Dulcineia: o homem duplicado
O filme de Artur Serra Araújo, a partir de um romance de João Tordo, é uma coisa baça, incapaz de reflectir o que quer que seja. Despacha a literatura sem ganhar o cinema.
A vasta tradição do tema do duplo, do doppelgänger, e somando a literatura ao cinema, tanto pode servir para o romantismo mais exacerbado como para o gelo mais absoluto, para a aventura intelectual na loucura ou na racionalidade, para a comédia ou para o drama. Ou então, como acontece neste Dulcineia que Artur Serra Araújo extraiu a um romance (O Ano Sabático) de João Tordo, para algo que não é nem carne nem peixe, uma entidade amorfa e soturna que não tem nenhum plano, nem nenhum fragmento de plano, que exprima qualquer sinal de um desejo de existir, de ser um filme (e, consideração marginal, a produção portuguesa de ficção deve estar a aproximar-se de uma espécie de “normalidade” tendo em conta a abundância de filmes assim, que parecem existir, muito burocraticamente, apenas porque sim).
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