Quem não se identifica com as personagens de Divertida-mente?
Acho que é um filme obrigatório para adolescentes, mas não para irem ver em bando com os amigos porque, nesse contexto, sabemos que nem olham para o ecrã.
Ana,
Venho só avisar-te de que o Divertida-mente 2 não é para crianças, apesar de a sala estar cheia delas quando o fui ver. Os mais pequenos aguentam entretidos porque é uma sequência rápida e colorida de imagens, mas o sentido passa-lhes completamente ao lado. Nem podia ser de outra maneira porque é uma viagem espetacular ao cérebro de um adolescente, mas sobretudo o que nos acontece a todos quando a ansiedade toma conta de nós.
Acho mesmo que é um filme obrigatório para adolescentes, mas não para irem ver em bando com os amigos porque, nesse contexto, sabemos que nem olham para o ecrã — o que interessa é a conversa com os amigos e as pipocas. Também não é para irem ver com os pais, porque é inevitável que os pais mandem uma boca do estilo “pelos vistos não és o único que ficou insuportável/malcriado”, o que os porá logo à defesa — parece-me que é um filme ideal para ir ver com uma tia querida!
Quanto aos pais, vão sozinhos, sem filhos, e vão sair dali não só aliviados por saber que o seu adolescente não é o único ser controlado pelas hormonas, como a sentir mais compaixão pelos seus miúdos. E por si próprios.
Boas férias!
Querida Mãe,
Concordo que é um filme perfeito para ir ver com uma tia querida, mas na verdade acho óptimo que também seja visto com os pais. É bom quando todos na mesma casa dão os mesmos nomes às mesmas coisas e, mesmo que haja uma boca ou outra, acho fantástico haver conversas sobre o Divertida-Mente e todas aquelas emoções.
E não se esqueça, a cabeça de uma mãe também lá aparece, com todos os seus exageros e medos o que pode ser verdadeiramente surpreendente para um adolescente que vê sempre os pais como seres desprovidos de sentimentos.
Quanto a não ser para crianças não concordo, acho que é como aqueles bons livros “para crianças” que nós as duas não conseguimos parar de ler. Têm muitas camadas e cada um absorve e se identifica com o que consegue no momento. O meu filho, que não é capaz de dizer uma palavra a pessoas que não conhece e a quem conseguimos ajudar a dar hi-five’s em vez de beijinhos para cumprimentar as pessoas, adorou o facto da emoção da “vergonha” cumprimentar com um hi-five também, enquanto a minha filha de 9 anos identificou-se com a altura em que a Ansiedade só “enviava” cenários maus para a Riley (a heroína) adormecer. Já eu identifiquei-me com a Alegria que rodeada de emoções fortes estava de forma forçada a tentar “puxar tudo para cima”, quando precisava era de chorar e de ser consolada.
Sei que muitas vezes se critica esta geração por estar demasiado concentrada na saúde mental, que parece que inventa patologias e nomes para tudo, mas bendito o dia em que um filme sobre emoções, sobre amizade, família e crescimento se torna no maior êxito de bilheteira da Pixar.
O Birras de Mãe, uma avó/mãe (e também sogra) e uma mãe/filha, logo de quatro filhos, separadas pela quarentena, começaram a escrever-se diariamente, para falar dos medos, irritações, perplexidade, raivas, mal-entendidos, mas também da sensação de perfeita comunhão que — ocasionalmente! — as invade. E, passado o confinamento, perceberam que não queriam perder este canal de comunicação, na esperança de que quem as leia, mãe ou avó, sinta que é de si que falam. As autoras escrevem segundo o Acordo Ortográfico de 1990