Câmara de Vila do Conde diz que obra parada do passadiço do Mindelo vai avançar
Autarquia afirma que IGAMAOT nunca mandou parar obra após denúncia de associação local, mas pediu que “falha administrativa” fosse corrigida. Ambientalistas dividem-se sobre relocalização da estrutura
Não houve ilegalidade, houve uma “falha administrativa” que mereceu um pedido de correcção por parte da Inspecção-Geral da Agricultura, Mar, Ambiente e Ordenamento do Território (IGAMAOT), a propósito de um troço da obra de reconstrução dos passadiços da Reserva Ornitológica de Mindelo (ROM). Essa “falha” já está em vias de ser corrigida e a obra vai avançar. A garantia é dada pelo presidente da Câmara de Vila do Conde, Vítor Costa, contra a vontade da Associação Pé Ante Pé (APAP), que considera que a autarquia saltou algumas etapas para pôr a obra a andar e defende uma alternativa à construção desse lanço do passadiço por acreditar pôr em causa a biodiversidade da reserva natural mais antiga do país. Mas as opiniões entre ambientalistas dividem-se. O núcleo do Mindelo do FAPAS - Associação Portuguesa para a Conservação da Biodiversidade entende não existir outro local melhor para se construir a estrutura.
A notícia foi avançada pelo JN nesta quarta-feira. Lê-se no artigo que parte da obra em curso na ROM está parada a mando da IGAMAOT, no seguimento de denúncia feita pela APAP, que alertava para a destruição “da duna secundária e de muitos dos charcos onde nidificam anfíbios”. A mesma associação queixava-se de não se estar a cumprir o regulamento da ROM e de não se ter ouvido antes do início dos trabalhos o conselho directivo da ROM, cujo parecer afirma ser “obrigatório e vinculativo”.
Contactado pelo PÚBLICO, o presidente da Câmara de Vila do Conde nega ter chegado à sua autarquia qualquer notificação enviada pela IGAMAOT que obrigasse à paragem da obra nesse troço da empreitada, junto à ribeira de Silvares. Vítor Costa afirma ter sido a autarquia a decidir não avançar com os trabalhos até que se resolvesse uma “falha administrativa” identificada pela IGAMAOT.
Ao PÚBLICO, o presidente da APAP, Pedro Martins, diz desconhecer o conteúdo do documento que chegou à câmara. A associação que preside, que fez a denúncia, não foi avisada pela IGAMAOT que a câmara tinha sido notificada. Por isso, não consegue confirmar se se pedia que a obra não avançasse - o PÚBLICO enviou perguntas ao IGAMAOT, mas não chegou resposta. Porém, continua a defender não terem sido cumpridos os trâmites legais para que a obra possa avançar. “Para se desenvolver este tipo de obras, é necessário um parecer vinculativo do conselho directivo (da ROM)”, afirma. Só que esse parecer, sublinha, deveria ter sido dado antes do início dos trabalhos.
Parecer tardio
O conselho directivo da ROM não tinha sido ouvido antes da obra arrancar “porque ainda não estava constituído”, justifica o presidente da Câmara de Vila do Conde. Vítor Costa diz que este órgão - composto por representantes da autarquia, da Universidade do Porto (UP) e do Conselho Metropolitano do Porto - há uns meses ainda não tinha representante da UP. Só na próxima semana é que vai reunir para dar o aval que falta dar, depois de outras entidades “como a APA, o ICNF e a Área Metropolitana do Porto” já o terem feito anteriormente. Pergunta-se se está seguro de que este parecer tardio do conselho directivo da ROM vai ser aceite pela IGAMAOT. “Estou confiante que sim”. E “a obra vai avançar”, assegura. A APAP considera estranho que, "apesar de a câmara fazer parte do conselho directivo", já parta do princípio que o parecer será positivo, tendo em conta que é composto por outras entidades.
Sobre a relocalização do passadiço, que depois de uma ruptura dunar no início do ano passado no areal da praia, passa a ficar mais afastado do mar, a autarquia entende não haver outra zona onde pudesse ser instalado e que é o melhor sítio para mitigar o impacto na biodiversidade da reserva natural.
O mesmo defende Vítor Gonçalves, representante do núcleo do FAPAS no Mindelo, que acredita que, a existir passadiço naquela zona - que representa cerca de 250 metros de oito quilómetros de travessia para peões e bicicletas que está a ser reconstruída -, que seja no sítio para onde foi relocalizado. O passadiço, antes de ser destruído, “trouxe gente à ROM” e, defende, permite que a reserva natural não seja “pisoteada”.
Já Pedro Martins, da APAP, acredita que a melhor solução seria prescindir da estrutura naquela área. A alternativa, defende, seria o passadiço “inflectir para dentro para ser usada a rede natural de caminhos que existe na reserva”. “No final dessa mancha florestal, seguiria novamente para o litoral e prosseguiria pelo passadiço existente. Entendemos que o atravessamento daquela zona dunar deve ser feito pelos caminhos existentes na zona florestal”, conclui.