Zelensky remodela Governo para dar “nova energia” à Ucrânia para combater a Rússia
Presidente ucraniano apela directamente a EUA, Reino Unido, Alemanha e França para levantarem restrições ao uso de armas de longo alcance para atacar território russo.
No dia em que anunciou a maior remodelação do seu governo desde o início da invasão russa para dar à Ucrânia a “nova energia” que o país precisa, o Presidente Volodymyr Zelensky apelou directamente a quatro países - Estados Unidos, Reino Unido, Alemanha e França - para levantarem as restrições à utilização de armas de longo alcance para atacar o território da Rússia.
“Com o devido respeito por cada país, precisamos de autorização para utilizar armas de longo alcance dos países que nos fornecem essas armas. Depende deles, não da coligação de todos os países amigos do mundo. Depende de Estados muito específicos: os Estados Unidos, o Reino Unido, a França, a Alemanha”, disse o Presidente ucraniano numa conferência de imprensa com o primeiro-ministro da Irlanda, Simon Harris, de visita oficial a Kiev.
Insistindo que apenas estas quatro nações aliadas têm o poder “para resolver os nossos problemas”, Zelensky recordou os recentes ataques aéreos da Rússia a Kiev, Poltava, Lviv e Kryvyi Rih. “Todos os dias perdemos pessoas”, lamentou o líder ucraniano, salientando que, enquanto a Ucrânia tem de lidar com este problema, a Rússia continua a produzir armas apesar das sanções internacionais, graças às acções de outros países. “O Estado russo cria vários esquemas para contornar as sanções”, acusou.
“Tudo isto só pode ser travado através de um trabalho conjunto forte e atempado de todos os países que valorizam uma ordem mundial normal e baseada em regras e que querem a paz”, disse Zelensky após a assinatura de um acordo de cooperação a dez anos com a Irlanda que prevê até 170 milhões de euros para iniciativas de segurança, humanitárias e de infra-estruturas até ao final de 2024.
O Presidente ucraniano aproveitou também a conferência de imprensa conjunta com o chefe de governo irlandês para justificar a alargada remodelação governamental que promoveu e que, até agora, deixou quatro saídas confirmadas e uma quinta a aguardar aprovação parlamentar, a do ministro dos Negócios Estrangeiros, Dmitro Kuleba, um dos rostos mais conhecidos do Governo da Ucrânia desde o início da invasão russa, em Novembro de 2022.
“Estou muito grato aos ministros e a todo o gabinete que trabalharam para a Ucrânia durante quatro, ou mesmo cinco anos, mas precisamos agora de uma nova energia”, afirmou Zelensky, que já tinha ligado antecipadamente as mudanças no executivo devido aos grandes desafios dos próximos anos, como a adesão à NATO e à União Europeia.
“Esta decisão está relacionada com o reforço do nosso Estado em várias direcções, e a política internacional e a diplomacia não são excepção”, disse o Presidente ucraniano.
Os analistas afirmam que a remodelação do governo ucraniano já estava planeada há algum tempo, mas foi adiada porque Zelensky se concentrou nas conversações com os parceiros ocidentais de Kiev durante o Verão de forma a garantir a continuidade da ajuda militar e financeira.
“Agora, metade do governo será renovado. Este é o estilo de Zelensky. Ele acredita que os novos ministros vão trazer nova energia, novas abordagens e trabalhem de forma mais activa”, disse à Reuters o analista político ucraniano Volodymyr Fesenko.
“O Outono será extremamente importante para a Ucrânia. E as instituições do nosso Estado devem ser configuradas para que a Ucrânia alcance todos os resultados de que necessitamos”, disse Zelensky na terça-feira.
O analista ouvido pela Reuters não acredita que se verifique uma grande mudança na política externa da Ucrânia após a saída de Dmitro Kuleba, cuja demissão será esta quinta-feira discutida no Parlamento de Kiev. Para o seu lugar, Zelensky deverá nomear o até agora o número dois da diplomacia ucraniana, Andrii Sybiha.
A remodelação governamental surge numa altura crucial para a Ucrânia, que tem vindo a perder para a Rússia, ainda que lentamente, território na região de Donetsk. Ao mesmo tempo, os ataques russos com drones e mísseis às infra-estruturas energéticas têm causado cortes de energia em todo o país.
A audaciosa investida transfronteiriça na região russa de Kursk, onde o Exército ucraniano tomou cerca de mil quilómetros quadrados de território em três semanas, deu um importante impulso moral a Kiev e mostrou aos aliados que a Ucrânia ainda é capaz de surpreender um inimigo militarmente superior. Resta saber se esses mesmos aliados darão a Zelensky as armas que a Ucrânia necessita para virar o rumo da guerra.