Incêndio na Madeira com duas frentes activas. Aviões Canadair chegam esta quinta-feira
Equipa de 60 elementos do Continente já está no terreno no combate ao incêndio. Activação do MEPC permitirá a chegada de dois aviões Canadair à Madeira para combater o fogo na Cordilheira Central.
O incêndio da Madeira tinha na tarde desta quarta-feira, 21 de Agosto, frentes activas no Pico Ruivo e no Pico das Torres, de acordo com presidente do Governo Regional da Madeira, Miguel Albuquerque. O responsável confirmou que a ilha vai receber dois aviões Canadair ao abrigo do Mecanismo Europeu de Protecção Civil (MEPC), que já foi accionado.
Na conferência de imprensa diária da Protecção Civil regional, Miguel Albuquerque explicou que o incêndio evolui do Pico do Cardo para a Cordilheira Central da Madeira, com uma frente activa "de difícil acesso" no Pico das Torres e outra no Pico Ruivo.
O objectivo no combate às chamas passa por evitar que o fogo "evolua de forma descendente para o Curral das Freiras" e de forma lateral "para o Pico do Areeiro", disse o responsável, acrescentando que ao final da tarde havia no terreno 140 operacionais, apoiados por 40 viaturas.
Uma outra preocupação das autoridades é evitar que o fogo evolua também em direcção à Fajã da Nogueira, onde funciona uma central hidroeléctrica, "uma estrutura fundamental". O combate está a ser maioritariamente feito com a criação de faixas de contenção para evitar a progressão das chamas para estas zonas mais críticas. Miguel Albuquerque assegurou ainda que "grande parte da floresta Laurissilva está salvaguardada e não foi afectada até agora”.
O responsável informou que a equipa de 60 elementos do Continente chamada para reforçar o combate ao incêndio já está no terreno. Esta equipa tinha partido às 14h30, num avião KC-390 da Força Aérea, e é liderada pelo 2.º comandante sub-regional do Oeste, Rodolfo Batista. O contingente é constituído por 29 bombeiros da Força Especial de Protecção Civil (FEPC), 15 bombeiros voluntários da região da Grande Lisboa e 15 militares da Unidade de Emergência de Protecção e Socorro (UEPS) da GNR.
Os dois aviões Canadair vão estar operacionais na quinta-feira, 22, à tarde, depois de esta tarde ter sido accionado o MEPC. O presidente do Governo Regional da Madeira esclareceu que estas duas aeronaves foram pedidas devido à evolução do fogo na Cordilheira Central, que permitirá a sua utilização. Com descargas muito volumosas, de cerca de seis mil litros, estes aviões não podem ser utilizados em contexto de incêndio em zonas urbanas ou agrícolas. Na Cordilheira Central, onde "é quase impossível o acesso de meios" ao dispor das forças no terreno, os Canadair, que vão abastecer no Porto Santo, passam a ser uma opção viável para "debelar" as chamas.
Este incêndio, que começou na serra de Água, na Madeira, há uma semana, consumiu uma área superior a nove mil hectares, segundo os últimos dados do Sistema Europeu de Informação sobre Incêndios Florestais, o que representa mais de 14% de toda a área florestal da ilha da Madeira.
Miguel Albuquerque referiu que o helicóptero continua a actuar, somando 170 descargas desde o início dos fogos e mais de 35 horas de voo.
O responsável pelo Governo Regional aproveitou ainda a conferência de imprensa para agradecer o trabalho do Instituto da Conservação da Natureza e das Florestas (ICNF), que esteve no terreno a recolher crias de freiras-da-madeira, uma ave endémica da Madeira em perigo de extinção. Foram resgatadas "com recurso a rapel em zonas de muito difícil acesso" e serão recolocadas nos ninhos assim que passar o perigo.
O presidente do Serviço Regional de Protecção Civil, António Nunes, admitira anteriormente que o "pior cenário" era o da "propagação do fogo no Curral das Freiras, que progrediu pela Cordilheira Central da região e atingiu o Pico Ruivo". A zona "muito complexa", difícil de actuar "devido às condições no terreno", continuava a ser uma das que causava preocupação ao início da noite desta quarta-feira.
As condições meteorológicas não devem facilitar o trabalho das autoridades. O aviso amarelo devido a temperaturas elevadas foi esta quarta-feira prolongado até às 18h de quinta-feira, de acordo com o Instituto Português do Mar e da Atmosfera (IPMA). O aviso aplica-se às costas Norte e Sul, assim como às regiões montanhosas e à ilha de Porto Santo. Há também quatro zonas do arquipélago que vão estar em risco "muito elevado", seis em risco "elevado" e quatro em risco "moderado".
As autoridades registaram também um reacendimento na Lombada, na Ponta do Sol, afastado de populações. Miguel Albuquerque disse que uma parte deste reacendimento "foi extinta", estando outra parte "controlada". Na serra de Água, decorre neste momento a limpeza das estradas e das bermas, ainda encerradas para a circulação automóvel, para tentar minimizar a queda de pedras. Ao início da noite, estavam vias fechadas no Paul da Serra, entre o Pouso e o Areeiro e entre a Achada e o Pico das Pedras – neste caso para facilitar a circulação de viaturas dos Bombeiros.
O Curral das Freiras teve, durante este fogo rural, alguns momentos de grande preocupação, com a aproximação das chamas das casas. Na noite de terça-feira, segundo o município, o incêndio esteve muito activo na zona, descendo a encosta em direcção a uma área habitacional, e chegou a ser preciso retirar uma pessoa acamada. Nestes oito dias, as autoridades deram indicação a perto de 200 pessoas para saírem das suas habitações por precaução e disponibilizaram equipamentos públicos de acolhimento, mas muitos moradores já regressaram, à excepção da Fajã das Galinhas, em Câmara de Lobos, e da Furna, na Ribeira Brava.
"Retórica alarmista"
Durante a manhã desta quarta-feira, de visita aos locais afectados pelo incêndio, o presidente do Governo Regional da Madeira negou que exista falta de meios no terreno para combater os fogos que estão activos em várias zonas. "Neste momento é essencial baixar a retórica um pouco alarmista porque a situação está segura. Se faltassem homens nas zonas cruciais as habitações já tinham sido destruídas", apontou.
"O combate a um incêndio corre bem ou corre mal em função dos danos, da perda de vidas humanas ou de infra-estruturas. Não houve perda de nenhuma vida humana, não houve nenhum ferido, não houve nenhuma habitação destruída. Os objectivos estão concretizados. Foi salvaguardado aquilo que é essencial".
Albuquerque disse ainda que o Estado deveria assumir "as suas responsabilidades" nesta situação. "Não estamos a falar só do helicóptero, mas das tripulações, dos recursos, dos meios técnicos, tudo isso custa muito dinheiro", referiu, acrescentando que a estratégia de combate a estes incêndios está a ser a melhor. "Não podemos pôr pessoas, nem recursos nas zonas de pouca acessibilidade onde não existe água. Não se pode combater incêndios florestais de outra maneira".
O presidente do Governo refutou as críticas sobre continuar de férias no Porto Santo durante o incêndio, declarando que assume as suas responsabilidades e que a actuação deve ser avaliada pelos resultados. “Se me tentam intimidar, porque vou ficar com stress por causa disso, estão enganados”, declarou Albuquerque aos jornalistas à entrada da Câmara Municipal do Funchal, onde decorre a sessão solene do Dia do Concelho.
O chefe do executivo — que interrompeu no sábado as férias no Porto Santo para ir à ilha da Madeira e regressou ao Porto Santo um dia depois — assegurou que acompanhou a evolução do incêndio rural “desde a primeira hora”. “Isso a mim ninguém me dá lições, porque eu, ao contrário de outros, nunca deleguei as minhas responsabilidades em ninguém, nem disse que a culpa era dos técnicos.”
Sindicato pede demissão de António Nunes
O Sindicato Nacional da Protecção Civil exigiu esta quarta-feira a demissão imediata do presidente da Protecção Civil da Madeira, António Nunes, e do secretário regional da Protecção Civil, Pedro Ramos, devido ao fogo que lavra na ilha há oito dias.
“Esperamos que as autoridades competentes tomem as medidas necessárias para proceder a estas substituições de forma rápida e transparente, garantindo assim que a Protecção Civil seja liderada por indivíduos verdadeiramente capacitados para proteger e servir a nossa comunidade”, acrescentou o sindicato.
Num comunicado, o SNPC referiu que está a acompanhar o trabalho dos operacionais neste incêndio com “profunda indignação e preocupação”, considerando “inadmissível” que o incêndio continue activo e se tenha intensificado, após uma semana, o que considerou revelar “uma clara falta de liderança e competência por parte daqueles que deveriam zelar pela segurança e bem-estar” da comunidade.
O sindicato criticou, sobretudo, a resistência em pedir ajuda externa e considerou que a resposta foi “tardia, desorganizada e insuficiente”, o que “coloca em risco vidas humanas, património natural e a segurança de todos os madeirenses”. “Não entendemos por que razão ainda não foi invocada a ajuda de Protocolo com as Ilhas Canárias que se encontra inscrito no Plano Regional de Emergência de Protecção Civil da Região Autónoma da Madeira”, afirmou.