Separar a Alice do país das maravilhas

A proscrição de separar a arte do artista parte de um impulso punitivo, tentando atingir a única coisa (no caso de artistas mortos) que ainda pode ser atingida: a reputação póstuma.

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Há um conto de Alice Munro chamado The Office que começa com uma mulher a pousar o ferro de engomar e a anunciar ao marido que encontrou uma “solução” para a sua vida: “Acho que vou arranjar um escritório”. O conto é curto, cómico, e mantém um diálogo explícito com o ensaio mais célebre de Virginia Woolf, procurando dramatizar na prática as suas sugestões teóricas. É um tema ao qual Munro regressou repetidamente: as escolhas que uma mulher escritora tem de fazer para conciliar o “quarto só seu” com as exigências de uma vida doméstica feita de interrupções e inconveniências. A sua carreira começou com uma dessas escolhas. Aos 21 anos, depois de perder uma bolsa universitária, decidiu casar com o primeiro namorado por motivos que mais tarde reconheceu serem candidamente económicos: a segurança financeira permitiu-lhe escrever, e evitar a alternativa, que era regressar a casa e cuidar da mãe doente.

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