águas do Cáspio já não são cristalinas. E as suas praias já não são idílicas – as fotografias do iraniano deixam bem claro que elas estão, hoje, marcadas pela presença de lixo e detritos. “Se eu um dia pudesse falar com aqueles que lançam crude e veneno sobre as águas e falar-lhes das mortes maciças de flamingos...”, desabafa. “E das redes vazias dos pescadores, que outrora estavam cheias do peixe que era o sustento de tantas famílias e que, hoje, nada sacam das águas que não seja detritos de um mundo em decadência.”
As mais de 40 fotografias que compõem o livro do iraniano descrevem, com um amor quase palpável, as paisagens costeiras do Cáspio afectadas pela redução do nível das águas, que deixam estruturas e equipamentos costeiros ao abandono, sem propósito; elas retratam também as pessoas que, sem outra opção, convivem com essa progressiva degradação e que são forçadas à adopção de novas estratégias para garantir o seu sustento. A poluição resulta na morte de animais, dentro e fora de água, e na ameaça a um ecossistema de características únicas em todo o mundo.
A diminuição do nível das águas do Cáspio tem base em duas grandes condicionantes: por um lado, há registo de menor precipitação e de temperaturas mais elevadas naquela região nos últimos anos, consequência das alterações climáticas, por outro, a construção de barragens e grandes reservas de água nos rios que desaguam no Cáspio, como o Volga, o Ural ou o Terek, fazem diminuir a quantidade de água do grande lago.
“Alterem o nome deste Cáspio”, alerta o fotógrafo. “Não é um mar. As pessoas referem-se ao Cáspio como sendo um mar talvez por respeito ou amor, mas isso distancia-nos do mal que lhe é infligido. (…) Este corpo de água, este vasto lago, não desagua, os venenos que lá são depositados não são diluídos noutras águas.” Lamenta. “À medida que o grande lago adoece, também nós adoecemos.”
“Tive muita sorte por crescer nas margens de um dos maiores lagos do mundo. Mas agora pergunto-me se terei a sorte de o ver sorrir mais alguma vez?” Sente medo ao ver “morrer” lentamente o Cáspio e a vida em redor. “Há provas contundentes do seu declínio por toda a parte, a inegável verdade não pode mais ser ignorada. A morte dos peixes e a tristeza nos olhos daqueles que um dia olharam para o céu com esperança são indícios de um mundo que se torna cada vez mais negro.”