Tatuagens livres em corpos presos
No início do século XX, as cadeias nacionais passaram a registar as tatuagens que ornavam os corpos dos reclusos. Esses levantamentos iconográficos ficavam registados em “álbuns”. Restam apenas cinco.
Quando Manuel da Conceição, apodado “Manuel Cabrão”, entrou na Penitenciária de Lisboa, a imponente construção erguida no alto de Campolide levava já um ano e meio de reclusão na cadeia comarcã de Setúbal. E quando saiu de Campolide para o Limoeiro, seis anos mais tarde, em trânsito para o degredo africano, levava nos braços, nas mãos, nos pulsos e no peito as provas pictóricas dessa experiência. Eram tantas que os funcionários do Posto Antropométrico da Penitenciária encheram duas páginas em formato broadsheet com cópias dos desenhos e das letras tatuadas no corpo de Manuel: na zona peitoral tinha âncoras e remos, evocativos da sua passagem pela Armada como segundo-grumete; e, nos restantes membros superiores, a República com o barrete frígio, flores e ramos, uma medalha de condecoração, um coração trespassado por duas espadas junto ao nome do pai, “José da Conceição”, um Sol com nariz, boca e olhos, o seu número de marinheiro (“8413”), uma guitarra, um sabre, uma estrela com quatro pontas, mais âncoras, flores, corações e letras.
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