Os animais têm o corpo coberto de pêlo, o que significa que vão ter mais dificuldade em suportar as altas temperaturas do que os humanos. Além disto, quanto mais longa e espessa for a pelagem, mais desafiante será para as espécies. Os cães, por exemplo, transpiram através das glândulas sudoríparas das patas e do arfar, mas quando o fazem em demasia é sinal de alarme e o ideal é serem imediatamente levados ao veterinário.
As raças com focinho achatado, as chamadas braquiocefálicas, como o pug, o boxer, o shih tzu e o bulldog francês e inglês, vão ficar com a respiração comprometida, dadas as características do focinho. Nos gatos-persas, que também têm o rosto achatado, a dificuldade em dissipar o calor também vai ser acrescida. O mesmo acontece com os animais que têm problemas respiratórios, cardíacos e excesso de peso.
Tal como as pessoas, é fundamental que os animais estejam hidratados e abrigados das altas temperaturas, especialmente nas horas de maior calor.
Água fresca
Em relação à primeira coisa que os donos devem fazer para manter os animais frescos no Verão, não é preciso ser-se médico veterinário para saber. O calor leva à desidratação e estimula a sede, por isso, a água é o principal aliado. Nestas situações, é essencial que os gatos e, principalmente, os cães tenham sempre uma tigela com água fresca à disposição.
Se as temperaturas estiverem muito altas, os tutores podem sempre acrescentar cubos de gelo à taça, aponta a veterinária Sara Coelho. Como a água está à temperatura ambiente, os cubos vão derreter rapidamente e mantê-la fresca. “Se a água estiver muito fria, eles vão parar de beber. Por isso, não há perigo nenhum”, completa a médica veterinária.
Pôr petiscos no frigorífico ou no congelador durante uns minutos é outra das formas de refrescar o animal. Cenouras, banana madura e melancia esmagada, fruto que tem uma grande quantidade de água, são algumas das sugestões da veterinária. “Também é uma forma de os manteremos entretidos e de evitarem fazer disparates em casa”, defende.
Passear, sim, mas nas horas de menor calor
Estar calor não significa que os tutores não possam levar os cães ou até mesmo os gatos a passear, mas estas saídas devem ser feitas nas horas de menor calor, ao início da manhã ou ao final do dia. Além de terem calor, podem facilmente queimar as almofadas plantares a caminhar. Nos passeios também é importante que não falte água fresca.
É sempre mais seguro se os donos levarem água de casa. Para os cães que não costumam beber muita água ou que só bebem numa taça específica, os bebedouros portáteis podem ser uma ajuda. Mas primeiro é importante que o animal seja treinado em casa a beber água neste novo acessório.
A par disto, os locais escolhidos para os passeios devem ter zonas com sombra.
Em casa: tapetes refrescantes
Além dos bebedouros portáteis, não faltam produtos à venda no mercado para manterem os animais frescos. Os tapetes refrescantes são um deles e o nome diz tudo. São feitos de um gel que se activa quando os cães ou os gatos se deitam e existem em vários tamanhos (e preços) consoante o porte do animal. São úteis para os donos terem em casa, nas camas dos cães e dos gatos ou nas zonas da casa onde estes animais mais gostam de estar. São leves, fáceis de limpar e a sensação refrescante do gel dura várias horas.
No entanto, só funcionam quando não estão em contacto com a luz solar e para serem utilizados novamente é necessário esperar uns minutos. Se for mais confortável para os animais, existe ainda a mesma opção em formato colchão.
Na rua: nunca deixar um animal sozinho dentro do carro
Deixar um cão ou um gato dentro de um carro num dia de calor — mesmo com um pouco da janela aberta — é tão arriscado como deixar um bebé ou uma criança pequena seja no Verão, Inverno ou em qualquer outra estação do ano.
Quer esteja ao sol ou à sombra, o interior de um carro no Verão vai funcionar como o de um forno. Como absorve os raios solares, a temperatura aumenta rapidamente ao ponto de se tornar insuportável para os cães e gatos. O interior do carro fica assim mais quente do que o exterior.
Num ambiente fechado, sem ventilação suficiente ou ar condicionado, os animais não têm como dissipar o calor que sentem, os órgãos começam a falhar e podem morrer de golpe de calor. Na grande maioria dos casos, acrescenta Sara Coelho, bastam 20 minutos no interior de um carro para não resistirem”.
“Se virmos um cão dentro de carro sem janela aberta, a primeira coisa é partir a janela e depois chamar a polícia. Segundo sei, a pessoa não tem de pagar o arranjo do carro porque o dono é que estava a ser negligente ao deixar o animal no carro”, destaca. Deixar um animal durante uma noite quente também é perigoso.
Além disto, lê-se no artigo 387 do Código Penal, trata-se de um crime de maus tratos a animais de companhia que dá direito a pena de prisão de seis meses a dois anos ou coima que varia entre os 2000 e os 7500 euros. Em declarações ao P3, o jurista Diogo Martins adianta que o dono pode também ser impedido de deter animais de estimação pelo período máximo de seis anos.
Nas raças que têm o focinho achatado o risco é ainda maior: basta uma viagem de carro nas horas de maior calor com o ar condicionado ligado ou janelas abertas para apresentarem sintomas de golpe de calor.
“É por isso que no Verão tento sempre que as consultas dos bulldog franceses sejam as primeiras do dia, de manhã cedo, ou à noite. Há muitos que durante a viagem em pleno Verão chegam ao hospital e têm de ser reencaminhados para a banheira porque estão a entrar em golpe de calor”, reforça Sara Coelho.
Ter atenção à respiração ofegante
Em dias de altas temperaturas, é através da respiração que os animais dão os primeiros alertas de que algo não está bem.
A respiração é umas das formas que os animais têm para dissipar o calor. Quando esta se torna ofegante significa que não estão a conseguir manter-se frescos. Nestes casos, explica a veterinária, o cão normalmente tem a boca aberta e a língua para fora.
Colocar panos molhados com água fresca nas partes do corpo que têm menos pêlo, como barriga, axilas e virilhas ajuda. Se não resultar, o passo seguinte é contactar um veterinário.