ONU sem recursos para responder a crise alimentar no Norte de Moçambique

Grupo de Segurança Alimentar, liderado pela FAO e pelo PAM, diz que há mais de 1,5 milhões de pessoas afectadas em Cabo Delgado, Nampula e Niassa. E até agora só conseguiu 34% da verba para as ajudar.

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A “resposta humanitária em Cabo Delgado”, onde está mais de metade dos deslocados (879 mil), “é gravemente dificultada por recursos desadequados” Paulo Pimenta
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Mais de 1,5 milhões de pessoas em três províncias do Norte de Moçambique, Cabo Delgado, Nampula e Niassa, estão em situação de crise ou de emergência de insegurança alimentar e as Nações Unidas estão sem recursos para atender às suas necessidades.

De acordo com o relatório do primeiro semestre do Grupo de Segurança Alimentar, criado em 2011 e liderado pela Organização das Nações Unidas para a Alimentação e Agricultura (FAO) e pelo Programa Alimentar Mundial (PAM), a “resposta humanitária em Cabo Delgado”, onde está mais de metade das pessoas nesta situação (879 mil), “é gravemente dificultada por recursos desadequados”.

"Os parceiros do FSC [Food Security Cluster, na sigla em inglês] apelam aos doadores para apoiarem o Plano de Necessidades e Resposta Humanitária [PNRH] de 2024, que pretende atingir 172 milhões de dólares [159,2 milhões de euros] para satisfazer as necessidades de aproximadamente um milhão de pessoas, incluindo as afectadas por conflitos", lê-se no relatório. O cálculo é feito com base na última análise da Classificação Integrada da Fase de Segurança Alimentar (IPC) no norte de Moçambique.

Até Junho de 2024, o plano tinha conseguido apenas 34% do financiamento necessário, o que obrigou os parceiros “a tomar decisões difíceis, tais como reduzir as rações alimentares para chegar a mais beneficiários ou alargar os serviços entre pessoas deslocadas, comunidades anfitriãs e repatriados, comprometendo assim a qualidade da assistência", indicou.

A prioridade é a “manutenção de uma presença no terreno”, mesmo com todos os “desafios intermitentes de acesso devido ao encerramento de estradas e à insegurança”.

"A situação é grave, com mais de meio milhão de pessoas deslocadas e 623 mil regressadas a casa no norte de Moçambique. A destruição generalizada e os danos causados às infra-estruturas, incluindo instalações recentemente reabilitadas, perturbaram os serviços nos distritos afectados por conflitos e reverteram os ganhos de desenvolvimento", refere o documento.

"A vulnerabilidade dos deslocados internos e dos repatriados, que continuam a depender da assistência humanitária para sobreviver, é significativa. Os regressos ocorrem frequentemente em áreas remotas onde as redes tradicionais de protecção comunitárias ainda não recuperaram", acrescenta o relatório.

Nos últimos meses, "a situação de segurança em Cabo Delgado deteriorou-se acentuadamente". Entre 26 de Dezembro de 2023 e o final de Maio, os ataques levados a cabo por grupos armados levaram à “maior deslocação” de pessoas desde 2017, com 189 mil a fugirem à violência.

"Esta violência espalhou-se por vários distritos, incluindo Ancuabe, Chiúre, Macomia, Mecufi, Metuge, Mocímboa da Praia, Muidumbe e Quissanga, com repercussões nos distritos de Erati e Memba, na província de Nampula. Estes ataques expandiram-se para áreas anteriormente não afectadas, levando a uma distribuição geográfica mais ampla das operações", admitiu o FSC. O ataque no distrito de Macomia, em Maio, "resultou na suspensão da assistência a 89 mil pessoas, agravando ainda mais a crise".