A morte de um ente querido é, sem dúvida, uma das experiências mais devastadoras e desafiadoras que podemos enfrentar. No entanto, o luto que se segue a essa perda nem sempre é respeitado de forma igual. A dor de perder um animal de companhia pode ser tão profunda que pode levar a graves consequências ao nível da saúde, incluindo sintomas depressivos, maior solidão e perturbações do sono. Além disso, estudos anteriores mostram que as pessoas diagnosticadas com perturbação de luto prolongado (PLP) ou que apresentam sintomas graves de luto são frequentemente vítimas de estigma, o que pode afectar negativamente a sua saúde e o seu bem-estar.
O nosso estudo recente revela isso mesmo. Ou seja, as pessoas com sintomas de luto prolongado após a perda de um animal de estimação são mais propensas a enfrentar estigmatização pública. Além disso, conclui-se também que a perda de um animal de companhia é frequentemente desvalorizada em comparação à perda de um parceiro, um filho ou outro familiar.
Esta desvalorização acaba por ter consequências prejudiciais. Se por um lado a sociedade tende a oferecer menos apoio social às pessoas que estão de luto após a perda de um animal de companhia, deixando-as possivelmente sem ajuda num momento de necessidade, por outro, o estigma público pode levar a um auto-estigma que pode inibir a procura de ajuda e contribuir para problemas de saúde mental e física a longo prazo.
Recentemente, Portugal reviu o diploma sobre a licença de luto parental, permitindo agora 20 dias consecutivos de ausência do trabalho após a perda de um filho. Contudo, a lei ainda não inclui as pessoas que têm animais de estimação. No entanto, há sinais de mudança, por exemplo, algumas empresas já começaram a oferecer licença de luto aos colaboradores que perdem um animal de companhia, o que pode prenunciar alterações legais mais inclusivas no futuro.
Em suma, é crucial que a sociedade reconheça e valide o luto pela perda de um animal de companhia como uma razão legítima de luto. Estes seres, muitas vezes vistos como membros da família, proporcionam amor e companheirismo incondicionais. Desvalorizar essa perda é desvalorizar as profundas conexões emocionais que nos tornam humanos. É hora de uma mudança cultural que reconheça todas as formas de luto com a empatia e o respeito que merecem.