Esqueletos em Pompeia mostram que pelo menos um sismo intensificou catástrofe
Novo estudo vem confirmar que a cidade foi também abalada por terramotos. Ferimentos evidentes nos restos mortais de dois homens têm semelhanças com os das vítimas do desmoronamento de edifícios.
Pompeia, a antiga cidade romana soterrada no ano de 79 pela erupção do Vesúvio e redescoberta no século XVIII, tem sido matéria de estudo para arqueólogos e vulcanólogos ao longo de séculos. É precisamente um novo estudo que vem agora revelar que a cidade foi também abalada por terramotos, acrescentando um novo capítulo de terror à erupção do Vesúvio.
No ano passado, as equipas de investigadores a trabalhar no Parque Arqueológico de Pompeia descobriram dois esqueletos masculinos repletos de fracturas ósseas, prova de que, durante um breve intervalo da erupção, um forte sismo terá derrubado edifícios e esmagou pessoas dentro das suas casas.
Os cientistas passaram meses a reconstituir a história destas vítimas, dois homens que teriam mais de 55 anos e cujos ferimentos apresentavam uma estranha semelhança com as vítimas actuais de desmoronamento de edifícios quando ocorre um terramoto. Com base em conhecimentos de vulcanologia, antropologia e sismologia, os investigadores concluem na revista Frontiers in Earth Science que os homens sobreviveram provavelmente à primeira fase da erupção e estavam abrigados numa casa quando uma parede caiu sobre eles, derrubada por um forte sismo.
O estudo recorreu aos conhecimentos de cientistas de várias áreas e o vulcanólogo da Universidade de Florença Raffaello Cioni, apesar de não ter participado na investigação, considerou a análise "francamente exacta e convincente".
Um relato histórico da erupção feito por Plínio, o Jovem, descreve tremores que abalaram o solo antes e durante a erupção, mas identificar, sem margem para dúvidas, o que se deve a um terramoto tem sido uma tarefa complexa dada a sobreposição de vários fenómenos da natureza na destruição de Pompeia.
"Esta é uma tarefa muito complexa, reconhecer os efeitos do terramoto durante uma erupção, porque ambos os fenómenos podem ocorrer em sucessão ou em simultâneo", disse Domenico Sparice, vulcanólogo do Observatório do Vesúvio, em Nápoles, que liderou o trabalho. "É como um puzzle em que todas as peças têm de encaixar."
A erupção do Monte Vesúvio desenrolou-se por fases, com início ao fim da manhã. Por volta das 13 horas, o vulcão começou a expelir gás, cinzas e rochas numa coluna de erupção que se estendia a quase 30 quilómetros de altura criando um manto de pedras que soterrou a cidade e derrubou telhados, desencadeando uma primeira vaga de morte. Os que sobreviveram a esta primeira fase terão tentado escapar a pé, caminhando sobre a camada de pedras, usando ramos como bengalas. Mas um fluxo piroclástico abrasador — uma corrente rápida e intensa de cinzas, gás e fragmentos de rocha — matou os sobreviventes, provavelmente sufocando-os.
Plínio, o Jovem, viveu a erupção quando era adolescente em Misenum, cerca de 30 quilómetros a oeste do Vesúvio, e descreveu os sismos na noite seguinte ao início da erupção como "tão intensos que tudo parecia não só ser abalado, mas também revirado". Registou também um terramoto ao nascer do dia, que fez tremer de tal forma o solo que as carruagens que tinham sido presas com pedras saíram do lugar.
Mas os cientistas ainda não tinham descoberto provas directas de terramotos até encontrarem paredes que abriram rachas e desabaram de uma forma que não podia ser explicada por uma erupção vulcânica. Depois, encontraram os esqueletos. O corpo do primeiro indivíduo estava cheio de fracturas nas costelas, no crânio e na pélvis. As pernas do segundo indivíduo estavam escondidas por um fragmento de parede, mas ele também estava encolhido sobre o lado esquerdo com uma mão na cabeça. Os cientistas pensam que ele poderia estar a tentar proteger-se.
A nova descoberta acrescenta pormenores ao horror que se desenrolou no início da manhã do segundo dia da erupção, depois de a maior parte do magma ter entrado em erupção. Formou-se uma caldeira quando parte do vulcão ruiu, causando uma segunda fase perigosa da erupção e um terramoto, disse Cioni. As novas provas levantam a possibilidade de os terramotos poderem ter contribuído para o perigo, uma vez que o abalo do solo provocou tensão nos telhados carregados de pedras.
Gianni Gallello, um distinto investigador da Universidade de Valência, especializado na utilização da química para compreender o passado antigo, disse que o estudo introduz uma variável intrigante nos perigos desse dia em Pompeia, que contribuirá para o complexo puzzle da reconstrução deste trágico acontecimento. Mas, segundo ele, continua a ser uma incógnita se estes homens morreram devido ao desabamento da parede ou se foram enterrados depois de terem morrido por outra causa.
"Na ciência, nunca há um fim. Estamos sempre a melhorar e a acrescentar novas informações", disse Gallello. "Esta é a história sem fim."
Exclusivo PÚBLICO/The Washington Post