Bad Monkey: Vince Vaughn e o braço cortado entre a Florida e as Bahamas
Adaptação do livro homónimo de Carl Hiaasen lançado em 2013 segue um detective suspenso da polícia por entre homicídios, diálogos screwball e crime na Apple TV+.
Um braço cortado é pescado por uma pequena embarcação de pesca turística. Terá sido um acidente? Um tubarão? Um homicídio? É esse o pretexto para o arranque da história de Bad Monkey, a nova série de mistério e detectives da Apple TV+ estreada a 14 de Agosto. Com dez episódios (já saíram quatro), é uma criação de Bill Lawrence a partir do livro homónimo de Carl Hiaasen lançado em 2013. No centro está Vince Vaughn como Andrew Yancy, que foi detective da polícia de Miami e, por auto-sabotagem bem-intencionada, foi relegado para investigar crimes no arquipélago das Florida Keys. Não que leve isso muito a mal: gosta de estar a olhar para o mar a partir de casa, a relaxar e a interagir com a fauna local.
Quando a série começa, Yancy está suspenso da polícia. Nesse caso, a culpa é só dele: empurrou, de carro, o carrinho de golfe do marido da namorada para o mar (com o marido lá dentro). Pouco depois, o chefe põe-no a fazer inspecções alimentares em restaurantes. Voltando ao braço, Yancy é incumbido, pelo antigo parceiro policial e como favor ao chefe, que não quer que o crime afugente turistas, de levar o braço para Miami, para tratarem dele lá.
Contra tudo e todos, começa a suspeitar de homicídio e decide investigar, de forma não sancionada pela polícia. Sabe sempre que a sua vida seria melhor se ficasse quieto, mas tem sempre a vontade de fazer a coisa certa. A história acaba por se cruzar com uma médica-legista que trabalha na morgue e irá estabelecer uma parceria com Yancy, uma viúva pouco chorosa, e o seu namorado, um promotor imobiliário que está a desenvolver um empreendimento de luxo em Andros, nas Bahamas. É nessa ilha que um pescador (é o dono do macaco que dá nome à série) está a ser expulso de sua casa e tenta pôr uma maldição no promotor imobiliário. Há ainda o capitão da pequena embarcação de pesca e que narra tudo isto e vai revelando o que é que há em comum entre esta gente toda. Pelo meio, homicídios e múltiplas personagens e histórias.
Vaughn, cujos papéis no cinema têm sido escassos nos últimos anos, mas que impressionou como uma adição tardia a Curb Your Enthusiasm, é óptimo como Yancy, que passa a vida a falar e a dizer piadas de uma forma que navega muito bem os limites entre o sarcástico, o carinhoso e o carismático. Ele quer saber. Nunca é maldoso – está a anos-luz do idiota sarcástico mas carismático cheio de si Fletch, a personagem criada por Gregory Mcdonald, na versão Chevy Chase – e consegue sempre fazer amigos facilmente. Os ritmos de troca de diálogos com Natalie Martinez, que faz de Rosa Campesino, a tal médica, são particularmente satisfatórios, com um travo screwball, a lembrar os tempos de parcerias como a de William Powell e Myrna Loy, tanto como Nick e Nora Charles na saga O Homem Sombra como nos outros filmes que protagonizaram entre os anos 1930 e 40, se bem que com uma quantidade de álcool mais sensata e reduzida. Lawrence, o veterano da televisão que criou ou co-criou séries como Cidade Louca, Médicos e Estagiários, Cougartown ou, mais recentemente, Ted Lasso e Shrinking, é particularmente bom nisso.
O elenco inclui ainda Meredith Hagner, Rob Delaney, Michelle Monaghan, Ronald Peet, Jodie Turner-Smith, John Ortiz, Alex Moffat, Ashley Nicole Black ou Zach Braff, de Médicos e Estagiários. Mesmo que tenha um mistério no meio, é uma comédia, focada em fazer as pessoas rir – Delaney, Moffat e Black vêm todos do mundo da comédia. Tem muita atenção ao detalhe dos locais onde se passa, já que Hiaasen, o autor da história, começou como jornalista e a escrita dele é valorizada por isso. É uma Florida bem menos amarela ou laranja do que a de CSI: Miami ou outra ficção audiovisual que tenta realçar o calor da zona através das cores. E, como é comum na obra de Lawrence, é sempre melhor quando as personagens estão a passar tempo juntas, só a falar ou a beber.