O pássaro que não queria partir e abandonar a árvore
É tempo de viajar à procura do sol quente, as tempestades aproximam-se. O bando organiza-se para seguir o perfume de terras longínquas e canta. Uma das aves não.
Uma história que nos reenvia para o conto O Príncipe Feliz, de Oscar Wilde. Nele, um passarinho encanta-se com uma planta semelhante ao bambu e não se junta aos companheiros rumo ao Egipto. Acabará por se desinteressar dela, voar até à cidade e encontrar refúgio na estátua de um príncipe que parecia um anjo.
Na narrativa que aqui se traz, uma ave jovem encontrou “uma espécie de lar” numa árvore imponente no meio da selva. Conhecia os seus ramos “tão bem como as próprias penas”. Por isso não queria partir.
“Conheço esta árvore, as suas raízes e folhas, gosto desta árvore, da sua paz e calma, amo esta árvore com os seus braços reconfortantes”, faz-nos saber o pequeno pássaro que brinca despreocupadamente entre os ramos mais baixos da árvore.
A história vai sendo também contada através de imagens coloridas, cheias de pormenores e variações de tonalidades que nos fazem sentir o passar do tempo e adivinhar a brisa que corre entre a folhagem no final do tempo quente. Lindas são também as imagens nocturnas, num fundo azul em que se vislumbra um céu estrelado e depois o brilho dos pirilampos.
“Se damos atenção a um pormenor, ele vai com certeza ser valorizado”
Coralie Bickford-Smith nasceu em Norwich, Reino Unido, em 1974, e licenciou-se em Tipografia e Design de Comunicação na Universidade de Reading. O seu livro O Raposo e a Estrela, em que também assina texto e ilustração, foi a primeira obra ilustrada a ganhar o prémio Waterstones Book of the Year, em 2015.
A Minhoca e o Pássaro (2017), O Esquilo e o Tesouro Perdido (2023) são títulos igualmente editados em Portugal pela Relógio d’Água, todos com textos breves e poéticos e ilustrações vibrantes.
Sobre outra vertente da sua actividade, escreve-se no site do Centro Português de Serigrafia: “O seu trabalho Clothbound Series, para a Penguin Classics, atraiu as atenções em todo o mundo e remete-nos para o universo das encadernações vitorianas e para a época de ouro das encadernações manuais. A designer prefere considerar as encadernações estampadas em tecido, em lugar das habituais em papel.”
A página online da artista dá-nos conta de que as suas capas de livros foram reconhecidas pelo Instituto Americano de Artes Gráficas (AIGA, na sigla em inglês) e pela Design e Direcção de Arte britânica (D&AD, na sigla em inglês), tendo sido publicadas em várias revistas e jornais internacionais, nomeadamente The New York Times, The Guardian e Vogue. Já em 2024, foi seleccionada para Designer do Ano nos British Book Awards.
Diz de si própria, acerca da obsessão pelos detalhes: “Quero que as minhas capas sejam tão apreciadas como a literatura no seu interior. Se damos atenção a um pormenor, ele vai com certeza ser valorizado. As pessoas vão querer explorar e ter as mesmas sensações de um design que se destaca e nos faz vibrar.”
É isso que consegue de facto transmitir, tanto com as imagens quanto com as palavras. Por isso o leitor sente-se feliz como o pássaro quando descobre que a árvore não ficará só na sua ausência. Terá a companhia de muitos outros animais, de muitas espécies, da borboleta ao macaco, do pavão à pantera.
“Quando as chuvas caem, muitos se abrigam nos teus ramos. Muitos agitam as tuas folhas — afagam a tua casca e cantam para te embalar. Protegem-te enquanto estou longe.” E partiu, cantando. O regresso está prometido.