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"Parece o Armagedão". Furacão Beryl já matou 10 pessoas e dirige-se para o México
Um furacão com ventos superiores a 200 quilómetros por hora deixou um rasto de destruição nas Caraíbas e está a caminho do México. Depois da morte de 10 pessoas provocada pelo Beryl, os mexicanos preparam-se para o pior — e também aproveitam a calma antes da tempestade.
O furacão Beryl atingiu a Jamaica com ventos fortes e chuva na quarta-feira, matando pelo menos uma pessoa no país e deixando um rasto de destruição. Dirige-se agora para o México, onde a população se está a preparar para um desastre iminente, tapando portas e janelas com placas e sacos de areia para evitar que se danifiquem com a passagem da tempestade, que está a 800 quilómetros de Tulum com ventos na ordem dos 205 quilómetros por hora.
São agora 10 as vítimas mortais deste furacão. Uma mulher morreu em Hanover, na Jamaica, depois de uma árvore ter caído sobre a sua casa, disse Richard Thompson, director-geral interino da agência de catástrofes da Jamaica, numa entrevista ao noticiário local. Cerca de mil jamaicanos estavam em abrigos na noite de quarta-feira, acrescentou Thompson.
Entre as outras vítimas mortais confirmadas até agora contam-se pelo menos três em São Vicente e Granadinas, disse um alto funcionário à Reuters, onde a ilha União sofreu uma destruição grave de mais de 90% dos edifícios.
Em Granada, o primeiro-ministro Dickon Mitchell descreveu condições "parecidas às do Armagedão", sem energia eléctrica e com destruição generalizada, confirmando também três mortes. Na Venezuela, onde 8000 casas ficaram danificadas pelas chuvas torrenciais, incluindo pelo menos 400 destruídas, o Presidente Nicolas Maduro disse à televisão estatal que três pessoas morreram e quatro estão desaparecidas na região.
Este número pode aumentar ainda mais à medida que as comunicações voltam a funcionar nas ilhas danificadas pelas inundações e ventos mortais. Os cortes de electricidade foram generalizados em toda a Jamaica, enquanto algumas estradas perto da costa ficaram inundadas. As ilhas mais pequenas das Caraíbas ficaram inundadas e sob entulho nos últimos dias.
A vice-presidente venezuelana, Delcy Rodriguez, ficou ferida pela queda de uma árvore na terça-feira, quando inspeccionava uma área a sul de Beryl, onde as chuvas intensas fizeram com que o rio Manzanares, no estado de Sucre, rebentasse as suas margens, confirmou o presidente.
"É um desastre"
Na Jamaica, o olho do furacão contornou a costa sul da ilha, atingindo as comunidades à medida que os grupos de emergência se apressavam a retirar as pessoas das zonas propensas a inundações. "É terrível. Foi-se tudo. Estou em casa e assustado", disse Amoy Wellington, um funcionário de supermercado de 51 anos que vive em Top Hill, uma comunidade agrícola rural de St. Elizabeth: "É um desastre."
Os principais aeroportos da ilha foram encerrados e as ruas ficaram praticamente vazias, depois de o primeiro-ministro Andrew Holness ter decretado o recolher obrigatório em todo o país na quarta-feira. "Podemos fazer tudo o que for humanamente possível e deixamos o resto nas mãos de Deus", disse Holness na quarta-feira, apelando à evacuação dos residentes em zonas vulneráveis.
Países nas Caraíbas com risco de escassez de alimentos
Ralph Gonsalves, primeiro-ministro de São Vicente e Granadinas, uma das zonas mais atingidas no leste das Caraíbas, disse numa entrevista radiofónica que a ilha Union do país foi "arrasada" pelo Beryl: "Toda a gente está sem casa... Vai ser um esforço hercúleo para a reconstrução."
Em declarações aos meios de comunicação social estatais, Nerissa Gittens-McMillan, secretária permanente do ministério da Agricultura de São Vicente e Granadinas, alertou para a possibilidade de escassez de alimentos após a perda de 50% das colheitas de banana do país, com perdas significativas também nas culturas de raízes e nos produtos hortícolas.
A força dos ventos deve enfraquecer um pouco nas próximas horas, de acordo com o NHC, embora a agência meteorológica tenha advertido que o Beryl permaneceria com força de furacão ou próximo a ela ao passar pelas Ilhas Caimão. Prevê-se que o Beryl liberte 10 a 15 centímetros de chuva nas Ilhas Caimão durante a noite e na quinta-feira. Grandes ondulações deverão "provocar correntes de arrasto que põem em risco a vida das pessoas", declarou o NHC.
O centro acrescentou que um aviso de furacão estava em vigor para a Jamaica, as Ilhas Caimão, bem como para a costa leste da península mexicana de Yucatán, incluindo a principal estância balnear do país, Cancún.
Um furacão precoce
A perda de vidas e os danos provocados pelo Beryl evidenciam as consequências de um oceano Atlântico mais quente, que os cientistas citam como um sinal revelador das alterações climáticas causadas pelo homem e que estão a provocar condições meteorológicas extremas diferentes das registadas no passado.
O furacão, invulgarmente precoce, fortaleceu-se a um ritmo recorde, o que, segundo os cientistas, é quase certamente alimentado pelas alterações climáticas. O Beryl é o primeiro furacão da temporada atlântica de 2024 e a primeira tempestade registada a atingir a categoria mais elevada da escala de cinco níveis Saffir-Simpson. A Administração Nacional Oceânica e Atmosférica dos EUA (NOAA, na sigla em inglês) previu um grande número de grandes furacões numa temporada "extraordinária" este ano.