Os países do sul da Europa têm alguns dos melhores valores de esperança média de vida do mundo — surgem lado a lado com as economias mais desenvolvidas, que contam com mais recursos para investir nos cuidados de saúde. O que corre bem em países como o nosso, que mesmo com tantos desafios pela frente, estimam ver a esperança média de vida crescer nos próximos anos?
Há muitas explicações. Um artigo recente no The Economist sugere que a explicação vai além da dieta mediterrânica, com os seus ingredientes sazonais, o consumo de peixe e o uso do azeite. É preciso olhar mais longe. Vida activa? As cidades onde é mais agradável caminhar puxam as pessoas para a rua. Hábitos de socialização? Estar numa Plaza Mayor espanhola ou no aperitivo em Itália, ao fim da tarde, é viver o espaço público e, de certa forma, fazer cidade.
Nas ruas e nas praças dos centros urbanos, tantas vezes com vários séculos de história, pessoas de todas idades encontram-se para conviver. Avós e netos, amigos de infância, colegas de trabalho, estudantes e turistas enchem as esplanadas. O que chama as pessoas à rua quando é tão mais fácil ficar em casa com os filmes do streaming e as entregas de comida à porta?
Os laços familiares ou a rede de amigos mais próxima. A sensação de segurança, estando Portugal entre os países mais pacíficos do mundo. Mas há um aspecto que tem de estar presente para manter o hábito de sair de casa: gostar de ir à rua.
Há melhor sensação do que gostar da cidade onde se vive? Todos os dias acordar e atravessar espaços que trazem uma sensação de pertença? O impacto nas emoções e no bem-estar é imenso. Em Portugal, felizmente, não faltam cidades e vilas que se orgulham das suas ruas, das praças e dos largos, e onde apetece permanecer. A lista seria imensa e incompleta: Viana do Castelo, Braga, Guimarães, Aveiro, Viseu e Évora, não faltam exemplos de cidades inconfundíveis que não pararam no tempo e acolhem vida de rua.
Cidades assim não se fazem num só dia, mas, se são agradáveis, devem-no também às pessoas que as desenharam, aos construtores de lugares únicos — do Bom Jesus de Braga ao bairro eborense da Malagueira. E também o devem aos arquitectos que as prepararam para o futuro, no arranjo de ruas pedonais ou na reabilitação do património.
Manter as cidades vivas é uma tarefa para todos, sem excepção. Mas o papel do desenho e da arquitectura merece ser lembrado, porque a qualidade do espaço urbano não se mede só em números. Não é agradável a cidade que tem os prédios mais altos ou as ruas mais largas, mas sim a cidade onde todos, peões, bicicletas, eléctricos e até automóveis coexistem em harmonia, em espaços com escala humana, que humanizam quem nelas vive, estuda, trabalha e descansa.
As cidades bem desenhadas raramente se fazem numa só campanha de obras, nem são obras de um só arquitecto. Mas o contributo da arquitectura é inestimável, porque só na mediação dos vários interesses e das várias formas de estar se conseguem espaços onde todos são acolhidos, onde a partilha e a troca de ideias flui sem barreiras, sem ruído de fundo.
No dia 3 de Julho, celebramos o Dia Nacional do Arquitecto. É uma oportunidade para lembrar que, com mais e melhor arquitectura, gostamos mais das nossas cidades, somos mais felizes e vivemos mais tempo.