Ataques aéreos mais intensos e sofisticados expõem fragilidade defensiva da Ucrânia
Volodymyr Zelensky insiste na entrega de mais sistemas de defesa antiaérea depois de ataque russo com mísseis balísticos que causou mais de meia centena de mortes na cidade de Poltava.
O ataque aéreo russo desferido esta terça-feira sobre a cidade ucraniana de Poltava, que provocou mais de meia centena de mortes e pelo menos 235 feridos, evidenciou uma vez mais que uma das maiores vulnerabilidades da Ucrânia é, neste momento, a falta de sistemas de defesa antiaérea capazes de deter o número crescente e mais sofisticado de ataques com mísseis e drones lançados pela Rússia.
Logo após o ataque, que atingiu uma instituição de ensino militar e um hospital na cidade situada no centro do país, o Presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky, voltou a pedir mais sistemas de defesa antiaérea, mísseis de longo alcance e caças para proteger a Ucrânia dos ataques russos, repetindo a ideia, formulada na véspera durante um encontro com o primeiro-ministro dos Países Baixos, Dick Schoof, de que as entregas ocidentais de armamento são demasiado escassas e lentas.
“Mais uma vez, apelamos a todas as pessoas do mundo que têm o poder de pôr termo a este terror: os sistemas de defesa aérea e os mísseis são necessários na Ucrânia, não num armazém algures”, afirmou Zelensky numa mensagem em vídeo emitida logo após o ataque a Poltava, no qual Moscovo terá utilizado mísseis balísticos Iskander-M, com um alcance até 500 quilómetros.
“Os ataques de longo alcance que nos podem proteger do terror russo são necessários agora, não mais tarde. Cada dia de atraso, infelizmente, significa mais vidas perdidas”, disse ainda o Presidente ucraniano.
A Rússia intensificou nos últimos meses os seus ataques conjuntos com mísseis e drones. Na semana passada, a Ucrânia sofreu o mais forte bombardeamento até à data e, na segunda-feira, mísseis balísticos e de cruzeiro atingiram a capital, Kiev, provocando fortes explosões.
Esta série de ataques exibiu também uma mudança táctica: o poder de fogo russo, maior e mais complexo, inclui agora uma combinação de mísseis de cruzeiro, balísticos e hipersónicos. E, de modo a confundir e a sobrecarregar as defesas antiaéreas ucranianas, Moscovo começa frequentemente por lançar dezenas de drones de ataque, a que se seguem vagas de mísseis disparados de diferentes locais. Para complicar ainda mais as defesas ucranianas, a Rússia aumentou a utilização de armamento mais difícil de interceptar, como o míssil balístico Iskander-M e o míssil de cruzeiro Kh-22.
O ataque russo a Poltava, o mais mortífero deste ano, e o repetido apelo do Presidente ucraniano ocorreram num dia em que Kiev até recebeu boas notícias no que diz respeito ao fornecimento de armas. O Parlamento da Roménia aprovou um projecto de lei que permitirá ao país entregar à Ucrânia um sistema de defesa antiaérea Patriot e, segundo a agência Reuters, a Alemanha planeia doar um total de 12 sistemas de defesa antiaérea IRIS-T SLM, sendo que quatro foram já entregues.
Longo alcance
Já o pedido em que Zelensky tem insistido mais nos últimos meses, o fornecimento de mísseis de longo alcance que permitam à Ucrânia desferir ataques no interior do território russo, estará também mais perto de se tornar realidade. Segundo a Reuters, os Estados Unidos estão prestes a aprovar a entrega a Kiev dos tão desejados mísseis de cruzeiro, embora com um senão: a Ucrânia terá de esperar vários meses enquanto os EUA resolvem uma série de questões técnicas.
Segundo três fontes da Administração Biden ouvidas pela Reuters, a inclusão dos mísseis JASSM (sigla em inglês para Joint Air-to-Surface Standoff Missiles) num pacote de armas deverá ser anunciada este Outono, embora não tenha sido tomada uma decisão final.
O envio deste tipo de mísseis para a Ucrânia poderá alterar significativamente o cenário estratégico do conflito, colocando uma maior parcela do território da Rússia ao alcance de munições mais poderosas e precisas.
Analistas militares sugeriram que a introdução dos JASSM, furtivos e com maior autonomia do que a maioria dos mísseis que fazem actualmente parte do inventário ucraniano, poderia forçar a Rússia a recuar em centenas de quilómetros as suas próprias zonas de lançamento e armazenamento, complicando seriamente a capacidade de manter as suas operações ofensivas. Potencialmente, daria à Ucrânia uma importante vantagem estratégica.
O seu lançamento a partir de pontos próximos da fronteira norte da Ucrânia com a Rússia poderia permitir-lhe atingir instalações militares tão distantes como as cidades russas de Voronezh e Bryansk. No Sul, lançá-los perto das linhas da frente possibilitaria ataques a aeródromos ou instalações navais na península ocupada da Crimeia.