O complexo de vira-latas

O conceito do “complexo de vira-latas” foi cunhado pelo dramaturgo Nelson Rodrigues, em referência ao sentimento de inferioridade que ele observava no povo brasileiro em relação a outras nações.

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Peço desculpas e vamos a isso!

Invado esse espaço com as duas expressões que mais utilizei no meu convívio com os queridos irmãos portugueses. Embora saiba que iniciar uma jornada se desculpando possa não ser um bom começo, peço desculpas por estar aqui, não sendo um escritor ou jornalista, mas acreditando que minha visão como artista e gestor cultural, empolgado em compartilhar alguns pensamentos, possa explorar essa nova aventura ao lado dos leitores.

Então vamos a isso:

O conceito do "complexo de vira-latas" foi cunhado por Nelson Rodrigues, um dos mais importantes dramaturgos e cronistas brasileiros, em referência ao sentimento de inferioridade que ele observava no povo brasileiro em relação a outras nações, especialmente no contexto do futebol.

"Por 'complexo de vira-latas' entendo eu a inferioridade em que o brasileiro se coloca, voluntariamente, em face do resto do mundo. O brasileiro é um narciso às avessas, que cospe na própria imagem. Eis a verdade: não encontramos pretextos pessoais ou históricos para a auto-estima."

Nelson Rodrigues apontava que essa postura de inferioridade e autodepreciação permeava a sociedade brasileira em diversos aspectos, não apenas no esporte, mas, também, na cultura, na economia e na política. Ele via essa atitude como um grande obstáculo ao desenvolvimento do país e ao reconhecimento de seu valor próprio.

Na verdade, nosso complexo de vira-lata tem raízes profundas na história do Brasil, incluindo nossa colonização. Durante o período colonial, o Brasil foi visto como uma colônia de exploração, e os brasileiros eram frequentemente subestimados e considerados inferiores pelos colonizadores europeus.

Esse sentimento de inferioridade e a percepção de que o que era estrangeiro era sempre superior contribuíram para a formação desse complexo.

Carregamos, e falo por mim, esse peso permanente, que nos traz o enorme desafio de superar e evoluir. Um complexo estrutural tal qual o racismo, o machismo e outras doenças a serem curadas.

Mesmo com essa auto-percepção negativa, o Brasil vem superando essas limitações e se destacando em diversos campos, mostrando que vamos desafiando e transformando nossa imagem no cenário global.

As conquistas brasileiras nas Olimpíadas, mesmo com o sentimento de David contra Golias, são exemplos poderosos de superação e triunfo do talento nacional. Assim como na ciência, nas artes e na literatura.

Autores brasileiros ganham reconhecimento internacional e são amplamente lidos e respeitados no exterior, demonstrando a riqueza e a profundidade da literatura brasileira. A descoberta de Machado de Assis pelo mundo e sua tradução em vários idiomas é um bom exemplo.

Nas artes, a música brasileira continua a ser uma poderosa influência global, com fãs no mundo todo. Artistas plásticos, cineastas e grandes diretores do teatro brasileiro também têm conquistado prêmios internacionais, mostrando a diversidade e a criatividade do país.

E, mesmo assim, como quem arrasta correntes, vamos levando nossa alma contaminada pelo eterno complexo de vira-latas pela vida, nos mais variados lugares do planeta. Sempre na esperança de ver hasteada nossa bandeira e de que possamos, aos prantos, cantar nosso hino nacional. E lutando para que não se ofusque nosso orgulho em celebrar as vitórias do Brasil.

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