Depois de grandes manifestações anti-racismo, activistas pensam nos próximos passos

Mais de 25 mil pessoas saíram à rua no Reino Unido na quarta-feira contra os motins de extrema-direita, depois de dias de motins da extrema-direita.

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Manifestação anti-racismo em Londres NEIL HALL/EPA
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Protesto anti-racismo em Lancaster Manon Cruz/REUTERS
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Manifestação em Londres Chris J Ratcliffe/REUTERS
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Manifestação em Londres Chris J Ratcliffe/REUTERS
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People gather against an an anti-immigration protest, in London, Britain, August 7, 2024. REUTERS/Chris J Ratcliffe Chris J Ratcliffe/REUTERS
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Vários activistas anti-racismo contam que agiram com rapidez para se juntar depois de dias de motins de extrema-direita no Reino Unido, mas também dizem que o principal desafio ainda não foi superado.

Jo Cardwell, 51 anos, é voluntária na organização Stand Up to Racism, que esteve na origem de muitos dos contra-protestos que desafiaram a violência racista que abalou o país nos últimos dias.

Depois de mais de três décadas de activismo, Cardwell sabia que os movimentos tinham de activar rapidamente as redes nacionais anti-racismo quando os grupos de extrema-direita começaram a atacar muçulmanos, negros e requerentes de asilo na semana passada.

“Em muitos sítios, estávamos preparados, mas precisamos sempre de mais pessoas”, disse Cardwell, que dirigiu o maior protesto anti-racismo de quarta-feira em Walthamstow, no Norte de Londres. “Esta é uma escala de ataque que nunca vimos antes.”

Em todo o país, multidões manifestaram apoio a refugiados, reuniram-se à porta de um centro de aconselhamento sobre imigração em Walthamstow, que tinha aparecido numa lista de alvos de extrema-direita publicada na Internet, afastando potenciais ameaças. Segundo as autoridades, o forte policiamento também afastou os desordeiros.

“A nossa sociedade é mais rica por causa do multiculturalismo, é mais rica por causa das pessoas que vieram para cá”, disse Cardwell antes do protesto. “Estas são coisas que devem ser celebradas e pelas quais se deve lutar, e não coisas a temer.”

Os motins começaram depois de uma vaga de publicações falsas na Internet ter identificado erradamente como imigrante muçulmano o suspeito de ter morto três crianças num ataque com faca, a 29 de Julho, em Southport, no Noroeste de Inglaterra.

Estima-se que 25.000 pessoas se tenham juntado aos contra-protestos em toda a Grã-Bretanha só na quarta-feira, superando largamente a extrema-direita, graças em parte a contactos bem estabelecidos com sindicatos, grupos religiosos e o movimento laboral, disse Cardwell.

Peter Achan, activista que também participou no protesto de Walthamstow, afirmou que é crucial que as comunidades continuem a unir-se para “acabar com o ódio”.

“Se não nos insurgirmos contra isso, há mais hipóteses de este ódio continuar a crescer”, disse Achan.

Tanto a extrema-direita como os seus opositores têm utilizado as redes sociais para partilhar informações sobre reuniões e eventos.

O Telegram é conhecido por ser a plataforma de eleição da extrema-direita, mas os contra-manifestantes também estão activos nele, tendo um dos seus principais grupos mais de 3000 subscritores. Outras plataformas, como o WhatsApp e o TikTok, são igualmente importantes.

“As redes sociais alteraram alguns dos modelos de organização (da extrema-direita), pelo que temos de estar atentos a isso: onde se estão a organizar, quem são os seus organizadores e o que estão a planear”, disse Asad Rehman, presidente da organização anti-racismo Newham Monitoring Project.

Com advogados de imigração e mesquitas a constarem das listas de alvos da extrema-direita e com algumas pessoas a serem visadas apenas por terem um aspecto diferente, ou falarem de modo diferente, o advogado de 57 anos afirmou que o trabalho dos grupos anti-racismo inclui garantir que estão equipados para enviar apoio imediato para os locais onde há incidentes racistas ou ataques.

“Maré de ódio”

Em Walthamstow e noutros protestos em todo o país, muitos activistas pró-palestinianos apareceram com bandeiras e cartazes a dizer “Façam amor e não guerra”.

Entre as pessoas de grupos díspares que participaram nos contra-protestos, algumas usavam máscaras, enquanto outros foram filmados a transportar bastões e outras armas do género, o que levou os organizadores a pedir aos participantes que tivessem atenção ao seu comportamento.

Em manifestações anteriores, houve confrontos violentos entre grupos de extrema-direita e contra-manifestantes, com ambas as partes a culparem-se mutuamente pelo início dos recontros.

Cardwell afirmou que as políticas de migração introduzidas pelo anterior Governo conservador, incluindo um programa muito criticado de envio de requerentes de asilo para o Ruanda, tornaram as pessoas mais conscientes da necessidade de combater as narrativas de extrema-direita. Os conservadores condenaram tanto as narrativas de extrema-direita como os últimos actos de violência.

Tanto Cardwell como Rehman afirmam que é importante atacar as “raízes” do recrudescimento da violência de extrema-direita, que, segundo eles, tem origem em anos em que alguns meios de comunicação social e políticos atribuíram erradamente aos imigrantes e a outros grupos étnicos a responsabilidade pela queda no nível de vida.

“Os políticos estão a dizer-nos para nos preocuparmos com as pessoas [que chegam ao Reino Unido] em pequenos barcos”, disse Cardwell. “Mas é com as pessoas em jactos privados e superiates que estou preocupado.”

Esperam-se mais contra-protestos e motins de extrema-direita nos próximos dias, com as autoridades a manterem-se em alerta.

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