Digi compra Nowo por 150 milhões
A operadora romena anunciou a aquisição da Nowo, a quarta maior operadora do mercado português cuja compra pela Vodafone tinha sido chumbada pela Autoridade da Concorrência.
A operadora romena Digi, controlada pelo empresário Zoltan Teszari, anunciou esta sexta-feira a compra da Nowo Communications ao grupo britânico Lorca (Orange e MásMóvil) por 150 milhões de euros.
A Nowo é a quarta maior operadora do mercado português e tinha sido alvo de uma oferta de aquisição pela Vodafone que foi entretanto chumbada pela Autoridade da Concorrência por potenciar eventuais barreiras à concorrência e poder impulsionar preços. A Nowo tem 270 mil clientes móveis e 130 mil fixos.
Já a Digi está a entrar no mercado português, tendo adquirido licença para operar no 5G em Portugal. A sua oferta comercial deverá estar disponível até ao final do ano, uma obrigação que decorre do leilão 5G. E é vista com bons olhos pela Autoridade da Concorrência pelo efeito positivo que pode ter no mercado de telecomunicações, numa perspectiva de maior concorrência e descida dos preços para os clientes. Com a compra da Nowo, a Digi assume os contratos de conteúdos, base de clientes e acordos de interoperabilidade da operadora.
Tanto a Digi como a Nowo têm licenças 5G, pelo que poderá ter de haver a libertação de algumas frequências. A operação terá ainda de passar nos reguladores da concorrência e das telecomunicações.
Vodafone não, Digi sim
A AdC deixou bem clara a sua posição sobre o impacto que o futuro da Nowo poderia ter no mercado quando justificou a decisão de chumbo da concentração entre a Vodafone e a Nowo, noticiada pelo PÚBLICO.
Na versão pública do documento, a entidade reguladora destacou o impacto negativo da compra do quarto operador pela gigante multinacional e, de seguida, sublinhou os benefícios potenciais para a concorrência de um operador novo como a Digi, mesmo que não necessariamente no curto prazo.
Assim, se a Vodafone tivesse conseguido comprar a Nowo, seriam prováveis “aumentos significativos de preços, reforço do poder de mercado [do Meo, Nos e Vodafone], reforço das barreiras à entrada [de novos concorrentes] e reforço das condições de equilíbrio cooperativo da indústria”, o que na prática traduz um “significativo alinhamento das tipologias e preços das ofertas entre os três principais operadores”.
Neste contexto, se a compra avançasse, não só “seria reforçado o poder de mercado” dos três operadores, como diminuiriam “os impactos positivos esperados” pela entrada da Digi, concluiu a AdC. E dá um exemplo: no desenvolvimento inicial da rede de fibra, a Digi não irá privilegiar as zonas onde já existe rede da Nowo (e em que esta já exerce pressão concorrencial face às outras empresas), levando por isso uma oferta diferenciada a outras zonas do país.
Um diagnóstico que, com a aquisição da Nowo pela Digi, acaba por definir a potencial escala e influência do novo operador que nascer do negócio anunciado esta sexta-feira.
Especificamente sobre a Digi, a AdC reconhece que a entrada da romena Digi no mercado português (que passará a ter cinco operadores) pode abanar o equilíbrio entre Meo, Nos e Vodafone, mas também alerta que não terá efeitos disruptivos imediatos.
“Não é expectável que a Digi venha a deter, num prazo razoavelmente curto (isto é, no horizonte de análise típico de uma avaliação jusconcorrencial de três a cinco anos), uma quota de mercado que possa colocar em causa o poder de mercado colectivo dos três principais operadores” e a capacidade de coordenação de comportamentos entre eles, explicita.
Um cenário que, também aqui, sofrerá alguma alteração com a junção da Digi à Nowo, que já tem uma posição de mercado e poderá acelerar assim a expansão da empresa romena.