Jamaica Kincaid: “Eu podia ser ateia se houvesse apenas boa literatura”
Tem sólida obra sobre a relação entre autobiografia e colonialismo, o feminino, o imaginário do Caribe. É um lamento, é raiva, quase uma oração. Conversa a partir do seu primeiro romance, Annie John.
Nas montanhas do Vermont, um dos estados que faz fronteira com o Canadá, Jamaica Kincaid diz que consegue sentir o mar. É o seu elemento e está em toda a sua literatura. Nasceu e cresceu numa ilha, Antígua, ex-colónia britânica no mar das Caraíbas, cujo soberano é o rei de Inglaterra. Com uma escrita atenta à ambiguidade, explora as suas raízes a partir de um lugar longínquo. Tinha 16 anos quando a mãe a enviou sozinha para Nova Iorque para tomar conta de crianças em casa de uma família rica. Lá, rebelou-se. Trabalhava de dia e estudava à noite, e nunca enviou dinheiro para casa. Queria ser escritora, não sabia como. Ia fazendo experiências. Incluindo na imagem. Rapou o cabelo, depois pintou-o de amarelo, tirou as sobrancelhas, calçava soquetes com sandálias e usava saias curtas. Nada de especial. Na altura, para ela, era tudo novo. Incluindo o nome.
O contributo do PÚBLICO para a vida democrática e cívica do país reside na força da relação que estabelece com os seus leitores.Para continuar a ler este artigo assine o PÚBLICO.Ligue - nos através do 808 200 095 ou envie-nos um email para assinaturas.online@publico.pt.