Macron pede a Attal que permaneça na chefia do Governo e assegure “a estabilidade”
Nova Frente Popular francesa vai propor candidato a primeiro-ministro até ao final da semana. E defende que Macron deve admitir a derrota.
Conhecidos os resultados oficiais das eleições parlamentares em França, depois de uma noite que foi de explosão de alegria de uns e de um misto de desilusão e incredulidade para outros, o primeiro-ministro, Gabriel Attal, apresentou nesta segunda-feira a sua demissão a Emmanuel Macron. Como esperado, o Presidente pediu-lhe que ficasse no cargo, “de momento”, para “assegurar a estabilidade do país”, e vai agora permanecer em silêncio, preparando-se para viajar na terça-feira para Washington, onde vai participar na cimeira da NATO.
Macron, anunciou o Palácio do Eliseu, tomará as “decisões necessárias” quando a nova Assembleia Nacional estiver estruturada”. Marine Tondelier, líder dos Verdes, defendeu que o Presidente “deve pedir oficialmente hoje à [coligação de esquerda] Nova Frente [Popular, NFP] que lhe indique um nome para primeiro-ministro”, lembrando que “essa é a lógica institucional”: "Será que ele o vai fazer? Será que não? Como este Presidente é sempre cheio de surpresas, veremos, mas essa é a lógica institucional", disse, entrevistada pela televisão RTL.
Depois de “um resultado que muitos diziam impossível”, como afirmou ainda no domingo à noite Jean-Luc Mélenchon, líder da França Insubmissa, principal partido da NFP, os dirigentes das várias forças que constituem esta aliança têm-se desdobrado em declarações. Com 182 deputados eleitos, a coligação formada depois de Macron ter dissolvido a Assembleia surge como "única alternativa credível", sublinhou Olivier Faure, líder do Partido Socialista, ouvido pela rádio pública France Info. O seu objectivo, afirmou, é que a NFP consiga “propor uma candidatura” entre o meio e fim desta semana.
Os resultados da segunda volta mostram “uma clara rejeição do campo presidencial”, disse ainda Faure, pedindo ao chefe de Estado que "reconheça" a sua derrota. "Foi por termos apelado a uma frente republicana na segunda volta e ao sacrifício dos nossos candidatos" que a União Nacional [RN] não teve maioria”, afirmou, sem deixar de lembrar que nem todos os deputados apoiados por Macron desistiram das suas candidaturas nos círculos em que estavam em terceiro lugar e onde o seu abandono ajudaria a evitar a vitória da direita radical e extrema de Marine le Pen e de Jordan Bardella.
De acordo com os resultados finais, o Juntos, formado pelo campo presidencial, obteve 168 lugares na Assembleia de 577 deputados. Em terceiro lugar, surge a União Nacional e os seus aliados (a facção d’Os Republicanos que manifestou o seu apoio ao partido), com 143 eleitos, muito menos do que era estimado por todas as sondagens, que previam a vitória do partido (que tinha sido o mais votado na primeira volta). Os Republicanos somam 46 e, entre os restantes, há 14 deputados de direita e 13 de esquerda.
“Os franceses cumpriram o prometido, por isso não vamos passar meses e meses num estado de instabilidade”, disse Tondelier, questionada sobre o tempo que levará a NFP a decidir o nome de um candidato. Apesar de admitir que nomear um primeiro-ministro "não vai ser fácil", a ecologista também defende que isso terá de acontecer em poucos dias: “O melhor método é o consenso, encontrando colectivamente soluções inteligentes.”
Depois de duas reuniões ainda no domingo à noite, os dirigentes da NFP voltarão a reunir-se nesta segunda-feira.
Como já afirmara antes da segunda volta, Tondelier sublinhou que "um bom primeiro-ministro deve apaziguar o país”, pelo que “não vai ser Mélenchon”, mas não é por isso que França Insubmissa não será “essencial” para formar uma maioria na Assembleia Nacional. "Aqueles que nos dizem que vão formar uma maioria sem o LFI [FI] não tiveram os mesmos professores de Matemática que eu”, disse. “Não vejo como é que isso é possível.”
Para Tondelier, o candidato ou candidata pode ser alguém da FI, do Partido Socialista, do Partido Comunista ou dos Verdes. “Pode até ser alguém que vá para além de tudo isso”, acrescentou, não excluindo a hipótese de uma figura da sociedade civil.
Faure não foi tão directo, mas disse que é preciso ter em conta a “realidade” de uma maioria relativa, a enorme distância dos 289 deputados que seriam necessários para a coligação controlar a Assembleia Nacional. “Carrego com toda a energia da esperança o que propusemos aos franceses, mas o realismo é essencial, seremos obrigados a discutir as coisas”, notou, afirmando esperar que o Parlamento possa "voltar a ser o coração da democracia".