Trabalhar sem horários: saber quando parar o jogo

Na prática, estou sempre a trabalhar, principalmente por que adoro o que faço. Chega o Verão e fica ainda mais estranho, pois as férias sabem a tempo desperdiçado.

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Tenho uma experiência laboral de alguns anos, quase a caminho das duas décadas. Já experimentei muitas realidades laborais diferentes, provavelmente todas as possíveis e imaginárias para uma pessoa comum como eu.

Trabalhei nas férias de Verão, numa altura em que isso era possível aos 16, tendo experimentado a realidade dura do operariado fabril. Fui trabalhador-estudante, conjugando aulas com a disciplina que me faltava concluir do secundário. Depois do bacharelato – sim, sou assim tão idoso –, fui sempre trabalhador-estudante. Fiz duas licenciaturas e dois mestrados a trabalhar em simultâneo. Isto para dizer que as longas jornadas de trabalho me têm acompanhado, mas nessa altura trabalhava como engenheiro civil, fazendo os convencionais horários de trabalho. Nesta área, no sector privado, trabalha-se bem mais que as 40 horas semanais. Mas depois também experimentei a função pública, aliviando para 35 horas, o que ajudou na parte académica.

Tive um cargo de nomeação política, que supostamente não tinha horário, mas onde me exigiam estar cerca de 10 horas por dia presencialmente no local de trabalho, independentemente de fazer sentido ou não estar lá. Depois fui bolseiro de investigação, trabalhando maioritariamente à distância e sem qualquer vínculo ou protecção laboral, claramente arriscando e sofrendo elevada pressão, pois já tinha esposa e filhos. Mas sem essa aventura não tinha sido possível progredir nem ter feito o doutoramento. Hoje trabalho, maioritariamente para o estrangeiro, à distância e viajando regularmente. Sou também empresário em nome individual, vivendo na ambivalência só poder aceitar projectos sustentáveis com algum lucro.

Ou seja, já experimentei de tudo. Actualmente não tenho horários de trabalho, mas a pressão é maior e o tempo efectivo de trabalho interminável. Na prática, estou sempre a trabalhar, principalmente por que adoro o que faço, tendo transformado a paixão dos jogos, processos e modelos interactivos em ferramentas de trabalho. No entanto, nem tudo é maravilhoso. Facilmente perdemos noção da realidade, não sabendo quando parar. Chega o Verão e fica ainda mais estranho, pois as férias sabem a tempo desperdiçado. Mas nada disto é saudável. Temos de saber parar para continuar a avançar.

Com estes modelos de trabalho cada vez mais flexíveis e buscando a realização profissional, exigem-se outras competências aos trabalhadores. É necessário gerir o trabalho, conciliar actividades, cuidar de tudo o mais, incluindo a família, relações sociais e saúde. Apesar da minha experiência, ainda sou um aprendiz que procura um equilíbrio. Mas acredito que não seja o único a tentar descobrir quando fazer pausa no jogo laboral, progredir e mudar de nível.

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