O que o tempo faz de nós e o que fazemos dele
“Um álbum poético que celebra a vida em todos os seus momentos”, escreve-se na contracapa de Crescer. É isso mesmo.
O arranque conquista de imediato quem se recorda de se ter confrontado com a questão: onde é que eu estava antes de existir? “Primeiro, eu não estava aqui. Depois, passei a estar”, são as frases que dão início à descrição dos vários ciclos da vida na voz de uma mulher.
“Eu era pequena e tornei-me grande”, “eu era frágil como um ramo e tornei-me forte como uma árvore”, prossegue a história. Os ganhos e perdas ao longo da vida serão enunciados, como a agilidade, a alegria, a independência, a companhia e a solidão, as dúvidas, o esquecimento e a gratidão.
Um registo poético de Laëtitia Bourget que é acompanhado pela riqueza igualmente poética das imagens de Emmanuelle Houdart. Uma dupla que já assinou cinco livros em conjunto. Aqui, sem dramatismos e com verdade, dão-nos conta da passagem do tempo. O que ele nos faz e o que fazemos dele.
As imagens enviam-nos para um universo fantástico, carregado de simbologia e que convida a uma observação atenta e prolongada. Há sempre algo mais para descobrir a cada olhar. A atmosfera é envolvente, algo misteriosa e às vezes até um pouco sinistra, mas sempre hipnotizante.
Desenhar o maravilhoso e o terrível
Emmanuelle Houdart é suíça, nasceu em 1967 e estudou na Escola de Belas-Artes em Sion e na Escola Superior de Artes Visuais em Genebra. Trabalha como pintora e designer gráfica desde 1996, vive em Paris. Em 2016, recebeu o Grande Prémio de Ilustração francês, com o livro A Minha Mãe, também editado em Portugal pela Orfeu Negro.
“Eu, como toda a gente, vivi muitas coisas maravilhosas e terríveis. E é isso que eu desenho, o maravilhoso e o terrível”, lê-se no site do Festival de Literatura de Berlim, que irá decorrer de 5 a 18 de Setembro. Também aí se fica a saber que “a sua técnica preferida é desenhar à mão com canetas de feltro sobre cartão e realçar certas zonas com cor”.
Laëtitia Bourget vive igualmente em França, nasceu em Néons-sur-Creuse, na região de Indre. “Artista plástica polivalente, foi a proximidade de ateliers em Paris com Emmanuelle Houdart e depois com Alice Gravier que a levou a escrever os seus primeiros projectos de livros para crianças”, informa a Editions des Grandes Personnes.
Diz ter “uma grande estima pela infância” e, para ela, “falar com crianças é falar com toda a gente, enquanto falar com adultos é excluir as crianças”.
Crescer não exclui ninguém. Crianças e adultos podem desfrutar de um livro que aborda o amor, a mudança e o milagre de se estar vivo. Porque um belo dia todos deixaremos de estar aqui.