Khaleb Brooks é o artista escolhido para criar o memorial aos escravizados de Londres

Obra deverá ser inaugurada em 2026 e, para já, conta com um financiamento de mais de meio milhão de euros. Portuguesa Grada Kilomba está entre os cinco artistas preteridos na fase final.

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The Wake é uma instalação em forma de concha de búzio feita em bronze e com quase sete metros de altura Cortesia: Khaleb Brooks/Câmara de Londres
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The Wake foi feita para atravessar, mas também como lugar de refúgio onde é possível lidar com uma parte da história que tem ramificações profundas no presente Cortesia: Khaleb Brooks/Câmara de Londres
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No interior há lista de nomes de vítimas do tráfico de escravizados, tantas vezes esquecidas pelos arquivos que servem de fonte à investigação histórica Cortesia: Khaleb Brooks/Câmara de Londres
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The Wake quer criar um espaço de memória, mas também de reflexão e de contemplação Cortesia: Khaleb Brooks/Câmara de Londres
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Khaleb Brooks ganhou o concurso para a criação de um memorial às vítimas do tráfico transatlântico de escravizados, que deverá ser inaugurado em Londres dentro de dois anos, noticia o Art Newspaper.

The Wake, assim se chama o projecto que será construído no Cais das Índias Ocidentais, na zona das Docas, uma área junto ao rio Tamisa onde ainda existem edifícios que foram usados para armazenar bens, como o açúcar, vindos das plantações das Índias Ocidentais onde trabalhavam homens, mulheres e crianças que tinham perdido a sua liberdade e eram tratados como mercadoria, é uma instalação em forma de concha de búzio, feita em bronze e com quase sete metros de altura.

Brooks foi a escolha de um painel de consultores composto, entre outros, por Zoé Whitley, directora da Galeria Chisenhale, e pela artista Glory Samjolly, e deixa para trás outros artistas que estavam na corrida a esta obra que conta já com um financiamento camarário de 590 mil euros.

Desse naipe de artistas preteridos já na fase final do processo, composto por Alberta Whittle, Helen Cammock, Hew Locke e Zak Ové faz ainda parte a portuguesa Grada Kilomba, que também já concorrera a um memorial com objectivos semelhantes em Lisboa, monumento esse que em 2020 acabou por ser confiado ao angolano Kiluanji Kia Henda e que, passados anos e vários avanços e recuos em torno da sua localização, não saiu do papel.

Khaleb Brooks, que nasceu em Chicago e é descendente de escravizados no Mississípi, quer que The Wake lembre àqueles que o contemplarem e nele entrarem que a história da escravatura é partilhada por todos, não apenas pelos negros, e que o comércio de seres humanos durante séculos não é uma coisa só do passado porque tem implicações profundas no mundo em que vivemos hoje.

“Quando falamos do comércio transatlântico de escravos, estamos a falar da história das pessoas e não apenas da história dos negros”, disse Brooks na apresentação do projecto vencedor, aqui numa citação do diário britânico The Guardian. “É a história de toda a gente nesta terra, independentemente do nosso envolvimento.”

Para não esquecer

O memorial será construído próximo do local onde, até 2020, esteve uma estátua que homenageava Robert Milligan, um proprietário de escravos do século XVIII, retirada depois dos protestos contra o racismo que levaram dezenas de milhares de pessoas às ruas de Londres, integrando uma onda internacional que condenou a brutalidade policial que redundou na morte de George Floyd, em Mineápolis.

“A intenção subjacente a este trabalho não é apenas recordar histórias e esperanças individuais, mas também contrariar a história de esquecimento incorporada no colonialismo”, acrescentou Brooks, aqui em declarações retiradas da página em que a câmara de Londres apresentou o projecto. “No Museu das Docas de Londres há uma lista de navios, capitães, proprietários e destinos que participaram no comércio de escravos, mas não há nomes de indivíduos escravizados. As vítimas são frequentemente excluídas dos arquivos”.

Para combater o esquecimento a que foram remetidas, Khaleb Brooks criou uma instalação em forma de concha de búzio - usada como moeda no tráfico rapidamente se tornou símbolo da exploração da vida humana - na qual se pode entrar e ficar.

O memorial, que teve o nome do artista por ele responsável divulgado a 23 de Agosto, Dia Internacional da Memória do Tráfico de Escravos e da sua Abolição, tem uma rampa de acesso com versos da escritora Yrsa Daley-Ward, a autora de Bone, e no seu interior há listas com nomes de pessoas escravizadas nas paredes e espaços em branco em reconhecimento de todos aqueles que, tendo sido também traficados, foi impossível até hoje identificar.

The Wake representa a perseverança, a prosperidade e a beleza enraizadas na herança e na diáspora africanas”, escreveu Brooks na sua conta da rede social Instagram, esperando que esta instalação que deverá ser inaugurada em 2026 sirva também como lugar de reflexão sobre o peso do racismo na vida social britânica. “Ainda estamos muito afectados pela história do tráfico. Por isso, espero que The Wake sirva para lembrar que ainda há muito trabalho a fazer”, cita por sua vez o Guardian.

Depois de inaugurado, o memorial, ao qual ficará associado um programa educativo ainda por divulgar, terá também conchas de búzio de muito menor dimensão espalhadas pela capital britânica, lembrando que o tráfico de escravizados ajudou a construir a cidade e era transversal à sociedade.

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