Tudo começou com uma conversa casual com uma amiga, onde só conseguiam falar das viagens que queriam fazer de mota. Só que Juliana Rocha, 37 anos, não queria esperar mais. Por isso, agarrou na sua FB Mondial HPS 125 cc, juntou um grupo de amigas e partiu para Marrocos. Começou a ganhar o gosto, mesmo quando percebeu que o mundo das motas tinha pouco espaço para as mulheres. Foi isso que a fez criar a primeira organização de mototurismo só para mulheres do país, a Road For Women.
Juliana sempre foi de aventuras: começou a viajar sozinha aos 19 anos; comprou uma mota aos 33 e quis tomar a estrada. Partiu para a Estrada Nacional 2. A primeira viagem que fez fora de Portugal de mota foi à Alemanha – e deixou tudo documentado no Instagram para “incentivar outras mulheres a andar de mota”.
Foi este o embrião da Road for Women: a página cresceu e em pouco tempo conseguiu organizar a primeira viagem à Serra da Estrela – uma “espécie de viagem piloto” – com quatro mulheres. “Atrás de uns sonhos vêm outros”, diz, em entrevista com o P3.
Ao todo, fez quatro viagens enquanto líder da Road For Women: Serra da Estrela e Aldeias Históricas, Estrada Nacional 2, Marrocos e Sardenha. Quer repetir essas rotas, mas também quer acrescentar outras – Normandia e Escócia estão nos planos.
Os próximos meses já estão organizados. Em Agosto, vai voltar à Nacional 2 e, no mês seguinte, à Serra da Estrela. Em Outubro, regressa a Marrocos com um grupo de sete mulheres. Em Novembro, está previsto uma passagem pelas Vinhas do Douro durante três dias. E para o próximo ano, já está a reunir inscrições para viajar para os Picos da Europa. Para participar é só mandar mensagem no Instagram, WhatsApp ou Facebook.
Os pacotes de cada viagem incluem o acesso aos pontos turísticos das cidades por onde passam, a estadia (normalmente em regime de meia pensão), refeições e merchandising personalizado.
“Há gente que diz que não tem mota para fazer uma viagem destas. Qualquer mota faz este tipo de viagem. Há a questão do ritmo e da velocidade, mas isso adapta-se”, afirma.
Uma rede de mulheres
Há outras agências de mototurismo em Portugal, “mas nenhuma é direccionada ao público feminino, que tem exigências diferentes, tempos diferentes e mais necessidade de ganhar confiança”, acredita. “Sempre se disse que o mundo das motas é um mundo de homens, mas não é bem verdade. As mulheres precisam de incentivo e de alguém que lhes diga que também são capazes.”
Nos grupos compostos por homens e mulheres, é comum vê-las a assumir o lugar do “pendura” — mas Juliana quer que ganhem confiança “para poderem viajar com os seus maridos, tios, primos, filhos, mas na sua própria mota”.
O objectivo das viagens que organiza é também o de construir uma rede – quer que todas se conheçam no fim da viagem. Por isso, não trabalha com grupos grandes, o limite é de sete mulheres: “Não me interessa ter muitas inscrições, se depois as pessoas chegarem ao fim da viagem e não se conhecerem umas às outras, não trocarem experiências e nem se ajudarem umas às outras”.
Afinal, só assim é que “descobrem um lugar onde podem ser elas, onde podem viajar de mota sem ter alguém a tentar corrigi-las constantemente ou sem se sentirem constrangidas”.
Parece ter funcionado. Na primeira viagem ninguém se conhecia. Agora, todas são amigas e até já repetem viagens: “Uma delas já me diz para criar um cartão de fidelização que ao fim de dez viagens ofereça uma grátis”, brinca.
Texto editado por Inês Chaíça