Asteróide que matou os dinossauros teve origem para lá de Júpiter
O asteróide ter-se-á formado no sistema solar exterior e depois terá provavelmente migrado para o interior, para se tornar parte da cintura principal de asteróides entre Marte e Júpiter.
Foi um ponto de viragem na história da vida na Terra. Um asteróide com cerca de dez a 15 quilómetros de largura embateu na Península de Iucatão, no México, há 66 milhões de anos, desencadeando um cataclismo global que erradicou cerca de três quartos das espécies do mundo e pôs fim à era dos dinossauros.
O impacto pulverizou o asteróide e espalhou os seus detritos por todo o mundo, ainda presentes numa camada global de argila depositada na sequência desse dia fatídico. Uma nova análise destes detritos resolveu um longo debate sobre a natureza do asteróide, mostrando que se tratava de um tipo que teve origem para lá de Júpiter, no sistema solar exterior.
O meteorito, com base na composição dos detritos, era um asteróide carbonáceo, ou do tipo C, assim chamado devido à elevada concentração de carbono. O estudo excluiu a possibilidade de o meteorito ser um cometa ou de a camada de detritos ter sido depositada por vulcanismo, hipóteses que já tinham sido colocadas.
“Um projéctil originado na periferia do sistema solar selou o destino dos dinossauros”, afirmou o geoquímico Mario Fischer-Gödde, da Universidade de Colónia, na Alemanha, autor principal do estudo publicado nesta quinta-feira na revista Science.
O impacto, no final do período Cretácico, escavou a cratera Chicxulub, com 180 quilómetros de largura e 20 quilómetros de profundidade. A camada de argila existente na fronteira entre o Cretácico e o Paleogénico é rica em metais, incluindo irídio, ruténio, ósmio, ródio, platina e paládio, que são raros na Terra, mas comuns em asteróides.
Os investigadores centraram-se no ruténio – em particular, no rácio dos seus isótopos presentes na camada de argila. Os isótopos são átomos do mesmo elemento químico com massas ligeiramente diferentes, devido a números diferentes de partículas subatómicas chamadas neutrões. O ruténio tem sete isótopos, sendo três especialmente importantes para esta descoberta. Os rácios dos isótopos de ruténio correspondem aos de outros asteróides carbonáceos conhecidos.
“O ruténio é especialmente útil neste contexto, uma vez que a assinatura isotópica na camada de argila é quase inteiramente composta por ruténio do meteorito e não do sedimento de fundo, e o ruténio mostra composições isotópicas distintas entre materiais do sistema solar interior e exterior”, diz o geocientista e co-autor do estudo Steven Goderis, da Universidade Livre de Bruxelas, na Bélgica.
Entre os objectos mais antigos do sistema solar, os asteróides do tipo C são o tipo de asteróide mais comum, seguidos dos asteróides rochosos do tipo S e dos asteróides metálicos raros do tipo M. As diferenças de composição entre os asteróides resultam da distância a que se formaram do Sol.
“Os asteróides do tipo C representam blocos de construção remanescentes dos planetas de gases e gelo do sistema solar exterior, enquanto os asteróides do tipo S são os blocos de construção primários de planetas terrestres como a Terra” no sistema solar interior, explica Fischer-Gödde.
Migração para a cintura de asteróides
Depois de se formar no sistema solar exterior, o asteróide provavelmente migrou mais tarde para o interior, para se tornar parte da cintura principal de asteróides entre Marte e Júpiter, acrescenta Fischer-Gödde, antes de ser lançado na direcção da Terra, talvez devido a uma colisão.
“Todos os meteoritos que caem na Terra, que são fragmentos de asteróides do tipo C e do tipo S, são originários da cintura de asteróides. Por isso, parece ser mais provável que este meteorito (do final do Cretácico) também tenha origem na cintura de asteróides”, disse Fischer-Göddesaid. “Mas também há muitos corpos armazenados na cintura de Kuiper e na nuvem de Oort (regiões muito para além do planeta mais exterior, Neptuno), e basicamente não se sabe muito sobre a composição destes corpos.”
Os investigadores analisaram amostras de cinco outros impactos de asteróides, datados de há 37 milhões a 470 milhões de anos, e descobriram que todos eram do tipo S, ilustrando a raridade de um impacto de um asteróide carbonoso.
Os dinossauros dominaram durante muito tempo a Terra, mas, à excepção da sua linhagem das aves, foram dizimados na sequência do impacto, tal como os répteis voadores chamados pterossauros, os grandes répteis marinhos e outros seres marinhos, incluindo muitas espécies de plâncton.
Os mamíferos, então muito pequenos, conseguiram sobreviver, permitindo que estas criaturas peludas acabassem por dominar a Terra e por preparar o terreno ao aparecimento da nossa espécie, há cerca de 300 mil anos, em África.
“Penso que sem esta coincidência cósmica de um impacto de asteróide, a vida no nosso planeta ter-se-ia provavelmente desenvolvido de forma muito diferente”, remata Fischer-Gödde.