A tonalidade varia entre o verde e o castanho, têm o corpo coberto de milhares de pêlos brancos urticantes que funcionam como agulhas e, como o próprio nome indica, encontrámo-las a rastejar pelos troncos dos pinheiros e outras árvores sem folhas próximas de pinhais.
As crianças são avisadas para se manterem afastadas das lagartas-do-pinheiro e os adultos também, desde logo porque provocam comichão e urticária ao mais pequeno contacto com a pele. E se as pessoas não lhes devem mexer, os animais muito menos, já que os sintomas são mais severos e podem resultar numa “morte dolorosa e em poucos dias”, começa por explicar ao P3 a médica veterinária Sara Coelho.
Acontece que estas lagartas-do-pinheiro libertam substâncias tóxicas para os vasos sanguíneos, quando em contacto com o corpo do animal, e vão provocar irritações na pele, mesmo que a picada tenha sido numa parte do corpo com mais pêlo. Ao mínimo toque, seja na língua, no focinho, nas orelhas, nas patas ou noutras zonas, os cães e os gatos começam a sentir comichão, segue-se a vermelhidão e, por último, a necrose (ou morte) dos tecidos. Estas três fases pós-contacto acontecem de forma muito rápida.
De acordo com a médica veterinária, os tutores só costumam reparar que o animal tem sintomas quando a morte dos tecidos já está numa fase mais avançada, uma vez que as toxinas libertadas impedem a chegada do sangue à zona do corpo que foi picada.
“O dono costuma reparar quando o animal começa a utilizar as patas como se quisessem tirar alguma coisa da boca ou está sempre a esfregar consecutivamente o focinho no chão. E, quando a pessoa abre a boca do cão ou do gato, já está vermelha e com muito mau aspecto”, destaca.
Nestes casos, a única solução é entrar em contacto com um médico veterinário e levar imediatamente o animal a uma clínica ou hospital. Os donos não devem tocar na zona infectada.
Segundo Sara Coelho, a maioria dos casos de animais que tocaram em lagartas-do-pinheiro foram cães. No entanto, também pode acontecer com os felinos.
“Nunca vi nenhum gato que tivesse suspeita de ter estado em contacto com a lagarta-do-pinheiro, porque são animais mais inteligentes e, normalmente, menos curiosos do que os cães. Mas já vi cães morrerem ou perderem quase a totalidade da língua depois de terem estado em contacto. Aos poucos a zona do corpo que tiver estado em contacto com a lagarta vai apodrecer e cair”, explica.
No caso dos olhos, os sintomas são semelhantes aos de uma conjuntivite e pode também evoluir para úlceras de córnea. Os lábios começam a ficar inchados, a língua azul, existe ainda o risco de edema (ou seja, inchaço provocado pela acumulação de líquido) na traqueia do animal, vómitos e, em situações mais graves, choque anafiláctico.
No veterinário, os animais são imediatamente hospitalizados e alimentados através de sondas ao mesmo tempo em que são tratados. O tratamento, acrescenta Sara Coelho, “é doloroso” e passa desde logo pela amputação do membro infectado com as toxinas da lagarta.
Em casos mais graves, nomeadamente quando atinge o esófago e outros órgãos internos, pode ser necessário eutanasiar o animal. Mas também há uma boa notícia: há cura, quando a afecção é detectada numa fase inicial.
“Os cães que perdem a ponta ou metade da língua também conseguem fazer uma vida perfeitamente normal”, esclarece.
Na dúvida, passear o cão com a trela
Os casulos das lagartas-do-pinheiro são fáceis de distinguir por terem uma tonalidade branca ou acastanhada. No Verão, estes animais, que pertencem à família das traças, saem dos ninhos para irem à procura de comida e, normalmente, deslocam-se em fila como as formigas. É por isso que também são conhecidas como “processionárias”.
Além dos troncos das árvores, também andam pelo chão e enterram-se no solo até atingirem a fase adulta, o que acontece nos meses mais quentes do ano. Assim sendo, o perigo de ficarem em contacto com os cães ou gatos é ainda maior.
“É preciso que os donos tenham cuidado, quando passeiam com os cães no mato ou em quintas com pinheiros. Se não conhecerem a zona, devem primeiro fazer o reconhecimento do percurso sem o animal para perceberem se há perigo. Se o cão for sem trela, é muito rápido a cheirar, lamber ou tocar na lagarta e ficar com sequelas para a vida; por isso, devem colocar-lhes sempre a trela”, reforça a médica veterinária.
Os tutores que repararem que o cão ou o gato esteve em contacto com estas lagartas devem calçar luvas e retirar os pêlos da traça ao animal, impedir que este toque na zona infectada e levá-lo rapidamente ao veterinário para ser tratado.