Quando Elizabeth Francis completou 114 anos no ano passado, disse que se chegasse ao seu 115º aniversário, tinha um desejo simples: duas fatias de bolo. Nesta quinta-feira, 25 de Julho, Francis — a pessoa mais velha dos EUA — comemorou esse aniversário, com um grande bolo de creme de baunilha, o seu sabor preferido. E ela pode comer quantas fatias quiser, declarou a neta de Francis, Ethel Harrison, 69 anos.
Francis, que vive em Houston, era a segunda pessoa mais velha dos EUA até 22 de Fevereiro, quando a anterior detentora do recorde de longevidade, Edie Ceccarelli, morreu algumas semanas após o seu 116º aniversário em Mendocino County, Califórnia.
Em Abril, Ben Meyers, da LongeviQuest — uma organização que acompanha as pessoas mais velhas do mundo —, ofereceu a Francis uma placa comemorativa do seu marco como a nova americana mais velha. “Ela ficou chocada ao saber que era agora a mais velha — nem queria acreditar”, contou Harrison, que trata das festas de família e encomenda um bolo para Francis todos os anos.
“Todos nós sabemos que um dia temos de picar o ponto final, por isso estamos espantados e gratos por ela ainda estar cá”, disse. “Ela surpreendeu-nos a todos.”
Francis abrandou nos últimos meses e agora fala num sussurro fraco, detalhou Harrison. Mas ressalvou que a avó ainda tem um brilho, apesar de passar a maior parte do tempo na cama, na casa que partilha com a sua única filha, Dorothy Williams, de 95 anos. As duas são seguidas por vários prestadores de cuidados, incluindo Harrison. “A minha avó dorme muito mais do que dormia há seis meses, mas continua a dizer exactamente o que pensa e não se retrai.” Aliás, o conselho de Francis para viver uma vida longa aos 115 anos é o mesmo do ano passado, aos 114: “Diz o que pensas e não te cales!”
Elizabeth Francis é a quarta pessoa mais velha do mundo e a pessoa mais velha que ainda vive em casa, informou Meyers, acrescentando que o humor, o calor e a confiança a levaram adiante. “Ela é a avó da América, amada pela sua família e comunidade e admirada em todo o mundo”, declarou. “A sua história tem mais a ver com fé, coragem e família do que com longevidade.”
Nascida no Luisiana, em 1909, Francis tinha 11 anos quando sua mãe morreu, e ela e seus cinco irmãos foram separados e enviados para viver com parentes, recordou Harrison.
Francis passou a adolescência com uma tia e, mais tarde, como mãe solteira, geriu um café na ABC 13 News, em Houston, durante 20 anos.
A sua avó era conhecida pelos seus bolos, frango e biscoitos, e partilhava sempre tudo o que cultivava na sua horta, disse Harrison.
Francis nunca aprendeu a conduzir, por isso apanhava o autocarro ou caminhava, o que pode ser uma das razões pelas quais está agora no auge dos seus anos de supercentenária, apontou a neta.
“Levou uma vida simples e manteve-se sempre ocupada com a família”, reforçou Harrison, explicando que a família de Francis passa regularmente pela casa, incluindo três netos, cinco bisnetos e quatro tetranetos.
Francis está agora satisfeita por passar os dias em casa com a filha, que todas as manhãs é levada de cadeira de rodas para o seu soalheiro quarto. “Elas gostam de se sentar ao lado uma da outra para rir e assistir a episódios antigos de Good Times e The Jeffersons na televisão”, disse Harrison. “Eles também adoram assistir ao programa Preço Certo. Ambas se sentem sortudas e abençoadas por estarem juntas.”
Enquanto Williams está sob medicação para várias doenças, Francis não toma nada, excepto uma aspirina de vez em quando, disse Harrison.
“Perguntei-lhe na outra noite como se sente ao fazer 115 anos e ela sorriu e disse: ‘Só agradeço ao bom Deus por estar aqui’”. “Ela diz que não tem nada de que se queixar e o resto da nossa família sente o mesmo.”
A esperança da família é que Francis chegue aos 117 anos — a mesma idade da actual pessoa mais velha do mundo, Maria Branyas, de Espanha.
“Todos os anos que tenho de encomendar outro bolo de aniversário para a minha avó é uma ocasião que vale a pena celebrar: saber que ela ainda está connosco”, concluiu Harrison.
Exclusivo PÚBLICO/The Washington Post
Tradução e adaptação: Carla B. Ribeiro