Duas frentes activas no incêndio na Madeira. Aviões Canadair já estiveram no terreno
Aviões chegaram esta quinta-feira ao Porto Santo. Incêndio continua activo no Pico Ruivo e no Pico do Gato, na cordilheira central da ilha, e na Ponta do Sol.
Os dois aviões Canadair espanhóis chegaram esta quinta-feira ao arquipélago da Madeira e já estiveram a operar no combate às chamas. As aeronaves aterraram no Porto Santo durante a manhã e efectuaram descargas durante a tarde, com “impacto positivo na redução da intensidade do fogo”, informou o Serviço Regional de Protecção Civil (SRPC).
Ao cair da noite, o incêndio continuava com duas frentes activas, de acordo com o ponto de situação publicado às 21h: na cordilheira central da ilha, os fogos lavram no Pico Ruivo e no Pico do Gato; a outra frente activa é na Lombada, no concelho da Ponta do Sol. Na Lombada, o incêndio continua “confinado às zonas altas, longe das áreas habitacionais”. Nesta frente activa, o objectivo das equipas no terreno continua a ser “conter a propagação do fogo e defender as habitações”.
À hora da publicação da nota da SRPC, estavam no terreno “mais de 120 operacionais e mais de uma dezena de meios”, incluindo bombeiros de todos os corpos da Região Autónoma da Madeira, Bombeiros dos Açores e ainda da Força Especial da Protecção Civil.
A Protecção Civil esclareceu que os aviões Canadair “concentraram a sua actuação” no combate às chamas na cordilheira central, tendo efectuado oito descargas com “impacto positivo na redução da intensidade do fogo”.
“Além disso, só no dia de hoje o helicóptero realizou 35 descargas, focando-se principalmente nas áreas de mais difícil acesso e de maior risco de propagação”, acrescenta a nota divulgada.
Durante a tarde desta quinta-feira, Miguel Albuquerque, presidente do governo regional, esteve no Pico do Areeiro para assistir às primeiras acções dos aviões Canadair no terreno.
“Este despejo foi de cerca de sete toneladas de água. O nosso helicóptero carrega menos de mil litros por despejo. Portanto, são sete viagens de helicóptero. Se continuarmos a operar hoje e amanhã, vamos conseguir debelar este incêndio”, disse Miguel Albuquerque aos jornalistas. Os Canadair podem operar até ao anoitecer, regressando aos céus na manhã de sexta-feira.
“Estes são aviões com características muito peculiares, só não podem intervir em zonas urbanas e agrícolas. Podem intervir agora, porque o fogo derivou para a cordilheira central”, especificou Albuquerque, adiantando que os reacendimentos ocorreram em zonas de mato sem perigo para a população.
Comissão Europeia disponível para mobilizar mais recursos
“A Comissão Europeia anunciou esta quinta-feira estar disponível para mobilizar recursos adicionais para auxiliar no combate ao incêndio na Madeira perante as condições difíceis.” O executivo da União Europeia afirmou, em comunicado, que está a “acompanhar de perto a situação” e que está “preparado para enviar recursos adicionais, se necessário”.
“A Comissão Europeia está a mobilizar apoio para Portugal na luta contra um incêndio florestal perto da Ribeira Brava, na Madeira. O sistema de emergência por satélite Copernicus foi também activado para fornecer mapas às autoridades locais”, refere a instituição no comunicado.
Existiu, já esta quinta-feira, um reforço de operacionais e restantes meios, depois de ser accionado o Mecanismo Europeu de Protecção Civil (MEPC). Os reforços mais destacados ao abrigo deste mecanismo foram os dois aviões Canadair, uma ferramenta importante para as zonas de difícil acesso, com cada aeronave a ter capacidade de descarregar, de uma só vez, cerca de seis mil litros de água.
Este incêndio, que começou na serra de Água, na Madeira, há uma semana, consumiu uma área superior a nove mil hectares, segundo os últimos dados do Sistema Europeu de Informação sobre Incêndios Florestais, o que representa mais de 14% de toda a área florestal da ilha da Madeira. Estima-se que estes números tenham já subido face ao avanço das chamas durante a madrugada.
A juntar-se às preocupações das autoridades estão as condições meteorológicas. O aviso amarelo devido a temperaturas elevadas está em vigor até às 18h de sexta-feira, de acordo com o Instituto Português do Mar e da Atmosfera (IPMA), na costa sul, assim como nas regiões montanhosas e na ilha de Porto Santo.
Governo acompanha situação que “deve preocupar todo o país”
Na conferência de imprensa do Conselho de Ministros desta quinta-feira, o ministro da Presidência, António Leitão Amaro, afirmou que “o Governo da República tem estado em contacto permanente com o governo regional, que tem a responsabilidade de coordenação operacional”, acrescentando que “tem acompanhado” a situação, “prestado apoio”, referindo os 150 operacionais enviados do continente para a região autónoma para reforçar o combate ao fogo.
“A perda de vida natural, perda de capital natural, preocupa-nos naturalmente e é de lamentar. Por outro lado, à data de hoje, a esta hora, não se registam nem perdas de vidas humanas, nem perdas de habitações nem de infra-estruturas críticas. Dentro de algo que é sempre de lamentar e uma tragédia natural, é um dado que diminui essa aflição, a ausência de vítimas humanas e perda de habitações”, sublinhou.
Leitão Amaro esclareceu ainda que o Mecanismo Europeu de Protecção Civil “foi activado quando as autoridades regionais entenderam que estratégica e tacticamente era o momento adequado”. E acrescentou que o recurso a dois aviões Canadair provenientes de Espanha, ao invés de usar os meios aéreos nacionais, tem que ver com a capacidade e autonomia de voo das aeronaves espanholas.
“Enquanto os Canadair espanhóis podem ir a voar de Málaga, onde estavam, até à Região Autónoma da Madeira, onde já estão a esta hora, fazendo paragens, creio que nas [ilhas] Canárias, não tenho a certeza, [mas] sempre a voar, portanto numa deslocação rápida, no caso dos Canadair portugueses, que têm um outro modelo, uma autonomia de voo mais curta, teriam de ser transportados por um ferry ou um cargueiro, o que demoraria três dias, pelo menos”, explicou o ministro.
Leitão Amaro sublinhou que em incêndios anteriores, como o que destruiu o hospital de Ponta Delgada, nos Açores, em Maio, o Governo “já demonstrou (...) plena solidariedade com as regiões autónomas”, tendo aprovado medidas de apoio à região para fazer face a tragédia que ali se verificou”.
“Continuaremos sempre assim no mesmo espírito, com proximidade e apoio permanente”, disse.
Pedro Nuno expressa “preocupação e solidariedade” aos madeirenses
O secretário-geral do PS, Pedro Nuno Santos, manifestou “preocupação e solidariedade para com os madeirenses”, agradecendo ainda a “coragem e empenho” dos operacionais que combatem o fogo.
“Os incêndios que têm fustigado a ilha da Madeira atingem-nos a todos. Queria, em nome de todos os socialistas portugueses, deixar palavras de preocupação e de solidariedade para com os madeirenses, que têm vivido de forma resiliente a angústia própria destes momentos difíceis”, sublinhou o líder socialista no X (antigo Twitter). Pedro Nuno Santos expressou também “uma palavra de reconhecimento às mulheres e aos homens que têm combatido o fogo”.
“Devemos a todas e a todos eles um agradecimento pela sua coragem e empenho; têm feito tudo o que é humanamente possível para salvar e defender as pessoas, os seus bens e o meio ambiente”, acrescentou. Com Lusa